Sambaião conquista o mundo

Agência Aracaju de Notícias
10/06/2009 09h19

Por Sofia Brandão (estagiária)

No mês de junho, o Nordeste do país se transforma em um imenso arraial. Os festejos comemoram a fartura na colheita, os santos do ciclo junino e os elementos da cultura regional. As noites de celebração costumam ser embaladas pelo tradicional trio formado por zabumba, triângulo e sanfona. Em Sergipe, as bases do agora mundialmente conhecido forró servem de inspiração para a banda Naurêa, que incorporou outras influências e ingressou no mercado musical de forma ousada.

A banda, que completa sete anos em novembro de 2009, começou com o encontro de seis jovens músicos apaixonados pela cultura nordestina, que começavam a descobrir e se identificar com novos ritmos tocados bem longe das terras do cacique Serigy. Desde então, a Naurêa começou a misturar estilos. Suas composições aos poucos deixaram de encantar apenas o povo do Nordeste, e a banda ganhou o Brasil e o mundo.

Além de ter se apresentando em importantes feiras e encontros de música do país, em 2006 a banda tocou nas cidades de Colônia, Dortmund e Berlim, na Alemanha, durante a Copa do Mundo de futebol. A partir daí, a Europa passou a ser um mercado para a Naurêa e em 2007 o grupo fez uma segunda turnê de verão. Foram mais de 20 dias de apresentações nos Alpes austríacos e em 11 cidades alemãs. Em 2008, o ponto alto foi a participação na Feira PopKomn, em Berlim.

Este ano, a ‘Naurêa' lançou seu primeiro DVD ao vivo (Sambaião VIVO) e se prepara para uma nova turnê pela Europa, que começará no final de junho e se estenderá até novembro. Em entrevista à Agência Aracaju de Notícias (AAN), um dos vocalistas do grupo e tocador de triângulo, Alex Santana, falou sobre a relação da banda com as raízes da música nordestina e os novos ritmos.

Agência Aracaju de Notícias (AAN) - O som de vocês é conhecido pelo público como ‘inusitado' por reunir sons do mundo inteiro. Como nasceu a idéia de fazer essa mistura?

Alex Santana (AS) - Em 2001, eu e alguns integrantes da banda nos encontramos em um evento sobre folclore e descobrimos várias afinidades musicais. Então marcamos uma reunião eu, o Abraão Gonzaga [guitarra], Aragão [cavaquinho], meu irmão Léo Airplane [sanfona], Márcio [vocal e zabumba], e Patrick, que não está mais na banda, mas que já era DJ na época e teve uma participação importantíssima, com a introdução de idéias estéticas e dos efeitos de samplers e batidas sintetizadas. Nós concordamos logo de cara com o nível de mistura que queríamos. Com sete dias de banda fizemos o nosso primeiro show, colocando essa idéia em prática de uma maneira bem amadora. Foi a maior doidice que já fiz em minha vida. A gente colocou tudo junto pra ver no que ia dar: samplers, sanfona, zabumba, guitarra e etc. E daí nasceu a Naurêa. Hoje, depois de sete anos e com dois integrantes a mais [Alemão, no contrabaixo e tuba, e Betinho Caixa D´Água, na percussão] posso dizer que estamos usando melhor essa idéia.

AAN - No meio de tanta mistura, onde entram os ritmos tradicionais do Nordeste? Quais são as influências regionais das composições do Naurêa?

AS - Como bons nordestinos, nós sempre escutamos forró desde criança. Na banda nós temos uma expressão para falar dos três maiores nomes do forró, que na verdade são discografias básicas para quem gosta do estilo: a ‘Santíssima Trindade', que é composta por Luis Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda. Mas o Genival Lacerda é sem dúvida unanimidade entre os integrantes da banda e é uma grande influência para o nosso som. Todos somos fãs, mas o Marcio é o fã número um. Quando trouxemos o Genival para participar do nosso DVD o Marcio o surpreendeu cantando músicas muito antigas, do início da carreira. Foi muito interessante.

AAN - Que características de Genival Lacerda influenciam na produção musical de vocês?

AS - O jeito dele de compor brincando, sempre com bom humor, além de algumas nuances ritmicas, como uma música que se desenvolve como um ‘xote' e depois vira um ‘baião'. O Genival Lacerda até teve suas composições influenciadas por Jackson do Pandeiro, que foi seu cunhado, mas na década de 70 ele inovou e na de 80 começou a compor os forrós de duplo sentido. Um grande sucesso dele foi a música ‘Severina Xique-Xique', que é um forró de duplo sentido e não é do começo da carreira, ou seja, ele sempre inova. Foi essa essência de inovação que a Naurêa herdou e busca manter sempre.

AAN - E como se dá a junção das influências desses sons de várias culturas com a tradição do forró nordestino? Quais são essas influências?

AS - Esse ato de agregar novos sons é muito natural para nós. Na verdade, a banda acredita que não faz sentido fazer forró no mesmo estilo que Luis Gonzaga fez na década de 50, sem colocar uma identidade. Todas as vezes que tentamos reproduzir esse estilo tradicional, por receio da reação de um público mais conservador, nós fizemos mal feito, por isso resolvemos continuar com o nosso jeito de compor. O baião é a principal base do nosso som. A partir daí já agregamos o costarriquenho ‘reggaeton', melodias de Cuba, do Leste Europeu, as guitarradas do Pará, e o apelo do R&B e do ‘hip hop'. No nosso novo trabalho, intitulado ‘Babelesco', por exemplo, usamos elementos do ska, do dub, da música africana, latina e cúmbia. No entanto, se você for tirando cada elemento novo vai sobrar a zabumba, o triângulo e a sanfona, por isso vai ser forró.