Fórum do Forró esquenta São João

Agência Aracaju de Notícias
09/06/2009 14h11
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Por Sofia Brandão (estagiária) 

Para que o Forró Caju pudesse se tornar um dos maiores eventos juninos do Brasil, alguns projetos foram planejados para fortalecer a imagem dos elementos que o compõem. O forró, um dos pontos centrais na composição da identidade cultural do povo nordestino, é o protagonista dessa festa que reúne artistas tradicionais, bandas da nova geração e um público médio de 100 mil pessoas por noite.

Algumas das iniciativas que vêm contribuindo desde o ano de 2001 para o resgate das raízes da música nordestina em Aracaju e para a divulgação dos festejos juninos da capital sergipana são o ‘Fórum do Forró' e a ‘Marinete do Forró', idealizados pelo produtor cultural e pesquisador Paulo Correia. Em entrevista à Agência Aracaju de Notícias (AAN) o produtor explica como surgiram essas idéias e fala sobre a importância da realização das festas juninas para a cultura do Nordeste.

Agência Aracaju de Notícias (AAN) - O Fórum do Forró acontece há sete anos e já se tornou referência para os admiradores da música nordestina. Como surgiu a idéia de homenagear os grandes nomes do forró?

Paulo Correia (PC) - Falar de música popular é falar de raízes. A idéia do Fórum do Forró surgiu da necessidade de valorizar os artistas que deram origem a esse estilo que passou por transformações e hoje é amplamente divulgado pela mídia. A idéia é mostrar a obra de um compositor ou intérprete de renome, que tenha influenciado várias gerações. Durante o evento, jornalistas e pesquisadores em música discutem detalhes da discografia do artista e assistem vídeos e documentários. Ao final do fórum, caso a homenagem não seja in memorian, acontece uma apresentação do artista. O evento sempre foi gratuito e vem contando com uma ampla participação de jovens e outras pessoas interessadas em se aprofundar na obra dos artistas nordestinos que originaram o forró.

ANN - E o projeto da ‘Marinete do Forró'? Como surgiu a idéia de colocar trios pé-de-serra tocando forró dentro de uma marinete?

PC - O projeto da Marinete do Forró nasceu para complementar a idéia do Fórum do Forró. A partir do momento em que o município de Aracaju resolveu investir na divulgação dos festejos juninos e transformar o Forró Caju em uma festa maior, passou a ser possível concretizar o projeto da marinete. A referência para a idéia foi o itinerário que era realizado em Pernambuco pelo ‘trem do forró', que saía de Recife e ia até a cidade de Caruaru. Como em Aracaju não existe trem de passageiros, lembrei do tempo em que eu era estudante e existiam aqueles ônibus antigos, chamados de marinete. A idéia deu certo e hoje a Marinete do Forró circula em Aracaju nos meses de junho e julho, mostrando o que temos de melhor da música nordestina, como o xote, o xaxado, o baião, o coco de roda e a marchinha junina. Fico muito satisfeito de ter dado certo, pois segundo relatos de pessoas ligadas à Funcaju [Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esporte], a Marinete do Forró recebe muitos elogios de turistas, principalmente.

AAN - Você é um pesquisador e um apaixonado pela música nordestina. Como nasceu esse interesse?

PC - Todos nós temos a fase da descoberta das influências que vão nos acompanhar por toda a vida e nos apaixonamos seja pelo cinema, pela literatura, pelo teatro, ou, como no meu caso, pela música. Quando concluí meu primeiro grau, na cidade de Lagarto, localizada no centro-sul de Sergipe, e vim para Aracaju começar o segundo grau, conheci o rock´n roll, com os Beatles e os Rolling Stones. Como no segundo grau se discute muito sobre história do Brasil e sobre cultura brasileira, fui começando a pesquisar a ligação desses assuntos com a música, tive meus primeiros contatos com a obra de artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, e Jackson do Pandeiro, e fui querendo conhecer cada vez mais. A década de 70 como um todo foi uma época de grandes descobertas musicais, pois foi quando surgiram novos artistas nordestinos, como Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Belchior, Elba e Zé Ramalho. Foi quando eles começaram a gravar seus discos e exaltar a cultura nordestina com suas letras e com seus sotaques.

AAN - Em sua opinião, como o forró se relaciona com a identidade nordestina?

PC - O Brasil é um país cujas regiões preservam de maneira muito forte suas culturas. A região Sul, por exemplo, realiza várias festas regionais durante o ano todo, e valoriza muito seus artistas. No Nordeste não é diferente. Diante da dimensão e da quantidade de Estados que o compõe, a música nordestina, mais especificamente o forró, funciona como elemento de união. Pode-se ver retratada no repertório de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês e do Trio Nordestino, por exemplo, a descrição dos costumes, da culinária e da agricultura do povo do nordeste. As canções que exaltam a cultura nordestina são mais tocadas no período das festas juninas, que hoje têm dimensões gigantescas em cidades como Caruaru, Campina Grande e agora Aracaju. No período dos meses de junho e julho é comemorada a colheita do milho, que é plantado no mês de março. O alimento se torna então a base da culinária típica das festas dessa época e é um dos personagens das músicas feitas pelos nordestinos.

AAN - Além dos elementos culturais, também é comum encontrar crítica social nas letras de forró?

PC - Sim. A música como forma de arte também expressa o descontentamento do artista com certa realidade. No último ano de sua carreira, Luiz Gonzaga gravou a música ‘Xote Ecológico,' por exemplo, que naquela época já criticava a degradação do meio ambiente apenas baseada na observação do espaço. A música fala de ecologia, de poluição e do assassinato de Chico Mendes - grande ambientalista brasileiro.