Artistas locais alcançam o Brasil e o exterior

Agência Aracaju de Notícias
03/09/2010 09h41
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Por Gilmara Costa

Criatividade e produção crescente são traços marcantes da movimentação cultural aracajuana, que tem avançado as divisas do estado e as fronteiras do país, encantando gente do mundo inteiro. Basta uma breve pesquisa nos nomes de veteranos e calouros das mais variadas vertentes da cultura - artes plásticas, teatro, dança, literatura e fotografia - para verificar que tem muito artista da capital apresentando seus trabalhos em outros mercados, levando na bagagem a marca ‘made in Aracaju'.

A artista plástica Hortência Barreto é uma dessas figuras que já percorreu caminhos em São Paulo, foi à França, visitou Barcelona e mais recentemente participou de uma exposição coletiva no Vaticano, onde mostrou o seu mundo multicolor através dos tecidos. "Fui para a França no início da década de 1990. Foi minha primeira viagem para o exterior e lá vivenciei coisas novas, fui bastante questionada pelo trabalho que levei que tinha como tema aspectos nacionais, a exemplo do povo indígena. Fui muito bem recebida, mas faltava algo, faltava a minha marca registrada", lembrou a artista.

O encontro de Hortência com sua arte aconteceu 10 anos depois de sua viagem ao continente europeu. Nas reminiscências de sua infância, no município de Nossa Senhora das Dores, que a artista se redescobriu e fez a sua marca. "Com esse meu trabalho de reverenciar a atividade manual das bonequeiras, das rendeiras e das costureiras encontrei a minha marca. Através da técnica de colagem e textura, exploro as rendas, tecidos, chitões e bordados nas minhas peças, revivo a minha infância e mostro todo esse universo pueril e colorido", disse.

Assim como a artista atravessou o oceano e foi à Europa, o fotográfo Lúcio Telles teve como destino o Maison Du Patrimoine de Saint Julien les Villas, na França, para a exposição do seu trabalho sobre as manifestações culturais sergipanas. Lambe Sujo, Taieiras, Reisado, São Gonçalo e Parafusos foram algumas das expressões folclóricas que participaram da coletânea ‘Brasil Sergipanidade' que Lúcio expôs aos franceses.

Marinheiro de primeira viagem em mostras internacionais, Lúcio afirma ter aproveitado bastante o intercâmbio com outros mercados. "Foi muito legal a temporada por lá. Tive uma boa recepção do pessoal, acabamos trocando experiências e acabei desmistificando mitos que os estrangeiros têm do nosso Brasil. Muitos viam as fotos do Lambe Sujo e reisado e achavam que tudo era Carnaval. Foram 60 dias, pois ainda consegui uma segunda exposição, e já programei mais uma na Espanha para o próximo ano", revelou.

Música e dança

A música e dança de Aracaju também têm seu espaço e público garantidos nos estados brasileiros e no exterior. Levando à risca a afirmativa de que a música é universal, a banda sergipana Naurêa mostrou como o som da zabumba e do triângulo contagia qualquer cidadão do mundo. Que o diga os alemães. A banda já fez quatro turnês pela Alemanha e os resultados são cada vez mais positivos, solidificando o sucesso do grupo sergipano Brasil afora.

"A receptividade das turnês foi maravilhosa. Fomos bem recebidos nas cidades que visitamos e olha que foram muitas. Aliás, é até uma frustração para gente, pois o número de cidades por onde passamos na Alemanha é bem maior do que as visitadas aqui", diz Alex Santana.

Outro grande destaque do cenário nacional é a cantora e compositora sergipana Patrícia Polayne, ganhadora de inúmeros prêmios país afora. O mais recente deles foi o de Melhor Música com Letra e Melhor Arranjo com a sua canção ‘Arrastada', no Festival Nacional de Música da Arpub (Associação das Rádios Públicas do Brasil).

"Vivo da música, para a música e pela música. A vida toda eu só vivi disso. E a prova de que nunca estive errada é esse prêmio. Sou mulher, compositora, do menor estado do Brasil. Sou pequena, mas a gente pode ser muito grande quando quer e acredita", disse a artista, ao receber o prêmio das mãos de Orlando Guilhon, presidente da Arpub.

Com sua voz doce e afinada, interpretação vigorosa e um trabalho autoral que mistura referências como Tropicália, música latina e ritmos afrobrasileiros, a artista tem sido reconhecida por grandes nomes da música brasileira depois que gravou seu disco ‘O Circo Singular', com produção impecável de Junior Areia, baixista do Mundo Livre S/A, e a participação especial de Roberto Menescal.

A Companhia Cubos de Dança e a dançarina Maíra Magno também são bons exemplos da cultura ‘made in Aracaju'. Enquanto os cinco jovens dançarinos percorrem o país de norte a sul, levando a beleza e o profissionalismo dos espetáculos ‘Brincando', "Mulpleto' e ‘Reverso', a veterana professora de dança do ventre já espalhou seu charme e encantou o público nos palcos do Cairo, Líbano e Tunísia.

"Nos lugares que já visitamos, em todos fomos muito bem recebidos. Em São Paulo, Joinvile [SC], Recife [PE], a receptividade do público foi maravilhosa. E espero que cheguemos a conquistar outros lugares, até mesmo fora do país. Esse intercâmbio com outros artistas, de outras localidades, até mesmo contribui para o nosso crescimento como profissional e nos faz pensar, avançar nos espetáculos", disse o bailarino e diretor da Cia Cubos de Dança, Rodolpho Sandes.

Já a dançarina Maíra se diz satisfeita com os lugares que visitou mostrando o seu trabalho. "Viajei muito e tive boas oportunidades de trabalhar fora. Já dei cursos de dança do ventre na França, fui convidada para participar de espetáculos dos grandes nomes da dança árabe. Até mesmo de um reality show de dança participei no Líbano. São viagens produtivas, sempre aprendendo", contou Maíra.

Adversidades

Mas como nem tudo são flores, alguns artistas aracajuanos destacam a falta de valorização do produto aqui em Sergipe. Segundo a categoria, muitas vezes é preciso ganhar reconhecimento lá fora para depois ganhar o prestígio do público local. De acordo com a artista Hortência Barreto, a receptividade do lado de lá é mais calorosa do que a aceitação do lado de cá.

"Tudo que é daqui é deixado para escanteio. Lá fora me tratam a pão de ló, enquanto que aqui é pão e água. Falta termos uma curadoria mais técnica para avaliar e gerenciar tudo que é produzido em Sergipe. Aqui sempre temos a mania de valorizar mais o quintal do vizinho e acabamos por ignorar o nosso terreno", relatou Hortência.

Assumindo as dificuldades do meio artístico em sobreviver de arte em Sergipe, e sem almejar riquezas, Maíra diz que, apesar de tudo, vive da dança e garante não deixar Aracaju por nada. "É complicado fazer público, mas tenho visto crescer nos festivais que produzo. Então isso reflete que o trabalho é bom. Aqui temos qualidade de vida. Dou minhas aulas, ganho o necessário para viver bem. Quando não ganho, estico daqui e dali e vivo. Aracaju é um lugar para se viver bem. Já tive oportunidade de ir morar em outros lugares, mas prefiro ficar por aqui", ressaltou.


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