Depois de 13 anos de luta contra o câncer, o ex-vice-presidente da República José Alencar morreu nesta terça-feira, 29 de março, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. José Alencar, que tinha 79 anos, foi internado às pressas na tarde de ontem, com um quadro de obstrução intestinal. Grande admirador do ex-vice-presidente, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, lamentou profundamente a morte de um dos maiores nomes da política brasileira dos últimos tempos.
"Foi uma grande perda para o nosso país. José Alencar era um homem raro porque tinha três características fundamentais. Primeiro era um grande empreendedor, um homem que passou de vendedor de loja a um dos maiores industriais do país, gerando emprego e renda. Em segundo lugar, ele era um grande brasileiro, tendo lutado para construir um país melhor, mais justo e desenvolvido. Ele era um cidadão que amava seu país e lutava de forma muito efetiva para que o Brasil progredisse. A terceira característica era a coragem, que mostrou como empresário, como político e, principalmente, na luta contra o câncer", afirmou Edvaldo.
Na opinião do prefeito de Aracaju, José Alencar encarou a doença com uma força admirável, e deu um grande exemplo a todos os brasileiros. O ex-vice-presidente fez inúmeros tratamentos no Brasil e nos Estados Unidos. Ao todo, ele passou por 17 cirurgias. Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, com quem teve três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia. "Ele passou por muitas dificuldades, mas nunca se abateu. Estava sempre sorrindo, com ar de esperança, porque, acima de tudo, acreditava na vida. Ele mostrou pra todos nós que nunca devemos nos intimidar, que temos que enfrentar as dificuldades de cabeça erguida, com altivez e esperança no futuro. Esse é um exemplo que vai ficar para sempre", disse o prefeito.
Velório
O velório do ex-vice-presidente da República acontece nesta quarta, 30, a partir das 10h30, no Palácio do Planalto, e será aberto ao público. O corpo de Alencar chega à Base Aérea de Brasília às 9h15 e será recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente em exercício, Michel Temer, e pelos presidentes do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, do Senado, José Sarney, e da Câmara, Marco Maia.
Em seguida, ele será levado em carro do Corpo de Bombeiros em cortejo fúnebre até o Palácio do Planalto, onde passa o dia sendo velado pelo público e autoridades. Dilma e o ex-presidente Lula devem chegar de Portugal no início da noite para participar do velório. Na manhã de quinta, 31, o corpo vai para Belo Horizonte, onde será novamente velado, desta vez no Palácio da Liberdade
Na qualidade de presidente em exercício, Michel Temer decretou luto de sete dias pela morte de José Alencar. A bandeira do Brasil foi hasteada em frente ao Planalto a meio mastro. "Assinei decreto de luto oficial por sete dias, sendo certo que o ex-vice-presidente receberá as honras fúnebres de chefe de Estado justificadamente, porque sua Excelência exerceu durante praticamente um ano a Presidência da República em face das viagens do ex-presidente Lula", disse Temer na tarde desta terça.
Trajetória
José Alencar Gomes da Silva nasceu no vilarejo de Itamuri, no município de Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931. Era o 11º filho de um total de 15 do comerciante Antônio Gomes da Silva e da dona de casa Dolores Peres Gomes da Silva. Alencar deixou a casa dos pais aos 14 anos para ser balconista de uma loja de tecidos m sua cidade natal. Dois anos depois, mudou-se para Caratinga (MG), onde continuou a trabalhar como vendedor.
Quando completou 18 anos, Alencar foi emancipado pelo pai, pegou dinheiro emprestado com o irmão mais velho, Geraldo Gomes da Silva, e abriu o próprio negócio. Em 31 de março de 1950, abriu a primeira empresa, ‘A Queimadeira', onde vendia tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas e sombrinhas. Para economizar, morava na própria loja.
Com o apoio dos irmãos, o ex-vice-presidente manteve a loja até 1953, quando decidiu vendê-la e mudar de ramo. Tornou-se representante comercial de um fabricante de tecidos do Rio de Janeiro, trabalhou na área de cereais e foi sócio de uma fábrica de macarrão. Em 1959, o irmão mais velho de Alencar morreu em Ubá, também em Minas, e ele assumiu os seus negócios.
Em 1967, em parceria com o empresário de beneficiamento de algodão e deputado Luiz de Paula Ferreira, Alencar fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, a Coteminas, que se tornaria um dos maiores grupos têxteis do Brasil. Em 1975, ele inaugurou a mais moderna fábrica de fiação e tecidos do país.
O ex-vice-presidente atuou em entidades representativas do empresariado. Foi presidente da Associação Comercial de Ubá e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), além de vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Vida política
Na vida política, em 1994, candidatou-se ao governo de Minas e, em 1998, elegeu-se senador pelo PMDB, com quase 3 milhões de votos. No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura e membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e da Comissão Permanente de Assuntos Sociais.
Em 2003, Alencar foi eleito vice-presidente na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário mineiro teve papel fundamental para que Lula ganhasse a confiança do empresariado durante a campanha eleitoral. Em 2006, foi reeleito para o cargo.
No governo, Alencar acumulou a Vice-Presidência com o cargo de ministro da Defesa, de 2004 até março de 2006, quando se licenciou do ministério para concorrer novamente às eleições presidenciais.
Filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), Alencar fez várias críticas à política econômica adotada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) e virou símbolo dos que pediam a redução da Taxa Básica de Juros (Selic).
Com informações da Agência Brasil e do portal globo.com