O ‘Projeto Curumim: construindo uma Educação Antirracista’ visa combater o racismo e ensinar sobre diversidade com foco multicultural, estimulando o autoconhecimento sobre etnia e o respeito ao próximo ainda na primeira infância – fase que vai de 0 a 6 anos. Executado pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria da Educação de Aracaju (Semed), o projeto foi idealizado pela Coordenadoria de Políticas Educacionais para a Diversidade e é desenvolvido nas escolas municipais Monsenhor João Moreira Lima e José Airton de Andrade. Diante da relevância da temática e do bom desempenho, a meta é levá-lo para mais escolas no ano letivo de 2026.
Desde o início do ano, os resultados positivos começaram a ser evidenciados, não só no que diz respeito ao aprendizado e desenvolvimento das crianças, como também através de reconhecimentos oficiais pelo trabalho exitoso. Recentemente, a Prefeitura de Aracaju foi homenageada pelo Governo do Estado com a entrega do ‘Troféu Ser Criança’ pela realização do Projeto Curumim nas escolas da rede pública da capital. O troféu foi recebido em solenidade pela técnica de referência em Letramento Racial da Semed e coordenadora do projeto, Valdinete Paes. Uma honraria comemorada pelos que fazem a Educação de Aracaju, uma vez que a iniciativa estadual reconhece e valoriza as melhores experiências municipais sergipanas voltadas ao desenvolvimento integral da primeira infância.
Os professores das unidades de ensino destacam os efeitos satisfatórios nas crianças das creches e pré-escola com a difusão conteúdos de natureza antirracista. A coordenadora pedagógica da Escola Monsenhor João Moreira Lima, Clariane dos Santos, por exemplo, explica que o projeto atua na desconstrução de preconceitos que podem surgir na infância e perdurar na vida adulta. “As crianças aprenderam a valorizar as diferenças e a entender que o respeito ao próximo deve existir, independentemente da cor da pele ou da origem étnica. O projeto tem trabalhado a educação antirracista com as crianças na escola de forma bem abrangente, proporcionando a elevação da autoestima de muitas crianças negras, e expandindo no seio familiar. Eu fico muito feliz e honrada por fazer parte desse projeto”, ressalta.
Na Monsenhor João Moreira Lima, as abordagens pedagógicas variam de acordo com a idade dos alunos. A professora responsável pelas crianças de 3 anos da creche, Roberta Bernardo, afirma que para adaptar o conteúdo antirracista com elas, precisou iniciar pelo processo de autoconhecimento de suas próprias etnias, trabalhando principalmente com a autoestima delas, por meio da narração de histórias e atividades lúdicas. “Foi um projeto extraordinário que desenvolvemos junto com as crianças e fez com que elas despertassem o que estava sendo preso por eles mesmos. Por exemplo, não gostarem de soltar o cabelo e dizer que o tom de pele deles não era uma cor que agradava. Então, eles se descobriram com as atividades”, afirmou a educadora.
Já a professora Nucilia Rocha, que trabalha com as crianças de 6 anos na unidade de ensino, conta que nessa faixa etária e com base no aprendizado que já alcançaram, é possível trabalhar a fundo o contexto histórico da formação étnico-racial do país, por meio de exposição audiovisual de conteúdos que tratam sobre o assunto, apresentações teatrais e atividades como capoeira, confecção de bonecas Abayomi, narração da história dos Lambe-sujos e Caboclinhos, entre outros métodos pedagógicos possíveis para aplicar o tema.
“Eles aprenderam e entenderam de onde vem a força do povo negro, da raiz africana, que nós temos sim que lutar pela igualdade de direitos. Aprenderam que não somos melhores nem piores do que ninguém, somos todos iguais e temos que respeitar isso”, enfatiza a professora Nucilia Rocha, destacando uma atividade elaborada que foi essencial nesse sentido: uma apresentação teatral dos alunos sobre a história da princesa Zacimba Gaba, uma líder quilombola do Espírito Santo responsável por impedir que navios negreiros chegassem naquele estado.
A Escola Municipal José Airton de Andrade, que já possui no cronograma de ações o projeto O que é que o negro tem?, também aderiu à proposta do Curumim, trabalhando atividades com as crianças que exploram as ervas de origem indígena, conhecimentos da terra, apresentação do Toré, ritual típico indígena que simboliza união e resistência, entre outras. “Os alunos ficam eufóricos. Hoje, é totalmente diferente. Estamos desconstruindo a ideais de uma conjuntura”, declara a diretora da Escola José Airton, Vilma Lima.
Além das creches e pré-escola, por solicitação dos professores e equipes diretivas, a coordenação do Projeto Curumim também objetiva implementá-lo nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. Em breve, serão realizadas oficinas de capacitação com os docentes da rede municipal de ensino para aplicarem o conteúdo com seus alunos, de acordo com cada faixa etária.