PMA transforma vida de pacientes com fissuras

Saúde
02/09/2009 15h35

"Minha vida mudou demais. Acabei de fazer a cirurgia, mas muita coisa já mudou. Sempre tive problemas para falar, e agora já sinto a diferença". O depoimento do morador de Japaratuba Cledson Antônio dos Santos demonstra sua satisfação em ver um antigo sonho realizado. Acometido por uma fissura palatal desde que nasceu, Cledson, hoje com 24 anos, finalmente pode respirar e falar melhor.

Assim como ele, dezenas de pessoas que moram em Aracaju e no interior do Estado e sofriam de fissura lábio-palatal finalmente mudaram de vida, graças a uma parceria entre a Prefeitura de Aracaju e o Rotaplast International, grupo norte-americano especializado em cirurgias plásticas. A união de esforços possibilitou a realização de várias operações no Hospital São José.

A equipe de voluntários da Rotaplast, formada por 152 profissionais especializados - médicos, enfermeiros, dentistas, patologista, ortodentistas, anestesistas e pediatras -, esteve na capital sergipana entre os dias 10 e 26 de agosto para contribuir na realização das cirurgias, orientando procedimentos e ajustes técnicos, entre outras providências.

Mesmo depois que o grupo retornou para os Estados Unidos, as operações continuaram sendo realizadas pela PMA, beneficiando pacientes que nasceram com algum tipo de fissura (abertura) no lábio ou no palato. O médico cirurgião Jorge Luiz de Almeida Teixeira afirma ter ficado feliz com o aumento da procura pela cirurgia após a parceria firmada com o grupo norte-americano.

Mas, para ele, o número de atendimentos podia ser ainda maior. "Praticamente todas as maternidades do Estado já estão preparadas para orientar os pais a trazer seus bebês para cá. No entanto, sabemos que há muitas pessoas com esse problema que não têm conhecimento sobre a realização da cirurgia", afirma o médico.

Cirurgias

Os procedimentos cirúrgicos de fissuras lábio-palatais são realizados todas as segundas e terças no Hospital São José. O médico cirurgião conta que a média mensal de operações varia entre 15 a 20. "As fissuras no lábio geralmente são tratadas com fins estéticos e operadas a partir dos três meses de idade. Mas as cirurgias palatais são mais delicadas, pois o problema prejudica a fala e a respiração. Nesse caso, nós operamos a partir de um ano de idade", explica o Dr. Jorge Luiz.

O procedimento não inclui somente a cirurgia. Uma equipe multidisciplinar faz o acompanhamento pré e pós-operatório. Esse último, em alguns casos, pode durar a vida inteira. "Analisamos bastante o alinhamento dos dentes e às vezes é preciso recorrer às cirurgias ortognáticas, destinadas a corrigir as discrepâncias dento-esqueléticas da face", detalha o médico.

Após a cirurgia, cada passo do acompanhamento pós-operatório é analisado pelo Rotaplast International, através de exames enviados aos Estados Unidos, pelos quatro cirurgiões que realizam a operação em Aracaju.

Crianças

A enfermeira Alvanice Machado explica que os adultos têm mais dificuldades de se recuperar da cirurgia, principalmente por conta da voz anasalada. Mas a recuperação também não é tão simples para as crianças. A eficácia do tratamento depende bastante da alimentação e dos cuidados que elas recebem, desde o nascimento.

"A principal lição que as mães aprendem aqui é sobre a importância do aleitamento materno para as crianças com fissuras. Se ela não puder amamentar, o ideal é que faça o desmame, mas não pode deixar de dar o leite materno. Também consideramos fundamental que ela mantenha o bebê próximo ao seu peito com frequência, para que o contato seja sempre próximo", diz a enfermeira.

"Para um melhor entendimento, nós explicamos o que acontece com o organismo dos filhos enquanto eles se alimentam. Então, orientamos quanto ao perigo da postura incorreta no momento da refeição. O ideal é que a criança esteja sentada, com o tronco reto, para que não lhe falte ar", enfatiza Alvanice.

Ela também chama a atenção para o hábito que muitas mães têm de alimentar seus filhos com líquidos. É o caso de Gilvanete Lima, moradora do povoado Saúde, em Neópolis. Desde que seu filho nasceu, ela tem um cuidado especial com a alimentação. "Henrique tem um ano e três meses, e até hoje ele só ingeriu alimentos através da mamadeira. Sempre machuco tudo, inclusive verduras cozidas", afirma Gilvanete.

De acordo com a enfermeira, Gilvanete não está cometendo um erro grave. No entanto, não há nada que impeça que a criança se alimente normalmente. "Tem mães que chegam aqui dizendo que só dão líquidos aos seus filhos. Mas sempre digo que eles podem comer tudo com a colher, é só ter cautela por conta das dificuldades de respiração que essas crianças geralmente apresentam", complementa.

Fala

Segundo o Dr. Jorge Luiz, uma característica marcante dos fissurados é a dificuldade de falar. "A maioria apresenta voz nasal, língua aparentemente presa. É por isso que incluímos no tratamento consultas com psicólogos e fonoaudiólogos", informa o médico.

Esse dilema foi vivido de perto por muito tempo pela moradora de Tobias Barreto, Viviane Jesus Neto, de 28 anos. "Antes meu filho nem falava. Eu até o levava para os médicos, mas nunca imaginei que poderia resolver o problema dele com a cirurgia. E, melhor ainda, não tive gasto nenhum", diz a moradora de Tobias Barreto.