Embora ainda tenha muitos obstáculos a ultrapassar, a luta contra a homofobia no Brasil ganha cada vez mais aliados. Em Aracaju, é crescente a visibilidade dos eventos voltados à conscientização das comunidades, além da participação de pessoas de diferentes localidades e representantes de órgãos oficiais. E, como vem acontecendo nos últimos anos, a Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) também já declarou seu apoio à realização da VIII Parada GLBT de Sergipe.
O evento, que já se destaca no calendário nacional, será realizado no próximo dia 30 de agosto, na Orla de Atalaia, com o tema ‘Sexualidade e Gênero não distinguem a personalidade humana'. Consciente quanto à importância do combate à discriminação sexual e de gênero, o secretário chefe de Gabinete da PMA, Bosco Rolemberg, recebeu mais uma vez em seu gabinete, na última quarta, dia 26, a coordenadora geral da parada, Tatiane Araújo, e o presidente da Associação de Defesa Homossexual de Sergipe (Adhons), Marcelo Lima de Menezes, acompanhados do vereador Élber Batalha Filho e da deputada estadual Tânia Soares.
Em uma conversa agradável e descontraída, Bosco Rolemberg e os organizadores debateram sobre a necessidade da realização de eventos como a parada para conscientizar a população. "Essa reunião é mais um momento importante de diálogo entre o Poder Executivo e os movimentos sociais. Apesar do impacto da crise financeira na PMA, sempre buscamos driblar as dificuldades, quando o assunto é apoiar as manifestações populares. É por acreditar na luta contra a intolerância que sempre continuaremos apoiando a Parada GLBT", afirmou o secretário chefe de Gabinete, ao ressaltar que toda a sociedade deve estar envolvida.
Em concordância com Bosco, o presidente da Adhons destacou que a parada não ocorre somente em um dia. "Conscientização é algo que requer bastante tempo. Dessa forma, a organização da Parada GLBT começa muito antes do dia 30. No mês de julho, realizamos o 7° Circuito do Orgulho GLBT, que consistiu em uma série de seminários, apresentação de vídeos, bate-papos, etc.", afirmou Marcelo. Para ele, o reconhecimento da causa GLBT só faz sentido com a adesão de diversos setores da sociedade.
"Nós estamos em todos os lugares. Somos médicos, políticos, professores, pedagogos, trabalhadores rurais. Não faz sentido que a violência baseada na homofobia continue a se perpetuar. Temos que combatê-la com a ajuda de todos os segmentos sociais", ressaltou o presidente da Adhons. Ele adianta ainda que será feita uma grande campanha de combate às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e à AIDS, durante a parada, com distribuição de panfletos educativos e preservativos.
A presidente da Associação de Direitos Humanos e Cidadania GLBT de Aracaju (Astra), Tatiane Araújo, destacou o quanto as instituições democráticas estão cada vez mais se aproximando dos movimentos sociais de combate à homofobia. "Quando ocupamos a tribuna da Assembléia Legislativa, ontem, nos sentimos empoderados na casa do povo, porque nem todos ainda nos reconhecem como parte do povo. Mas dá para perceber que ainda há pessoas boas em nosso Estado. O diálogo com os Poderes Executivo e Legislativo vem se ampliando e já realizamos o evento em sete cidades do interior", enfatizou.
Apoio
O presidente da Adhons fez questão de reafirmar o momento histórico que representou a institucionalização do Dia Municipal de Combate à Homofobia, 17 de maio, aprovada por unanimidade pelos parlamentares de Aracaju e sancionado pelo prefeito Edvaldo Nogueira. "A sanção municipal representa um marco histórico para o movimento. É mais uma prova do reconhecimento que a PMA direciona à causa. Edvaldo Nogueira sempre esteve ao nosso lado, sempre sentimos o canal de diálogo aberto", afirmou Marcelo Lima.
Preconceito
Foi nesse sentido que o vereador Élber Batalha destacou que ainda há muito a ser feito com relação ao reconhecimento oficial da luta contra o preconceito. "Minha preocupação com o assunto me fez propor à Câmara a lei que penaliza manifestações homofóbicas em ambientes públicos, pois todos têm o direito de se manifestar. Além disso, a Casa também já aprovou mais duas leis: a inclusão da Parada GLBT no calendário oficial de eventos da cidade e a inclusão de companheiros homossexuais no cadastro de dependentes do Aracaju Previdência. Só estamos esperando a sanção do prefeito, para entrar em vigor", informou.
No que depender da deputada estadual Tânia Soares para que haja um estreitamento dos laços entre a Assembléia Legislativa e os movimentos sociais, muitos passos já foram e serão dados. Além de convidar os organizadores da Parada GLBT para ocupar a tribuna do Poder Legislativo na tarde do último dia 25, e colocar em discussão a necessidade do respeito à orientação sexual dos cidadãos, a deputada prepara mais uma estratégia de luta popular.
"Já estamos avançando no sentido de criar uma Frente Parlamentar de Combate à Homofobia, junto com os próprios movimentos sociais. Embora não se tenha como mensurar, ainda é grande a ocorrência de assassinatos e agressões contra pessoas declaradamente homossexuais. Estamos muito preocupados em conter o avanço da violência contra mulheres, gays, negros e outras minorias sociais. Tudo isso inevitavelmente culminará em discussões políticas e criação de políticas públicas específicas", adiantou Tânia Soares.