Edvaldo decreta luto oficial pela morte de Celso de Carvalho

Governo
14/08/2009 15h39

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, decretou luto oficial de três dias pela morte do ex-governador de Sergipe, Celso de Carvalho. Ele estava internado há dois dias na UTI do Hospital São Lucas, na capital, e faleceu na manhã desta sexta-feira, 14, aos 86 anos. O sepultamento acontece amanhã, 15, em Simão Dias, cidade natal do ex-governador.

Para Edvaldo, o exemplo deixado pelo ex-governador deve ser copiado por todos os homens públicos. "Celso de Carvalho era um político extraordinário, honesto, dedicado, sério e simples. Ele desempenhou várias funções e em todas elas mostrou suas muitas qualidades. Como governador, ajudou no crescimento do Estado, defendeu a democracia e a liberdade, e contribuiu para a modernização da capital. É um cidadão que orgulha Sergipe e que fará muita falta para todos nós", disse o prefeito.

Celso de Carvalho foi prefeito de Simão Dias, deputado estadual por dois mandatos, vice-governador do Estado, governador e deputado federal por 12 anos. Casado, teve quatro filhos, oito netos e dois bisnetos. No último mês de fevereiro, por ocasião do aniversário de 153 anos da capital sergipana, comemorados no dia 17 de março, a equipe da Agência Aracaju de Notícias foi recebida por ele em seu apartamento para uma entrevista especial. Foi a última concedida pelo ex-governador, que na oportunidade contou passagens de sua vida e falou de sua paixão pela cidade.


Confira a entrevista completa, publicada em 6 de março no hotsite dos 153 anos de Aracaju:


Celso de Carvalho: "Aracaju é uma pequena grande cidade"

Por Gabriela Melo e Alejandro Zambrana

Leve, jovial e com uma alegria contagiante, o ex-governador de Sergipe Sebastião Celso de Carvalho tem o espírito de Aracaju. Aos 86 anos, o advogado nascido em Simão Dias diz que ama sua cidade natal, mas que também tem uma relação de muito carinho e admiração pela capital sergipana, sua "catita", onde vive há décadas. Disposto a conversar, contar histórias e parabenizar Aracaju pelo aniversário de 154 anos, Celso de Carvalho recebeu em seu apartamento a equipe da Agência Aracaju de Notícias (AAN) para uma entrevista especial, que acabou sendo um bate-papo informal de quase duas horas sobre os mais variados assuntos: economia, família, saúde e política, é claro. "Adoro jogar conversa fora", conta, acrescentando que costuma reunir os amigos - entre os quais o também ex-governador Seixas Dória - para "papear".

A conversa com a equipe da AAN foi marcada por comentários inteligentes, engraçados e perspicazes, que resultaram em sonoras risadas. "Eu gosto muito de rir. A raiva leva ao infarto, a tristeza, ao câncer, mas o bom humor só traz alegria, saúde e bem-estar. Um sorriso é uma coisa maravilhosa, descontrai. Rir é um remédio que prolonga a vida", ensina Celso de Carvalho. Casado e com quatro filhos, oito netos e dois bisnetos, ele se orgulha de ter tido uma carreira política longa, com oito mandatos ao todo, mas imaculada. "Eu mesmo não me importo com as rugas da minha pele, mas me incomodaria muito se tivesse rugas morais. Não tenho mesmo! Sou um homem limpo, graças a Deus!", afirma.

Celso de Carvalho testemunhou um dos momentos mais marcantes da história de Sergipe: o golpe militar de 1964. Na época, ele ocupava o cargo de vice-governador. Com a prisão de Seixas Dória, assumiu o governo, permanecendo no poder até 1967. Nesse período, teve que "conviver" com os militares, conseguindo, com sabedoria, não entrar em conflito com os grupos que queriam substituí-lo por alguém indicado pelos golpistas que tomaram o poder. "A política exerce um fascínio grande sobre os homens. Mas ela também é cruel porque expõe a pessoa. O homem público não pode errar, às vezes é ofendido, caluniado. Isso incomoda muito", observa.

Agência Aracaju de Notícias (AAN) - O senhor completou recentemente 86 anos de idade e há décadas vive em Aracaju. Que mudanças mais significativas puderam ser observadas na cidade ao longo desse tempo?

Celso de Carvalho (CC) - Eu sou do interior, de Simão Dias, mas conheci Aracaju quando tinha 12 anos de idade. Vim fazer o curso secundário, ginasial, no colégio Tobias Barreto. Não sou filho daqui, mas conheço essa cidade há tempo suficiente para fazer um juízo de sua evolução, do seu progresso, que eu acompanhei. Hoje Aracaju é uma cidade linda. É uma pequena grande cidade, e olha que o número de ‘espigões' que tem aqui não é graça. Quando chego ali no Jardins fico admirado em ver como a Aracaju pequena que eu conheci com 12 anos está daquele jeito, com um mundo de arranha-céus. Aracaju deu um salto. Era uma cidade pequena e ficou muito tempo pequena, mas cresceu muito, principalmente com a Petrobras. Quando foi descoberto o petróleo, que coincidiu com minha chegada no governo, Aracaju progrediu bastante.

AAN - O que Aracaju tem de melhor?

CC - Aracaju é uma cidade bonitinha, muito organizada e limpa. Costumo dizer que é uma cidade ‘catita'. Gosto dessa palavra porque acho carinhosa. Eu sou meio suspeito para falar das qualidades de Aracaju porque gosto muito dessa cidade. Sou sergipano e essa é minha capital. Nasci em Simão Dias, mas sempre vivi aqui e tenho até título de cidadão aracajuano. Mas não sou só eu que gosto de Aracaju. Muita gente elogia. De vez em quando recebo pessoas de fora e elas dizem: ‘Como Aracaju está bonitinha!'.

AAN - Que lugar da cidade o senhor mais gosta?

CC - Gosto muito da avenida Ivo do Prado, com o rio Sergipe, os veleiros. É muito bonito, passa tranqüilidade. Aqui do meu apartamento dá para ver a Ivo do Prado, o rio, a Barra dos Coqueiros, as embarcações. É muito gostoso olhar a janela e ver esse cenário.

AAN - Que presente o senhor daria para a cidade no dia 17 de março?

CC - Desejo que ela continue crescendo, através das administrações, nesse mesmo ritmo de hoje; que ela nunca pare. Que a cidade ganhe projeção e que os serviços públicos melhorem cada vez mais. Acho que se as coisas continuarem sendo administradas assim, pacíficas, corretas, Aracaju vai continuar caminhando e melhorando, progredindo sempre.

AAN - O senhor acha a atual administração municipal eficiente?

CC - A atual administração local é conduzida por um homem muito sério e correto, que é o doutor Edvaldo Nogueira, filho de uma conterrânea minha, lá de Simão Dias. Eu gosto muito dele porque ele é um excelente prefeito. Mesmo caladinho e modesto, já fez muita coisa. Além disso, é um homem fiel, coisa rara hoje em dia, principalmente na política.

AAN - O senhor foi prefeito de Simão Dias, vice-governador, governador, deputado estadual e deputado federal. Com essa vasta experiência no campo da política, o que o senhor acredita ser necessário para uma boa administração?  

CC - Tem um provérbio chinês que diz que o rio só chega a seu destino porque conhece as dobras do caminho. E isso se aplica aos governantes. Os políticos têm que conhecer a cidade, os problemas, os recursos e as dificuldades para poder administrar bem. Outra coisa necessária é a ética, a honestidade. Eu mesmo não me importo com as rugas da minha pele, mas me incomodaria muito se tivesse rugas morais. Não tenho mesmo! Sou um homem limpo, graças a Deus! Fui prefeito da minha cidade aos 23 anos, jovenzinho, com bigodinho preto ainda. Depois fui deputado estadual por dois mandatos, vice-governador do Estado. Logo mais veio a revolução e então eu fui investido no governo. Depois fui deputado federal por doze anos, três vezes. Ao todo tenho oito mandatos. Aí encerrei a carreira política, com o orgulho de não ter manchas. Acho que foi por isso que nunca perdi uma eleição.

AAN - Como o senhor avalia a decisão do então governador Inácio Barbosa de transformar o tímido povoado de Santo Antônio de Aracaju em uma cidade projetada e transferir para cá a sede do governo?

CC - Inácio Joaquim Barbosa estava certíssimo. Era uma mudança necessária. Nós tínhamos que ter um porto pra continuar crescendo. João Bebe Água, lá de São Cristóvão, foi que ficou meio choroso com a mudança da capital, mas foi uma decisão acertada.

AAN - O que o senhor espera do futuro? Como deseja que a cidade esteja daqui a dez anos?

CC - Desejo que a cidade continue avançando, mas sem esquecer do social; que Aracaju prospere, seja sempre ‘catita' e compreensiva aos desejos do seu povo. Essas palavras podem não ser cantantes ou rimadas, mas é isso que eu desejo para Aracaju. Como não sou poeta, vou usar uns versinhos que não sei de quem são, mas acho muito significativos. ‘Sergipe, tão pequenino, segue da pátria os rastilhos, pela força de seus homens e o talento de seus filhos'. Bonito, não é?