Unidade de Saúde aposta na fitoterapia

Febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações. Aí estão alguns sintomas clássicos da dengue, doença geralmente tratada com medicamentos à base de paracetamol. O que muitos não sabem é que na natureza existem várias plantas que podem ajudar no tratamento de pacientes. Para a dengue, por exemplo, é recomendado o ‘cravo de defunto'. O uso de plantas com fins medicinais é anterior ao ano de 2.000 a.C. e essa prática secular continua até hoje nas civilizações mais modernas.

Já é política nacional a implantação de medidas integrativas dentro da atenção básica, como a fitoterapia, homeopatia e massagens. Os resultados dessas práticas são positivos no tratamento de várias doenças e a adesão à fitoterapia é cada vez maior entre os profissionais de saúde. Diante disso, os profissionais do bairro Jabotiana, em Aracaju, já trabalham há mais de 10 anos com ervas medicinais.  Assim, quando se pensou em construir a Unidade de Saúde Manoel de Souza Pereira, os profissionais tiveram a idéia de criar um herbário para colocar em prática a utilização de plantas para o tratamento de doenças e a recuperação da saúde. 

De acordo com a enfermeira sanitarista da unidade, o herbário ainda está em fase de implantação. "A gente tem algumas ervas e faz alguns produtos para distribuir para os usuários da nossa área. Infelizmente o herbário ainda é pequeno e estamos buscando melhorar a logística de produção", conta Irene Alves de Deus.

Além de produzir medicamentos com folhas e flores das plantas, a equipe prepara lambedores e sabões, estes últimos utilizados principalmente na cura do ‘pano branco' e fungos de pele. "A depender da doença e do tratamento, nós procuramos qual o melhor medicamento para o paciente. Procuramos trabalhar basicamente com as doenças que mais afetam a nossa comunidade, como infecção respiratória aguda e problemas de pele", explica a enfermeira.

Participação

Quem cuida das plantas do herbário são os próprios profissionais da unidade e alguns usuários que apoiam o projeto e ajudam a manter o local. Para capacitar os profissionais e explicar o objetivo da plantação para a população local, foram realizados dois seminários com a entrega de certificados, antes da construção do herbário. "A comunidade trouxe sementes, plantas e nós construímos. Já estamos no terceiro canteiro e vamos construir o quarto", declara Irene.

A enfermeira alerta, contudo, que é preciso cautela na utilização de plantas como medicamentos.  A fitoterapia é uma prática integrativa, ou seja, se integra a outras ciências na forma de tratar. Doenças mais graves, como o câncer, não podem ser tratadas apenas pela medicina alopática. "Há pessoas que têm câncer e utilizam o suco do ‘None' para aumentar a imunidade. Esse tratamento, junto com o tradicional, tem apresentado uma boa resposta à quimioterapia", conta Irene.

Ampliação

A Prefeitura de Aracaju pretende ampliar o herbário da USF Manoel de Souza Pereira, com a construção de uma estrutura específica para a produção de sabão, lambedor, xarope, e também para capacitar usuários e profissionais a ampliar essa prática para outras unidades de saúde da capital sergipana. "Atualmente, se há algum paciente que quer utilizar os medicamentos, eles são encaminhados para cá e nós analisamos, pois a coleta tem que ser feita de forma adequada. Infelizmente a distribuição dos medicamentos fitoterápicos é restrita ao bairro, pois não temos muita oferta", afirma Irene.

Há também um herbário do Parque da Sementeira, que tem mais plantas e pode atender outras comunidades. Além disso, está sendo construído na Unidade de Saúde da Família Irmã Caridade, no povoado Aloque, um novo herbário, que ampliará o acesso a esse tipo de tratamento.

Recomendações

A lista das plantas utilizadas na saúde pública está disponível na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e todos os herbários só cultivam espécies que já estão autorizadas para o consumo. É importante frisar que qualquer medicamento, inclusive os fitoterápicos, só deve ser consumido seguindo orientação médica, pois existem plantas extremamente tóxicas e que podem levar ao óbito.

Confira o nome de algumas plantas utilizadas no tratamento de doenças:

None: o suco da planta é usado para pacientes com câncer, pois ele aumenta a imunidade.

Alumã: o chá é utilizado para problemas hepáticos

Saião: usado como antiflamatório e na fabricação do lambedor

Babosa: usado como curativo de queimadura

Cravo de Defunto: o chá das flores melhora os sintomas da dengue

Verjão: antiflamatório

Boa- noite: utilizado para fungo de unha

Erva de Santa Maria: utilizado na fabricação do sabão

Penicilina: antibiótico

Lambedor: utilizado para crianças com infecção respiratória aguda