Novas bandas diversificam cena local

Agência Aracaju de Notícias
31/08/2010 09h10

Por Maria Rosa Teles (estagiária) e Aline Braga

Num emaranhado criativo, entre rifes, nuvens de informações e desabafos vocais, entre o desabrochar e o ‘querer mais': é nesse lugar que se encontra a música atualmente produzida em Aracaju. Preocupados apenas em fazer o som que lhes convém, os novos alquimistas musicais criam suas possibilidades de crescimento, priorizando técnica, criatividade e união.

Por um lado essa união se transformou no Fórum de Música, atuante desde o final do ano passado. Nesse ambiente, músicos de várias bandas sentam para discutir o mercado e as estratégias de sustentação dos grupos musicais. Na verdade, o fórum já é resultado de uma movimentação por meio de coletivos, em parte influenciada pela rede Fora do Eixo.

Depois de alguns intercâmbios em 2009, pessoas como a produtora musical Elma Santos e o atual diretor da Rádio Aperipê, Edézio Aragão, perceberam que o alvo da Fora do Eixo era certeiro e resolveram seguir a onda. No início do ano, a circulação de bandas sergipanas lá fora, as trocas de informações pela internet e uma captação de recursos super independente geraram a turnê da rede, passando por Aracaju.

Com isso, o público da Rua da Cultura - uma iniciativa da Casa Rua da Cultura com o apoio da Prefeitura de Aracaju e do Ministério da Cultura - pode conferir os sons de Mini Box Lunar, do Amapá, e Nevilton, do Paraná. Pessoal que compartilha o mesmo feelling ‘faça você mesmo' e que faz a cena aracajuana caminhar com as próprias pernas.

Produção

"Aracaju nunca teve tanta banda boa", enaltece o vocalista da ‘Nantes', Arthur Matos. "Hoje em dia todo mundo tem as mesmas ferramentas. Basta saber se promover", completa. O vocalista da ‘Cabedal', Saulo Sandes, uma das bandas locais mais atuantes nos últimos dois anos, concorda com a opinião de Arthur e ressalta a importância da frequência com que grupos de outros estados têm vindo à cidade, para o crescimento da cena.

Sem dúvida essas bandas de fora também têm sido atraídas pela força com que as bandas locais divulgam e levam adiante seus trabalhos. A própria Cabedal - grupo novo com gente jovem reunida, fazendo uma mescla de rock-samba e que aos poucos desenha seu estilo - já lançou CD. No último mês de maio, no espaço Cultiva, o disco ‘O Novo Pastiche e o Pastiche Novo' denota essa experimentação tanto musical quanto de trabalho, de pensar a produção nesse mercado.

Se bem que, quem não canta, também espanta os males de um possível marasmo dando espaço para a turma extravasar. "Há uns três anos, Aracaju ficava no ostracismo. Iniciativas como a ‘Sessão Notívagos' [evento que une cinema e música e acontece dentro de um cinema da cidade] e o aparecimento de coletivos trouxeram para Aracaju bandas que eu nunca imaginei ver por aqui. Isso tudo movimenta, dá uma outra imagem à cena", comenta Sandes.

Junto e misturado

Alex Sant'Anna, que mantém carreira solo e ainda faz parte da banda ‘Naurêa', é um entusiasta ativo da música local. "O processo mudou muito de quando eu comecei pra agora. Hoje a banda já começa pensando em gravar, em criar. A Naurêa é um exemplo disso. Mesmo quando o show da gente parecia uma doidice, era uma doidice pensada. Se ficar um sabotando o outro, não vai pra frente. Não sei quem ganha", ressalta.

A Naurêa atualmente é um exemplo de 'banda mãe' - ao lado da Maria Scombona -, daquelas que atuam em todas as áreas. O integrante Márcio de Dona Litinha já tinha montado algumas bandas antes e estimulava essa veia musical em seus alunos de redação das escolas particulares de Aracaju. Alex Sant'Anna, além da carreira solo, criou o selo Disco de Barro, que aos poucos se insere no mercado para fazer a distribuição das bandas aracajuanas.

O último CD da Naurêa, ‘Babelesko', e o novo da Cabedal já saíram pelo selo. Leo Airplane também participa da banda Plástico Lunar, que tem algumas músicas dos discos ‘Próxima Parada' e ‘The Plastic Rock Explosion' integrando os downloads remunerados da Trama Virtual, além de ter participado este ano do Abril Pro Rock, um festival da música independente. E por aí vai.

Bem, as relações não acabam por aí. Há toda uma rede que interliga esse pessoal que, querendo ou não, leva nas costas a responsabilidade de fazer musicalmente a cabeça da galera. Leo Airplane é irmão de Alex que gosta pra caramba da Plástico Lunar, que tem como integrante Júlio Andrade, também um dos fundadores da banda The Baggios.

Fronteiras

A The Baggios é um duo bem sucedido de Júlio (guitarra e voz) com Gabriel Carvalho, o Perninha (bateria). Com disco para lançar ainda esse ano, gravado durante uma turnê em São Paulo, os meninos já passaram pelos festivais Big Bands e Música para todos os Ouvidos, de Salvador (BA), e pelo Festival DoSol, do Rio Grande do Norte. Apesar de o grupo ser de São Cristóvão, é em Aracaju que o pessoal toca e faz a cabeça da galera.

Aliás, é cada vez mais comum ver matérias, críticas e anúncios de shows de bandas aracajuanas Brasil afora. Graças à internet, a recente movimentação gerada por coletivos e muita perseverança, ultrapassar as fronteiras estaduais tem ficado cada vez mais fácil. 

"Com as redes sociais a gente acaba conhecendo gente do mundo todo e aí facilita pra marcar shows", afirma Arthur Matos, que prepara ainda para este semestre o lançamento do 2o disco da Nantes e uma turnê pelo nordeste.

Saulo Sandes também percebe a relevância da internet para a Cabedal. "A gente vende disco nos shows, mas disponibiliza o disco pra download. Também temos twitter, myspace, orkut, tudo... E isso já nos deu muitas repostas. Temos uma média de 40 ‘plays' por dia no Myspace. Isso é muito pra uma banda do nosso porte. Outro dia, o nosso disco entrou pra download num blog de São Paulo. Isso é uma resposta", diz.

Baterista de duas das bandas mais aclamadas de Aracaju, a recente instrumental ‘Ferraro Trio' e a roqueira clássica ‘Snooze', Rafael Jr. já fez algumas turnês pelo Brasil, mas hoje prioriza realizar shows na cidade, por razões de logística. "Já toquei no Brasil todo. Hoje é muito difícil largar família e os trabalhos que aparecem por aqui. A gente faz contatos fora, mas às vezes o custo não compensa. Estamos fazendo o nosso público aqui", comenta.

O representante da Naurêa, Alex Sant'Anna, diz carregar a frustração de não ter feito muitos shows país afora. "A gente ainda não conseguiu circular no Brasil, como a Patrícia Polyne faz, por exemplo. Isso é uma frustração e uma meta. A gente tem uma agência na Alemanha, mas não tem no Brasil. Por conta disso, acho que já rodamos mais a Alemanha do que o Brasil", reflete Alex.

Destaques

Gêneros e particularidades a parte, a nova música produzida em Aracaju traduz a diversidade, o bom humor e a jovialidade presentes no dia a dia da cidade. Outros representantes desse cenário de diversidade e experimentalismo são as bandas Elvis Boamorte e os Boa Vidas, Corações Partidos, Maria Scombona, Reação e Alapada. E a todo momento surgem novos talentos e sons que dão fôlego à produção local.

Confira o Myspace de algumas bandas da cena local:

Alex Sant'Anna: www.myspace.com/alexsantanna
Banda dos Corações Partidos: www.myspace.com/coracoespartidos
Cabedal: www.myspace.com/cabedalmusica
Elvis Boamorte e os Boa Vidas:  www.myspace.com/elvisboamorteeosboavidas
Ferraro Trio: www.myspace.com/ferrarotrio
Maria Scombona: www.myspace.com/mariascombona
Nantes: www.myspace.com/nantesbr
Naurêa: www.myspace.com/naurea
Patrícia Polyne: www.myspace.com/patriciapolayne
The baggios: www.myspace.com/baggios
Alapada: www.myspace.com/bandaalapada

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