Uma série de mobilizações marca o Dia da Consciência Negra em todo o país nesta sexta, 20. Em diversas cidades, a memória de Zumbi dos Palmares e de outros negros que assumiram o papel de protagonistas das transformações sociais está sendo lembrada através de ações que buscam a reflexão e a conscientização.
Em Aracaju, a data é marcada por uma exposição de caráter histórico, que resgata a rotina de trabalho e exploração dos escravos que viviam em Sergipe no século XIX, e pela terceira edição do Cortejo Afro, realizado por diversos movimentos negros do Estado. Os dois eventos são apoiados pela Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA).
A exposição intitulada ‘Aspectos da escravidão africana nos jornais sergipanos do século XIX' pode ser conferida até o dia 25 de novembro, no Mirante da Praia 13 de Julho. Sob a curadoria do professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Francisco José Alves, a mostra procura resgatar um pouco da vivência cotidiana dos negros durante o regime escravocrata em Sergipe.
Através do recorte de anúncios publicados em jornais sergipanos no século XIX, é possível perceber a forma como eram tratadas as negociações de compra, venda e aluguel, e de como eram perseguidos os negros em fuga. Para o professor Francisco Alves, a exposição é uma oportunidade de levar à população o conhecimento que é produzido na universidade.
"As exposições são uma forma de levar à sociedade os resultados das pesquisas, através de uma linguagem mais acessível. E a escravidão é um sistema bastante complexo que predominou como principal força de trabalho em nosso país durante quatro séculos, praticamente. Claro que não temos a intenção de esgotar o assunto, mas de gerar outras pesquisas sobre o tema", explica o professor.
Graças ao sucesso da mostra no Mirante da 13 de Julho, espaço mantido pela Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esportes (Funcaju), o historiador já se programa para expor no local outro trabalho relacionado às etnias. "Esse espaço tem muita visibilidade, é bastante visitado. Já fizemos até a reserva para o mês de abril, quando será realizada uma exposição em comemoração ao Dia do Índio", adianta Francisco Alves.
Cortejo
Para marcar o Dia da Consciência Negra, nesta sexta, dia 20, vários movimentos negros, com o apoio da Prefeitura de Aracaju e do Governo do Estado de Sergipe, realizam o III Cortejo Afro. A partir das 15h, os participantes se concentrarão na praça da Bandeira e, seguindo em passeata pela avenida Barão de Maruim, finalizarão o ato na praça General Valadão.
De acordo com um dos organizadores do evento, o coordenador geral da União dos Negros pela Igualdade (Unegro/SE), Andrey Lemos, o objetivo é levar a população a refletir sobre a necessidade de acabar com o racismo na sociedade. "Durante a passeata, queremos denunciar os casos de racismo que ainda existem no Brasil. As estatísticas comprovam que ainda há desigualdades e que precisamos de políticas públicas nesse sentido. Divulgaremos uma nota sobre isso, durante o cortejo", afirma Andrey.
No local de chegada, diversas atividades prometem celebrar o dia que marca a luta dos negros pela inclusão social. "Na praça General Valadão, as pessoas poderão curtir o show Zumbi dos Palmares, com diversos grupos culturais. Além disso, será transmitida ao vivo uma videoconferência diretamente de Salvador, na qual o presidente da República irá assinar um decreto declarando interesse social para as comunidades quilombolas de Sergipe", antecipa o coordenador.
A videoconferência terá início às 17h e transmitirá em tempo real a assinatura da segunda fase do projeto ‘A cor da cultura', implementado com o objetivo de valorizar o patrimônio cultural afro-brasileiro. A cerimônia acontecerá na praça Castro Alves, em Salvador, com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli; o ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Edson Santos; o governador da Bahia, Jaques Wagner; e o prefeito de Salvador, João Henrique.
O cortejo é organizado por diversas entidades: a Sociedade Omolayê, a Unegro, o Grupo Guerreiros Revolucionários, o Instituto João Mulungu, o Movimento Negro Unificado, a Coordenação Nacional de Entidades Negras, o Instituto Vozes da África e a Coordenadoria de Políticas de Igualdade Racial do Governo do Estado.