Por Marina Lopes (estagiária)
Vestidos rodados, fitas coloridas, peneiras de palha e muita animação estampada nos rostos. As marcas do tempo na pele e cabelos denunciam a experiência de quem já viveu muitas noites de São João, mas que ainda conserva um brilho de principiante nos olhos ao ouvir os primeiros acordes da sanfona. Entre cantorias e risos, o folclore e a tradição se misturam em um clima de amizade e bom humor.
Alegria. Essa é a palavra de ordem que há 20 anos embala os passos de dança do ‘Peneirou Xerém'. Desde que foi fundado, em junho de 1989, a intenção do grupo sempre foi promover a diversão entre os participantes da terceira idade, objetivo que até hoje é alcançado com louvor.
Com figurino característico da cultura do Nordeste, o ‘Peneirou Xerém' é um projeto independente que mantém viva a verdadeira tradição junina. A cada ano os integrantes ensaiam novas coreografias e canções para celebrar as raízes regionais. Este ano, o enredo conta a história do grupo, em comemoração ao seu vigésimo aniversário.
Entre as primeiras integrantes, muitas vindas do interior e com hábitos do campo, começavam a surgir histórias e cantigas sobre a época em que descascavam e peneiravam raízes e grãos. Essa prática tipicamente nordestina acabou batizando o projeto, que hoje já conta com 38 participantes - dois homens e 36 mulheres, com idade entre 40 e 85 anos.
Josefa Oliveira, fundadora do Peneirou Xerém, conta que os ensaios acontecem quinzenalmente, não apenas no período de festas. A animação dos integrantes dura o ano todo. "A gente está aqui pra se divertir, pra aproveitar a terceira idade e levar satisfação não só pra quem está dançando, mas também pra quem nos assiste", comenta.
E satisfação é até pouco perto do que sente Dona Zuleide Santos, de 68 anos. Animada e de bem com a vida, ela conta que participa do grupo desde o surgimento. "Isso aqui é uma maravilha, é puro divertimento! Eu digo a todo mundo que aqui a gente tira tudo de ruim da cuca", garante, afirmando que quer aproveitar ao máximo a melhor idade. "Eu é que não vou ficar em casa esperando a morte chegar. Quero é me divertir!", completa.
De mãe para filha
Diversão também foi o que motivou Fátima Navarro a se juntar ao grupo. Há 20 anos, quando sua mãe Maria José Navarro entrou no ‘Peneirou Xerém', Fátima começou a acompanhar os ensaios e as apresentações. Depois de algum tempo, há cerca de dois anos, ela decidiu se tornar uma integrante também.
"A nossa tendência na vida é envelhecer. Então vamos envelhecer dançando, se divertindo e levando alegria para as pessoas", aconselha. Fátima seguiu os passos da mãe e conta que sempre que pode leva sua filha mais nova para assistir aos ensaios. "Daqui a um tempo ela vai estar dançando também", garante.
O ‘Peneirou Xerém' espalha alegria, cultura e vitalidade por onde passa. Além de dar um grande exemplo de valorização das raízes culturais, o grupo também prova que a terceira idade é uma fase que deve ser vivida com felicidade. "Enquanto há vida e disposição, temos é que aproveitar! Isso é que é qualidade de vida", brinca Josefa.