A noite dessa quarta, 18, foi rica em aprendizado no Núcleo de Produção Digital (NPD) Orlando Vieira, onde foi realizado o Encontro Sergipano de Cinema. O evento, que reuniu estudantes, profissionais e admiradores do audiovisual, contou com a exibição de dois curtas-metragens sergipanos produzidos na década de 1970 e com palestra sobre a história da Arte Cinematográfica em Sergipe.
Abrindo a programação, o cineasta, pesquisador e coordenador do núcleo regional do Centro de Pesquisadores de Cinema Brasileiro (CPCB), Djaldino Mota, relatou a trajetória e evolução do cinema no estado, citando a façanha dos pioneiros, que, com muita dificuldade, produziram pequenos registros cinematográficos do cotidiano. Passeatas, procissões e jogos de futebol eram os principais acontecimentos registrados pelos cineastas Clemente Freitas, Evaldo Costa e Waldemar Lima.
Um dos principais eventos da cinematografia em Sergipe foi a Feira Nacional de Cinema de Aracaju (Fenaca). Segundo Djaldino, o evento reunia cineastas de diversas regiões do Brasil na capital sergipana para a exibição de curtas-metragens, palestras e oficinas. Das nove edições que ocorreram, saíram muitos profissionais que hoje trabalham firmemente com o audiovisual, seja dentro ou fora do estado.
Os cineclubes, como o Centro de Estudos de Cinema de Aracaju (1963-64) e o Clube de Cinema de Sergipe (1966-2010), além da exibição de filmes fora dos festivais, também contribuíram muito para incentivar a produção cinematográfica local. "Geralmente os filmes eram rodados em formato Super8, de forma precária, que, mesmo sendo o formato mais barato, estava restrito a uma pequeníssima parcela da população que podia arcar com os custos", relatou Mota.
Dificuldades
Passando pelas décadas, o coordenador regional do CPCB contou um pouco das dificuldades enfrentadas no passado e falou sobre as maneiras de burlar a censura durante o Regime Militar, a exemplo da exibição de obras como 'O Encouraçado Potenkim', de Sergei Eisenstein (1925), em escolas de ensino médio. Segundo Djaldino, a maioria das realizações não era finalizada.
O palestrante ressaltou também a importância de se produzir cada vez mais registros cinematográficos e de organizar novos festivais, como o Curta-SE e o Sercine. Logo após a palestra, Djaldino Mota distribuiu para os espectadores o livro 'Cadernos de Pesquisa', escrito pelos pesquisadores de cinema brasileiro da CPDB. A obra contém um artigo do próprio Djaldino sobre o cineasta estanciano Clemente Freitas.
Em seguida, a noite foi encerrada com a exibição dos curtas 'Taieira na Festa de Reis' (dirigido por Djaldino Mota) e ‘São João: Povo em Festa' (dirigido por Marcelo Déda Chagas).
Identidade
A ideia de realizar o Encontro Sergipano de Cinema partiu do próprio Djaldino Mota, que viu a necessidade de contar um pouco do passado cinematográfico de Sergipe aos novos empreendedores. "Vejo uma produção cinematográfica muito mais variada do que há 30, 40 anos. Fazer filmes hoje está mais fácil e barato, e levar essa nova geração a conhecer o cinema sergipano nos seus primórdios é fundamental", disse o cineasta.
O fotógrafo e historiador Jairo Andrade, ouvinte da palestra, concordou com Djaldino. "Quanto mais se abre a porta para o conhecimento, melhor. Tanto para os que têm algo a passar, quanto para os que vão usufruir desse conhecimento a partir de agora", elogiou.
A coordenadora do NPD, Graziele Ferreira, concordou com Jairo. "Conhecer o cinema sergipano mais a fundo é uma forma reconhecer o trabalho desses cineastas e de procurar ver as semelhanças no estilo de cada autor, o que garante ao cinema daqui uma identidade própria", avaliou.