Na manhã desta quinta-feira, 4, uma aula especial marcou a vida de alunos com deficiência atendidos no Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento a Pessoas com Deficiência Visual (CAP), da Prefeitura de Aracaju. Eles participaram de uma aula experimental de capoeira e puderam aprender os primeiros passos do esporte deixando de lado suas limitações físicas.
De acordo com a coordenadora do CAP, Joana D'arc Meireles, o objetivo é a implantação de um projeto de capoeira inclusiva. "Pensando nisso, realizamos hoje uma aula experimental para perceber a aceitação dos nossos beneficiados e já é evidente que há uma interação muito boa entre eles. Acredito na sensibilidade do secretário municipal Antônio Bittencourt e tenho certeza que a Semed vai abraçar essa idéia com carinho", desejou a coordenadora Joana D'arc.
Eraldo Gabriel, mais conhecido por beija-flor, é mestre de capoeira e o idealizador do projeto intitulado ‘Afro-Negaça Capoeira Inclusiva: arte-terapêutica de sentir-se bem', que pretende promover um projeto de educação inclusiva pioneiro em Sergipe.
"Trabalho com essa vertente há 15 anos e implantei o mesmo projeto em 22 estados no Brasil, além de Portugal e Argentina. Aqui, em Aracaju, desejo resgatar a cidadania de pessoas com deficiência através da capoeira e, ainda, implementar no currículo escolar a cultura afro-brasileira", afirmou o professor, especialista em capoeira inclusiva.
Para ele, a capoeira trabalha dentro das possibilidades de cada um, equilibra as tensões musculares crônicas bastantes comuns em pessoas com deficiência e ajuda a ter consciência corporal ao desenvolver noções de locomoção, lateralidade e força. "A capoeira vai somar, dando mais equilíbrio, trabalhando elevação da autoestima, noção de espaço e tempo, sociabilidade e questões psicomotoras. A música também é uma aliada nesse processo porque funciona como terapia", explicou.
Vontade
Ainda segundo o professor, 17% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência. "São quase 30 milhões de pessoas no país. Não podemos fechar os olhos para essa realidade. A maior dificuldade encontrada pelas pessoas com deficiência é o preconceito e dentro da escola, muitos professores se dizem despreparados para receber um aluno com deficiência, mas e as famílias estão prontas para isso? Preconceito é apenas medo de lidar com a diferença. E deficiência não é doença", refletiu Beija-flor, entusiasmado com a força de vontade dos alunos.
Aprovação
O aluno Roberto de Jesus Menezes, de 52 anos, frequenta o CAP semanalmente. "A aula foi muito boa, maravilhosa. Estou sem palavras para descrever. É uma grande terapia para desenvolver nossa coordenação motora, além do momento de alegria e descontração", contou.
Já Maria Dênia, de 34 anos, disse ter gostado da aula experimental de capoeira. "A vibração do professor nos contagiou. Quero continuar com a capoeira. Nunca tinha pensado em fazer uma atividade como essa, mas gostei bastante. Já faço aula de dança do ventre e agora terei mais uma oportunidade para cuidar mais do corpo".
CAP
Localizado no bairro São José e mantido pela Secretaria Municipal da Educação (Semed), o CAP é um espaço que garante a inserção social através da educação. Atualmente são atendidas 152 pessoas com deficiência visual, incluindo cegueira total e baixa visão. No local são ministradas aulas de braile, sorobã (técnica do uso da matemática), orientação e mobilidade (uso da bengala), educação física, música e estimulação precoce.