A Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema), tem intensificado as pesquisas e os estudos que valorizam e resgatam o uso consciente dos manguezais urbanos. Os manguezais são mais do que uma paisagem típica do litoral sergipano — são ecossistemas vitais para o equilíbrio ambiental da capital. Esses ambientes, ricos em biodiversidade atuam como berçários naturais da vida marinha, protegem o litoral contra a erosão e ainda contribuem para o controle da emissão de gases do efeito estufa.
Em um marco inédito para o município, a Sema está em processo de criação do primeiro Protocolo Municipal de Propagação Vegetativa de Manguezais, desenvolvido por técnicos da secretaria em parceria com pesquisadores locais. A técnica, que utiliza partes da própria planta para gerar novos indivíduos, tem gerado resultados promissores para a recuperação de áreas, observando a agilidade, o baixo custo e o respeito à genética local e à biodiversidade existente. Segundo a secretária municipal do Meio Ambiente, Emília Golzio, a Sema vem trabalhando ativamente para reflorestar áreas de manguezais degradadas.
“Uma das ações centrais é a produção de mudas nativas de mangue, coletadas de forma responsável nos próprios manguezais aracajuanos. A meta é restaurar os ecossistemas costeiros com espécies adaptadas à nossa realidade, fortalecendo o equilíbrio ambiental, aumentando a captura de carbono e promovendo a participação da população no cuidado com esse patrimônio natural. Reflorestar mangue é cuidar da vida, da cidade e do futuro”, ressaltou a secretária.
Três tipos de mangue são encontrados em Aracaju: o mangue-vermelho, o mangue-preto e o mangue-branco. O que os diferencia? Cada um desempenha um papel essencial na dinâmica costeira. O mangue-vermelho, com suas raízes-escora visíveis, é o mais próximo da água e eficiente na retenção de sedimentos. O mangue-preto tem raízes respiratórias e tolera altos níveis de salinidade. Já o mangue-branco costuma ocupar áreas de transição entre o mangue e outros ecossistemas. “A diversidade desses tipos de mangue sustenta um habitat que abriga desde caranguejos, peixes e moluscos até aves e répteis, funcionando como uma teia de vida fundamental para a economia pesqueira local e a segurança alimentar de comunidades ribeirinhas”, explicou José Marques, coordenador do Horto Municipal.
Trabalho nas áreas de proteção
Além do reflorestamento, a atuação da Sema se intensifica nas Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Unidades de Conservação (UCs) que abrangem manguezais, como o Parque Natural do Rio Poxim e a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Lamarão.
Como explica Syslayne Costa, que compõe a equipe técnica da Sema, todo manguezal é, por definição, uma Área de Preservação Permanente (APP), conforme previsto pelo Código Florestal Brasileiro. Quando uma Unidade de Conservação é criada sobrepondo uma APP, estabelece-se uma dupla proteção legal. Isso ocorre porque, além das normas do Código Florestal, passam a valer também as diretrizes da Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), que confere uma camada ainda mais robusta de proteção. “As UCs trazem regras de uso mais rigorosas e contam com um aparato de gestão e fiscalização mais eficiente. O SNUC exige, por exemplo, que cada UC elabore um plano de manejo em até cinco anos após sua criação”, complementa.
As Unidades de Conservação são divididas em dois grandes grupos: as de Proteção Integral — como o Parque Natural Municipal do Rio Poxim —, cujo objetivo é preservar a natureza com mínima intervenção humana, e as de Uso Sustentável — como a ARIE do Lamarão —, que buscam conciliar a conservação com o uso responsável dos recursos naturais pelas comunidades tradicionais. “Na proteção integral, há proibição de atividades como pesca, caça e coleta. Já nas de uso sustentável, é possível que comunidades continuem exercendo práticas tradicionais, desde que respeitem os princípios da conservação ambiental”, conclui.
Além da dupla proteção promovida pela criação das unidades de conservação sobre ecossistemas de manguezal, essas áreas também funcionam como ferramentas fundamentais no enfrentamento às mudanças climáticas. “Dentro das UCs, são desenvolvidos projetos de recuperação de áreas degradadas e pesquisas científicas que aumentam a resiliência dos manguezais. O arcabouço legal, somado ao monitoramento, aos conselhos gestores e às ações de fiscalização, assegura a manutenção do papel dos manguezais como barreiras naturais contra inundações, elevação do nível do mar, erosão costeira e tempestades. Para cidades costeiras como Aracaju, isso significa uma proteção direta à população”, destaca Syslayne.
Outro aspecto relevante é o papel dos manguezais na redução do aquecimento global. “Esses ecossistemas atuam como grandes sequestradores de carbono, acumulando CO₂ tanto na biomassa quanto no solo. Portanto, além de contribuírem para a adaptação às mudanças climáticas, os manguezais ajudam a reduzir sua causa. As unidades de conservação, nesse contexto, tornam-se instrumentos estratégicos para restaurar áreas degradadas, proteger a biodiversidade, promover educação ambiental e reduzir a vulnerabilidade socioambiental”, completa.
Preservar esses ecossistemas é, portanto, uma estratégia de desenvolvimento sustentável que alia ciência, educação ambiental e engajamento comunitário. “O manguezal permite uma interação rica com a fauna, com a água e até conosco, seres humanos. Por isso, ele é de extrema importância para todos nós”, ressaltou o coordenador da Educação Ambiental, Albert Rocha.