Aracaju é pólo nacional de quadrilhas

Agência Aracaju de Notícias
10/06/2009 07h50
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Por Cândida Oliveira

O período junino é sempre uma grande festa, seja pelas comidas típicas, a música e, principalmente, pelas quadrilhas juninas, o ponto alto das comemorações. A naturalidade dos gestos e movimentos dos quadrilheiros faz tudo parecer fácil, mas, na verdade, por detrás dos sorrisos durante as apresentações há muito suor, profissionalismo e dedicação.

Aracaju é referência em todo o país como um pólo de quadrilhas.  São inúmeras e de todos os portes: pequenas, grandes, infantis, de jovens e idosos. "Somos reconhecidos nacionalmente. Vários grupos já ganharam concursos importantes, a exemplo do Nordestão. Fazemos um trabalho para a sociedade sergipana e para o turista que vem aqui ver as belezas das nossas danças, nosso potencial, nossas tradições", conta o presidente das Ligas de Quadrilhas Juninas de Sergipe e do Nordeste, Célio Torres.

A média de brincantes vai de 48 a 56 pessoas. Os componentes precisam ter muito fôlego para aguentar o pique de apresentações, que no mês de junho chega a um total de 30. "Muitas vezes eles se apresentam duas vezes em uma única noite. O ritmo é intenso, mas ninguém deixa de dançar, pois é prazeroso representar sua quadrilha de coração", enfatiza Célio Torres. 

Para que o espetáculo encante cada vez mais o público, os quadrilheiros atualmente contam com um verdadeiro arsenal de assistentes. São coreógrafos, estilistas, costureiras, maquiadores e todo um universo de pessoas faz uma renda extra nesse período. "Centenas de empregos temporários são criados e o principal é que deixamos na economia sergipana mais de R$ 600 mil. É diferente do artista de fora que vem, se apresenta e leva o dinheiro", justifica o presidente da liga.

A tradição dessa dança na capital e no interior sergipano fez proliferarem centenas de grupos por todas as partes . De acordo com Célio Torres, este ano há cerca de 150 quadrilhas para apresentação no Estado, sendo que 48 são filiadas à liga, uma é infantil e duas são de idosos. Em nível de disputa são 70 grupos. A grande maioria está concentrada nos municípios interioranos e é justamente nessas regiões onde ocorre o maior número de concursos. Do total de 25, cinco competições anuais acontecem em Aracaju.

Segundo o presidente da liga, para a dança sair perfeita os ensaios iniciam logo cedo, ainda no mês de outubro. "Assim que os festejos juninos acabam, as quadrilhas começam a se preparar para o ano seguinte: escolha do tema, modelos de roupas, coreografia, tudo é pensado antecipadamente para que a gente não faça feio em nenhum lugar do país", explica.

Recursos

Para manter tantos profissionais, Célio Torres conta que os custos são altos e as quadrilhas ‘top de linha' gastam em média, por ano, de R$ 25 mil a R$ 30 mil. "Há dois anos o prefeito Edvaldo Nogueira está nos ajudando. O dinheiro que recebemos é repassado para as quadrilhas juninas e serve para ajudar nas suas despesas, pois os investimentos são altos", informa.

Outra fonte de renda das quadrilhas são as apresentações, que são cobradas quando acontecem em empresas privadas. Mesmo assim, boa parte arca com suas despesas. "Como muitas não têm apoio financeiro - o que equivale a quase 90% das quadrilhas-, os custos com roupa são arcadas pelos brincantes. No ano seguinte, eles aproveitam a roupa antiga e põem para alugar, assim conseguem custear a nova roupa", esclarece.

A Liga de Quadrilhas de Sergipe pretende lançar um projeto de incentivo aos grupos de quadrilheiros, onde as empresas privadas podem adotar um deles. "Ainda é pouco o número de empresas que patrocinam quadrilhas, mas vamos criar o projeto ‘Adote uma quadrilha'. Quem sabe assim nossa tradição se mantém viva", aposta Célio Torres.

Trabalho social

As quadrilhas também fazem um trabalho social digno de aplausos. Os brincantes se apresentam gratuitamente em asilos e creches ao longo do ano. "Vamos animar a vida daqueles que não têm como se deslocar para nos assistir. É gratificante ver a alegria dos idosos e das crianças que nos prestigiam", relata.

Rivalidade entre os quadrilheiros acontece apenas dentro do palco, pois fora todos são amigos. "Somos uma grande família que trabalha para divulgar bem o Estado", declara Célio. E todos seguem regras: um bom quadrilheiro não deve se envolver com bebidas alcoólicas, confusões e, respeitar uns aos outros.

Para quem deseja participar de uma quadrilha não precisa se preocupar com idade. A faixa etária varia dos 18 até os 60 anos. "Temos um quadrilheiro da Século XX que possui 56 anos. Há ainda os que não deixam de dançar. Citamos o exemplo do quadrilheiro Gagau, que dança há mais de 30 anos na ‘Sassaricando', da cidade de Itaporanga D'Ajuda. A maioria dos brincantes é fiel à sua quadrilha. É que nem torcedor de futebol: quando decide seu time de coração é pra vida toda", revela o presidente da liga.

E em clima de tanta alegria e comprometimento, o que não faltam são histórias de amor para contar.  Há cada São João surgem novos casais apaixonados unidos pelo amor à tradição. "Todos os anos há dois ou três casamentos entre brincantes. O São João tem um clima propício: as pessoas se conhecem tendo como fundo romântico o forró, se apaixonam e se casam", lembra Célio Torres.

Data especial

A data ‘1º de Junho' pode se transformar no Dia do Quadrilheiro. A proposta já está tramitando no Congresso Nacional, em Brasília, e foi aprovada em primeira instância. "No próximo ano se o dia tiver sido aprovado, faremos uma grande festa para homenagear aquele que faz a alegria do povo nos festejos juninos: o quadrilheiro", promete.