´O direito de aprender mudando trajetórias de vida´. Este é o tema da palestra principal da Aula Inaugural 2008 da Rede Pública Municipal de Ensino, iniciada há poucas horas, no Teatro Tiradentes, localizado no Centro da capital. O palestrante é o jornalista da Rede Globo Brasília, Marcelo Paqualoto Canellas, 42, um gaúcho de Santa Maria/Rio Grande do Sul, que se destacou e ainda se destaca na profissão por conta do trabalho com grande foco para o lado social.
Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), Marcelo Canellas é detentor de diversos prêmios por conta do seu jornalismo que mostra a realidade de um Brasil multi-étnico, multi-cultural e com inúmeras diferenças sociais, e que sabe que a educação é ainda, o principal meio de melhoria da qualidade de vida. Foi com Marcelo Canellas que a Agência Aracaju de Notícias (AAN) bateu um papo antes do início da palestra.
Por Andréa MouraAAN - Em quais locais você trabalhou ou trabalha atualmente?
Marcelo Canellas - Comecei trabalhando em jornal impresso na minha cidade (Santa Maria - RS), mas logo fui para a televisão. Trabalhei na RBS TV Santa Maria (RS) e na EPTV (Ribeirão Preto - SP). Em 1990 fui contratado como repórter especial da TV Globo, função que exerço até hoje, sempre alternando temporadas no Rio de Janeiro e em Brasília, onde resido atualmente.
AAN - Há quanto tempo atua na área do jornalismo social? Qual o setor (dentro do social) a que mais se destina (saúde, educação, moradia) e por quê?
MC - Desde o começo de minha carreira preferi tratar de temas ligados aos direitos sociais, aos direitos humanos e à cidadania. Eu me preocupo com isso porque não posso separar o cidadão do jornalista. Como dizia Cláudio Abramo, grande jornalista brasileiro falecido em 1987, o jornalista e o cidadão devem ter uma ética só. Não existe ética dupla. O que me incomoda como cidadão deve me incomodar também como jornalista. Num país injusto e desigual como o nosso é mais do que natural que eu faça das contradições da sociedade a matéria-prima do meu trabalho.
AAN - Como o jornalismo pode ajudar na melhoria de vida ou da condição de vida das pessoas?
MC - O jornalismo serve para mostrar o que está escondido, o que está oculto e que precisa ser revelado, para que as pessoas conheçam a realidade que as cerca. Jornalismo é uma forma de conhecimento do real. O bom repórter deve munir-se das ferramentas da profissão para raspar a casca da aparência e do preconceito que reveste os fatos da vida. Quando denunciamos injustiças, provocando reflexão, forçamos ações do Estado e da sociedade organizada. Aí a vida das pessoas pode melhorar.
AAN - Você irá falar nesta manhã para um público de aproximadamente 600 docentes, que trabalham no cotidiano da profissão com alunos residentes na periferia da cidade e que muitas vezes, têm na escola, não somente a possibilidade de um futuro melhor, mas a possibilidade imediata de ter uma refeição no dia (por conta da merenda escolar). Você já passou por situação semelhante?
MC - Muitas vezes, ao longo de mais de 20 anos de carreira, me deparei com situações dramáticas, com pessoas vivendo no limiar da condição humana, e é claro que me envolvo pessoalmente com isso. Como expliquei, não consigo separar o cidadão do jornalista, e, de mais a mais, não acredito na assepsia emocional do repórter diante do fato. O que procuro fazer é relatar o que vejo com o máximo de fidelidade procurando provocar reflexão. É o que faço também em minhas palestras.AAN - ´O direito de aprender mudando trajetórias de vida´, este será o tema da sua palestra. O que pretende despertar na consciência social de quem estiver presente ao evento?
MC - Espero aprender com o que vou ouvir dos professores e se conseguirmos, juntos, provocar reflexão em algumas pessoas, já estará bom demais.
AAN - Fiquei sabendo que você não cobrou para dar esta palestra, que está fazendo isto por um cachê simbólico e que será doado. Isto é verdade? Para quem será revertido o cachê?MC -
AAN - Ao final da sua participação na abertura oficial do ano letivo da rede municipal de ensino de Aracaju, você irá se considerar satisfeito se...
MC - ... conseguirmos fortalecer conceitos que hoje, infelizmente, estão em desuso, como solidariedade, partilha, construção de um futuro comum etc.