Periferia surge como reduto de novos talentos

Agência Aracaju de Notícias
04/09/2010 08h00
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Por Maria Rosa Teles

Berçário dos grandes movimentos culturais, as áreas periféricas das grandes cidades são universos repletos de cores, texturas e sons. Samba, blues, jazz, kuduru, hip-hop, reggae e manguebeat são exemplos de interpretações genuínas das raízes africanas plantadas em diversos pontos do globo. Como nicho cultural promissor, Aracaju também abarca uma periferia culturalmente enérgica e difusora da arte local.

É o caso do grupo percussivo ‘Lateiros Curupira', que nasceu em 2001 no ‘Alto da Jaqueira', bairro Santo Antônio, depois de uma oficina de coordenação motora ministrada pelo percussionista Gladston Batista dos Santos, popularmente conhecido como ‘Ton Toy', em parceria com o grupo de teatro ‘Imbuaça'. Em 2009, os Lateiros se apresentaram na 40a edição do ‘Festival de Jazz de New Orleans', nos Estados Unidos. 

O grupo fez parte de um projeto social do ‘Instituto Recriando', mas hoje funciona de forma independente e recebe apoio de entidades governamentais e particulares.  "A oficina é aberta, mas existem regras. A arma que eu tenho é a percussão. Mais de mil crianças e adolescentes já passaram por ela", conta Ton Toy, que hoje trabalha com cerca de 25 jovens. "A ideia agora é conseguir registrar e buscar novos apoios", completa.

Apesar de todas as conquistas dos Lateiros Curupira, Ton Toy reforça a importância do acompanhamento da família e da escola na vida dos seus pupilos. "A escola tem que ser a coisa mais importante pra eles. Digo isso, mesmo vendo os meninos tocando profissionalmente no Lateiros e com outros artistas. Faz parte do processo botar na cabeça deles a coisa da formação. Muitos deles já estão estudando música popular. Eu não sou um formado, mas sou um sortudo", ressalta com um sorriso.

Gladston dos Santos Rodrigues é um dos frutos da perseverança de Ton Toy. O jovem de 20 anos faz parte do grupo desde os 14 e, aos poucos, vem se tornando conhecido no meio musical da cidade. "Comecei a fazer as oficinas porque um primo, que já fazia parte do grupo, me chamou pra ver um show e eu gostei. Meu pai é guitarrista eu já tocava. Aqui aprendi as técnicas e acabei tendo conhecimento dos ritmos, principalmente os sergipanos, que eu não conhecia", afirma.

O chará do mestre hoje toca na ‘Orquestra Sanfônica de Aracaju' - mantida pela Prefeitura Municipal de Aracaju - e em bandas de ‘axé' e ‘pagode'. No futuro, pretende fazer o curso superior de música. "Faço supletivo e quero fazer faculdade de música. Se eu não estivesse no Lateiros, não sei onde estaria agora", dispara Gladston Rodrigues.

Reação

Em outro bairro da periferia da cidade, o Santos Dumont, nasceu na década de 90 uma das bandas mais representativas da música local, a ‘Reação'. Hoje conhecida por qualquer ‘regueiro' e crítico especializado do Brasil, a Reação também tem suas raízes em projetos sociais. "Esse foi um dos primeiros lugares onde fiz técnica vocal com o ‘Grupo Quilombo'", diz J. Moziah, vocalista da banda, ao entrar no auditório do Centro de Criatividade, onde a entrevista para Agência Aracaju de Notícias (AAN) foi realizada.

J. Moziah, carinhosamente conhecido por Júnior, afirma sempre ter tido acesso a música muito cedo, apesar das dificuldades. "Meu pai tocava ‘pagode de raiz' e tinha uma coleção de mais de 1000 discos. Com sete anos eu já cantava, já gostava, e com 17 comecei a tocar cordas", expõe.

 "Sempre fui muito influenciado pela música negra. Quando comecei a tocar profissionalmente [na segunda metade dos anos 90], o ‘Olodum' estava em alta e tinha aquela coisa panfletária. Também ouvia muito Gilberto Gil. Nessa época comecei a cantar na ‘Caras Pintadas', que era uma banda afro, e depois na Reação. Foi aí que as coisas começaram a andar", conta Júnior, dedilhando um violão.

Em fase de pré-produção do segundo disco - ainda sem nome -, a ‘Reação' desenvolve, ao longo da sua carreira, projetos como a ‘Rua da Alegria', um espaço para a prática de atividades desportivas, palestras e música, no bairro Santos Dumont. "Com a música, a gente já conseguiu muita coisa pra nossa comunidade. Coisas básicas como poste, água, mas que, pra quem não tem, são como ouro. Não sei se sabemos reivindicar da forma certa, mas qualquer lugar pode melhorar e se tornar um ponto de cultura", observa Júnior.


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