Hoje tem teatro na Praça da Juventude

Agência Aracaju de Notícias
09/09/2010 12h08
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É uma saga medieval, mas se encaixa perfeitamente no mundo contemporâneo. Quem for ver o espetáculo do grupo de teatro mineiro Galpão esta noite vai entender por que o personagem Till poderia viver em qualquer uma das cidades brasileiras na atualidade. Feita para ser apresentada na rua, a peça ‘Till, a saga de um herói torto' começa às 19h na Praça da Juventude, no conjunto Augusto Franco.

Nove atores estarão em cena. Para tudo dar certo, o produtor Evandro Alves começou a montar a estrutura logo cedo, às 8h. É um cenário de 16 m2 que, além da produção do próprio grupo, exige a contratação de mais 10 carregadores locais para a montagem. O grupo, que depois passará pelas cidades de Propriá, Canindé do São Francisco, Penedo, Paulo Afonso e Petrolina, tem 18 pessoas e recebe patrocínio exclusivo da Petrobras.

Agora dedicados à turnê ‘Rio Francisco', os integrantes fazem pequenas alterações no texto dependendo da cidade onde estão, assim como acontecerá em Aracaju. As últimas visitas do grupo à cidade foram com os espetáculos ‘Um Molière Imaginário' e ‘Um homem é um homem'.  De acordo com o ator Eduardo Moreira, que interpreta o cego Doroteu, o Galpão tem na bagagem viagens à América do Sul, Canadá, Costa Rica e países da América do Sul, e entende de fazer um espetáculo multifacetado. Confira a seguir uma entrevista exclusiva com o ator:

Agência Aracaju de Notícias (AAN): Que mensagem o grupo quer passar com o espetáculo?
Eduardo Moreira (EM):
Acho que ele é muito popular, com uma linguagem muito acessível, tudo com essa proposta do Galpão, de rua. Utilizamos música, muita narrativa, diretamente para o público, e sendo uma saga de um miserável, o texto tem uma atualidade muito grande. Estamos vivendo uma época onde as hordas de miseráveis se espalham mundialmente, uma Idade Média meio às avessas com todo esse aparato tecnológico, desigualdade, absurdos. E essas hordas caminham excluídas, marginais, exiladas, emigrantes. Acho que a peça traz essa realidade, e o público faz essa ligação a partir da história desse personagem. Till é uma criança abandonada e a partir daí já existe uma ligação com os dias atuais. Qualquer cidade brasileira onde você anda, pode ver a quantidade de crianças abandonadas.

AAN: Como foi o processo de montagem?
EM:
O processo foi coletivo desde o começo, inclusive para a escolha do texto e do diretor. Montamos várias cenas, feitas internamente. Foi um processo muito coletivo, montamos quatro possibilidades para escolher entre elas.

AAN: Sendo assim, é um espetáculo para crianças também?
EM:
Sim, e isso o Galpão sabe fazer muito bem, a linguagem do teatro de rua, fazer um espetáculo que se comunique com todas as idades, classes sociais, formações. É um espetáculo bem geral, público, da rua mesmo.

AAN: Qual é a trajetória do seu personagem na peça?
EM:
O Doroteu faz parte de uma trinca de cegos com um chefe autoritário, o passivo, e ele, que faz o revoltado. Em um determinado momento ele tenta matar o chefe e tem uma discussão. Um tem uma visão de que o mundo caminha para frente e outro acha que não, acredita que o destino é a decadência. O outro também acredita que a Revolução Francesa vai chegar, ele não fala claramente, mas acredita no fim de Deus. Isso não está colocado em termos teóricos, mas permeia a ação deles. Há uma disputa filosófica entre os dois cegos nesse aspecto.

AAN: Por meio da experiência de apresentar em vários lugares diferentes, é possível dizer que o teatro fala mesmo de sentimentos universais?
EM:
Acho que o teatro tem essa capacidade, são temas absolutamente universais. Tem um pouco a ver com a coisa do teatro passar por outras esferas que não meramente a esfera da palavra, tem uma comunicação visual, e isso transpõe barreiras.