"Depois que o meu marido sofreu um acidente, precisei trabalhar como diarista e estou fazendo o curso para realizar um sonho". O depoimento é de Edivânia Martins de Menezes, 33 anos, que, a exemplo de outras mulheres e homens de baixa renda, está sendo capacitanda no curso de cabeleireiro realizado pela Prefeitura de Aracaju, sob o gerencimento da Fundação Municipal do Trabalho (Fundat). A expectativa é que as aulas acabem no final de maio.
Elevar a auto-estima, capacitar o cidadão e possibilitar a inserção no mercado de trabalho são determinações seguidas à risca no desenvolvimento dos cursos. Desta vez, o treinamento está sendo ministrado no Centro de Higiene e Beleza, anexo a Unidade de Qualificação e Produção do Jardim Esperança, sediado na Rua Júpter s/n.
Edivânia de Menezes é a prova concreta da perseverança e da vontade de vencer. Há nove meses, o seu marido sofreu um acidente e, como consequência, ficou desempregado, o que acabou refletindo na renda familiar. Até então, Edivânia era dona de casa, mas sentindo dificuldades financeiras, passou a fazer faxina em residências. Na sequência, soube do curso de cabeleireiro ofertado pela Prefeitura de Aracaju e não perdeu tempo.
"Não tenho dinheiro para pagar um curso. Sempre desejei ser cabeleireira e estou bem perto de realizar o meu sonho", comentou a aluna, ao informar que já está ganhando algum dinheiro escovando e cortando cabelos de pessoas conhecidas. "Já estou fazendo clientes e feliz por essa transformação em minha vida. Sei que todo começo é difícil, mas vou ultrapassar as barreiras", comemora.
Outro que também está em busca da realização de um sonho é o porteiro José Roberto Ferreira Santos, 37 anos e pai de quatro filhos. Residente no bairro Santa Maria, todos os dias se desloca até o Jardim Esperança para acompanhar o curso. "Como porteiro, ganho um salário-mínimo e meio, o que é insuficiente para sustentar seis pessoas. Gosto de cortar cabelos e pretendo montar um salão de beleza", revela.
José Santos tem planos ambiciosos e vem recebendo o incentivo da instrutora. Inclusive, o porteiro está buscando informações com técnicos do Credpovo para adquirir financiamento após a conclusão do treinamento e iniciar o seu pequeno negócio.
Disposição e otimismo
O curso de cabeleireiro tem oportunizado a formação de centenas de profissionais e, sobretudo, contribuido para que muitos adentrem no mercado de trabalho formal ou, ainda, montem o seu salão de beleza, iniciando um pequeno negócio. A cabeleireira Maria José da Cruz Silva é instrutora da Fundat e tem dado a sua parcela de contribuição. Com auto-astral invejável, a profissional encoraja seus alunos, ensinando-lhes que tudo é possível quando se luta por um sonho.
Dos 32 anos de profissionalismo, Maria José afirma que repassar os seus conhecimentos representa algo a mais em sua vida. "É gratificante ter um aluno e depois vê-lo com o seu salão montado e chamá-lo de colega de profissão", argumentou, acrescentando que cerca de 70% dos treinandos, após a conclusão do curso conseguem emprego ou iniciam um negócio por conta própria.
A instrutora é uma das mais requisitadas, tanto pelo profissionalismo quanto pelo otimismo que repassa para os alunos, fato que os impulsiona a almejar e conquistar os seus espaços no mercado de trabalho. "Tenho vários exemplos de alunos que, antes mesmo de terminarem o curso, já estavam trabalhando", afirma.
Novas técnicas
Maria José não se detém em apenas ensinar corte, escova, tintura e defrizagem. Os alunos aprendem a se comportar diante de um cliente, a serem acessíveis, adotar hábitos de higiene no desenvolvimento do trabalho e, até mesmo, a maneira adequada de se vestir.
São muitas as atividades aplicadas. Os alunos receberam a visita de Cléo de Souza Santos, representante da linha profissional Coiffer, e aprenderam tudo sobre a escova marroquina e selagem (tratamento do cabelo de fora para dentro) que reduz o volume do cabelo. "É uma linha de fácil aplicação e liberada pela Anvisa", explicou a profissional.
Mutirão da beleza
Para que os alunos possam vivenciar o que é um salão de beleza, a instrutora Maria José insere em seus treinamentos vários mutirões de beleza. É comum toda a turma se deslocar para comunidades carentes e passar todo o dia cortando cabelos, escovando e realizando outros serviços inerentes a área de cabeleireiro.
Na última sexta-feira, o atendimento aconteceu no Centro de Higiene e Beleza. Os 'clientes' vieram de vários pontos do bairro Inácio Barbosa e adjacências. Por ordem de chegada, todos foram atendidos. Ana Paula Caetano da Silva Leite, 36, residente na comunidade do Pantanal, adorou a transformação, que incluiu aplicação de reconstrutor de fios e tintura, além de um moderno corte e escova. "Meu cabelo estava horrível, com quatro cores diferentes. Estou renovada e com muita auto-estima", comemora.