"Nenhum aprendizado é de valor quando se rouba alegria", de autor desconhecido, esta é a frase citada pela coordenadora do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP), Joana Darc Meirelles, ao explicar o trabalho desenvolvido diariamente no local. Situado no bairro São José, o instituto é mantido pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Educação (Semed), e atualmente atende a 116 alunos provenientes da capital e dos demais municípios sergipanos.
Visando a educação de pessoas cegas e de baixa visão, o CAP oferta matrículas abertas durante todo um o letivo. O ensino é realizado de forma individual e por professores formados no Atendimento Educacional Especializado (AEE). As atividades são divididas entre estimulação precoce, para crianças até três anos de idade, trabalhando a parte cognitiva, de estímulo e de direcionamento.
Após esse período, é trabalhado o pré-braille, em que há a utilização da régua e, em seguida, há a fase do braille, com o uso do reglete. Concomitante às aulas, os alunos também estudam informática e soroban, instrumento de cálculo japonês, e aprendem a usar a tecnologia assistiva. Além disso, o CAP conta com um grupo de leitura, com uma média de 20 alunos, que se reúnem uma vez por semana.
"É mais fácil trabalhar com as pessoas que já nascem cegas do que com alguém que perdeu a visão depois de um tempo, por uma doença ou acidente. Eles vão conhecer, por exemplo, como pegar na colher, melhorar o caminhar. Mas e quando você enxergava e já sabia fazer tudo isso? Comer, caminhar, se vestir, ler, escrever... Como aprender? Isso causa uma baixa autoestima muito grande e é muito difícil se readaptar. Nossas atividades e grupo também são necessários para restabelecer este contato", afirma Joana.
Hoje, o CAP conta com seis professores, merendeira, profissionais da limpeza e da administração. Joana também ressalta o quanto o acolhimento e a troca de experiências são fundamentais para todos que estão no local. "Digo sempre que há uma Joana antes e outra depois daqui. Passamos a valorizar mais a vida e parar de falar que estamos cheios de problemas. Você acaba se envolvendo muito na vida de cada um, e isso acaba nos fazendo crescer. Respeitamos o momento de dor, conversamos e propiciamos momentos que tragam alegria, através de um ambiente positivo, que faça com que o aluno tenha vontade de estar ali", expressa.
Professor de Informática do local, Robson Guidice, entrou no CAP ainda como aluno em 2004 e após três anos começou a trabalhar no local como professor. Para ele, quando aluno, a instituição mudou a perspectiva sobre sua própria identidade em relação ao futuro e ao presente, e restaurou a confiança em novas possibilidades; já como professor, oportunizou todo o projeto que havia gestado em si no início.
"A sua identidade como pessoa, quando se passa pelo processo da perda de visão, muda. A minha experiência havia me levado para uma sensação de redução humana. Eu me sentia menor. E com o trabalho que é realizado aqui no Centro de Apoio, com o apoio do braille e de outras ferramentas, você resgata a sua identidade, como ocorreu comigo. Entendi que, apesar da minha limitação visual, poderia retomar a vida de forma diferente, em busca da minha completude, e tornar concreto meus planejamentos", explana Robson.