Diante das atrocidades cometidas pelo regime ditatorial brasileiro após o golpe de 1964, cidadãos de todos os cantos do país mostraram-se indignados, enfrentaram os militares e levantaram a bandeira da democracia. O resultado foi uma perseguição desumana que em muitos casos culminou em tortura. Com o restabelecimento dos direitos constitucionais vem a Anistia, uma forma de o Estado reparar erros históricos e reconhecer as injustas impostas a essas pessoas.
Na tarde desta segunda-feira, 18, o Ministro da Justiça, Tarso Genro, veio a Aracaju para abrir a 23ª Caravana da Anistia. A solenidade aconteceu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Sergipe (OAB/SE) e contou com a presença do vice-prefeito de Aracaju, Silvio Santos, que representou o prefeito Edvaldo Nogueira. A iniciativa consiste na apreciação de 34 processos de anistia política de sergipanos que lutaram contra o regime militar, foram torturados e hoje buscam a reparação dos danos que lhes foram causados com a supressão de seus direitos.
Anistiados em outras oportunidades, o ex-governador Seixas Dória, o ex-prefeito da capital, Viana de Assis (à época deputado estadual) e o ex-sindicalista Milton Coelho foram os grandes homenageados do encontro. "Aqui estão presentes pessoas que lutaram contra a ditadura e fizeram de suas vidas e ações políticas um instrumento de combate a esse regime", ressaltou Silvio, colocando como exemplo de dedicação e luta pelas causas democráticas a trajetória do secretário chefe de gabinete da Prefeitura, Bosco Rolemberg.
Bosco, que já foi anistiado, participou da abertura da Caravana da Anistia, prestigiando seus contemporâneos e representando seu irmão, José Rolemberg, um dos novos agraciados. "Ao resgatar os exemplos positivos, o Estado dá um exemplo de defesa da democracia e mostra que não há sentimento de revanchismo, mas sim de justiça para com essas pessoas que dedicaram suas vidas a um projeto de país soberano e com justiça social", declarou Bosco.
A Caravana é uma ação da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que tem como um dos seus princípios fundamentais tornar público o trabalho e os critérios dos julgamentos. "Essa é a forma mais adequada para promover a conciliação política. As caravanas têm sido atos cívicos de reencontro do Brasil consigo mesmo. É um evento que tem uma natureza pedagógica, informativa, em que o Estado na verdade não perdoa, mas pede perdão pelos erros que cometeu contra pessoas que lutaram por seus ideais e pela liberdade", colocou Tarso Genro.
De acordo com o vice-prefeito da capital, outro fruto da iniciativa que merece ser exaltado é a aproximação da juventude brasileira da temática da luta pela democracia. "Representa um momento em que as novas gerações devem recuperar a memória, para, com base no nosso passado, não permitir que o país volte a viver um momento semelhante ao que esses cidadãos combateram", comentou Silvio Santos.
Caravana da Anistia
Desde seu lançamento, em abril de 2008, o projeto Caravana da Anistia já percorreu 11 estados, apreciando mais de 350 requerimentos. A realização da 23ª edição em Sergipe teve entre os principais incentivadores o presidente do Conselho Federal da OAB, o sergipano Cezar Britto. "Sergipe é um dos poucos exemplos de estados que resistiram à ditadura militar e esta sessão tem a importância de lembrar que o estado sempre respirou democracia", afirmou Britto.
Já para o governador Marcelo Déda, a Caravana consiste num momento histórico. "É importante ver no estado de Sergipe cidadãos que dedicaram a sua liberdade e arriscaram suas vidas em prol da democracia e que hoje estão sendo reconhecidos como lutadores da liberdade. A comissão está aqui para reconhecer seus direitos", observou.
PresençasAlém dos sergipanos que terão seus pedidos de anistia julgados e seus familiares, também participaram do encontro o senador Antônio Carlos Valadares, os deputados federais Jackson Barreto, Iran Barbosa e Albano Franco, a deputada estadual Ana Lúcia, o presidente da OAB de Sergipe, Henri Clay, o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, os vereadores Emanuel Nascimento (presidente da Câmara), Élber Batalha (líder do prefeito), Chico Buchinho, Miriam Ribeiro e Danilo Segundo, além de secretários municipais e estaduais.
