Já é São João na Biblioteca Municipal Clodomir Silva. Quebrando a rotina de silêncio, a quadrilha junina do grupo Nova Vida abriu a programação especial da instituição para este mês na tarde da última quinta-feira, 9. O grupo, mantido pelo Sesc, é formado por idosos do Bairro Siqueira Campos. Apesar da idade, a turma mostrou fôlego de dar inveja.
"O nosso objetivo é aproveitar o período das festas juninas para aproximar esse público da instituição, do contato com os livros", explica Tarcísio Bruno, diretor da biblioteca. O evento foi prestigiado por estudantes e moradores do bairro, a exemplo de Virgínia Teles. A diarista de 45 anos ouviu o som da sanfona, triângulo e zabumba do lado de fora da biblioteca e resolveu entrar para uma olhada. "A quadrilha está muito linda. Adorei mesmo. Junho é o mês que eu mais gosto. Gosto dessa animação", elogia.
A energia dos brincantes contagiou o público, deixando o principal salão de leitura da biblioteca lotado. As estantes, postas no canto do recinto, deram lugar às estampas coloridas das roupas dos quadrilheiros. Ao som das palmas, os idosos dançaram o xote, xaxado e ainda tiveram pique para quebrar o caranguejo. "Eu queria chegar na idade deles com essa energia toda. A quadrilha está muito bem ensaiada e os passos ficaram lindos", afirma Jéssica Lima, 18, estudante de uma escola da rede privada do bairro.
O senhor Heribaldo Doroteu e dona Maria Luíza voltaram aos tempos de namoro. Casados há 36 anos, os dois foram os noivos da quadrilha. "Depois que ele se aposentou, eu o arrastei comigo para a quadrilha. Esse já é o segundo ano que a gente dança junto", revela dona Luíza. "Com esse charme, não tinha como eu dizer não. Mas isso aqui é muito bom. Ao invés de ficar em casa sem fazer nada, estamos ocupando a mente e o corpo", responde Heribaldo.
Tradição
"Esse evento também é uma maneira de valorizar as manifestações culturais do bairro Siqueira Campos, que não são poucas", explica Tarcísio. Ele conta que o bairro, um dos mais antigos de Aracaju, é um forte bastião da cultura popular sergipana. "Além desse grupo de idosos, nós já também mapeamos as manifestações folclóricas fomentadas pelas escolas e estamos estreitando os laços com a associação de moradores para poder aprofundar mais ainda essa descoberta cultural", declara o diretor.
O professor de literatura, Dicson Soares, aproveitou para parabenizar a iniciativa. Ele trouxe a sua turma de alunos para assistir à apresentação do grupo Nova Vida. "É muito importante manter os jovens em contato com a tradição. O bairro Siqueira Campos é muito rico cuturalmente. Aqui a gente encontra a Chegança e outros folguedos", afirma.
Antigo bairro do Aribé, o Siqueira Campos ganhou esse nome depois da revolução tenentista de 1930. Migrantes de várias regiões do estado lá se instalaram fugindo da seca e das turbulências dos conflitos entre o cangaço e a volante. "As manifestações culturais típicas de cidades do interior como Santo Amaro são encontradas aqui porque são transmitidas pelos moradores mais antigos. Por isso é fundamental aproveitar esse conhecimento", avalia o professor.
Programação completa
As atividades festivas continuam durante todo o mês de junho na Biblioteca Clodomir Silva. No dia 13, se apresenta a quadrilha Mirim do Colégio Unificado às 9h. no dia seguinte, é a vez da apresentação cultural do CAPS Antônio Bispo do Rosário, às 15h. Já na tarde do dia 15, também a partir das 15h, tem desfile de material reciclado do Colégio Unificado, apresentação de Trio Pé de Serra e apresentação cultural da Escola de Artes Valdice Teles. Fechando a programação, no dia 20 se apresenta a quadrilha mirim do Colégio Estadual Presidente Vargas às 10h.
