Os 16 agentes de Redução de Danos (RD) recém-empossados da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) estão participando de um processo intensivo de formação. Nesta segunda-feira, 10, no quinto encontro pedagógico, os redutores de danos estão estudando temas como ‘Construção de acordo de convivência', ‘O significado das drogas na história e nas culturas', ‘Drogas: usos e usuários', ‘Estratégias de RD- Metodologia qualitativa/Etnografia: trabalho de campo e sobre Redução de Danos: história, princípios e estratégias'.
Na próxima quinta-feira, 13, eles estarão em atividade de campo, acompanhados pelos coordenadores do curso. E finalmente, na sexta-feira, 14, para encerrar a primeira etapa da formação, os novos agentes vão planejamento o início das ações de campo.
Na última sexta-feira, 7, os RD, conheceram o funcionamento das Unidades de Saúde da Família, da Rede de Urgência Psiquiátrica e dos CAPS, que atuam com álcool e outras drogas: CAPS AD Primavera e o CAPS I (Infantil).
De acordo com o vice-prefeito da capital e secretário municipal de Saúde, Silvio Santos, ainda este mês os agentes redutores de danos irão conhecer as unidades de Saúde e os Centros de Referência de Assistência Social (Creas).
"Eles vão atuar diretamente nas comunidades para levar o cuidado em saúde aos usuários de crack e aos profissionais do sexo", garante o secretário municipal de Saúde, Silvio Santos. A posse coletiva dos RDs aconteceu no último dia 4, e foi dirigida pelo prefeito Edvaldo Nogueira.
Segundo Silvio Santos, a formação continuada e a contratação dos RDs representarão um investimento anual de aproximadamente R$ 500 mil reais. "Estamos qualificando-os para integrá-los à rede de cuidados da Atenção Básica e dos CAPS", afirma o secretário.
A primeira etapa do curso começou no mesmo dia da posse, é conduzida pela Escola de Redutores de Danos da PMA e está acontecendo no Centro de Educação Permanente de Saúde (CEPS) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A aula inaugural foi proferida por dois consultores do Ministério da Saúde: Tadeu de Paula e Domiciano Siqueira.
Na formação intensiva, os agentes terão, ao todo, 400 horas-aula teóricas e práticas. "Das temáticas, eles terão de conhecer e debater sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a Reforma Sanitária, e Política de Atenção Básica, a Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental", conta o coordenador da Política Municipal de Redução de Danos, Wagner Mendonça.
Domiciano Siqueira, que continua na capital com facilitador da capacitação, diz que a implantação de qualquer política pública passa por três fases iniciais: sensibilização dos profissionais envolvidos; treinamento e acompanhamento das ações no campo. Ele é o presidente nacional do Programa Nacional de Redução de Danos.
"A sensibilização é o momento que temos para tocar o coração dessas pessoas. Nesse caso, para ajudá-los a desconstruir conceitos para que possam lidar de forma diferente com os grupos vulneráveis e de exclusão social, como os usuários de drogas. Depois passamos para fase do treinamento propriamente dito, para lidar com os instrumento do serviço como a abordagem, a coleta de dados. A terceira fase é o acompanhamento do trabalho de campo", descreve o consultor.
Para ele, o Programa de Redução de Danos requer profissionais desprovidos de preconceito e, ao mesmo tempo, estimulados para a construção de novos conceitos sobre saúde doença. "Na redução de danos, eu acredito que teremos de aprimorar os conceitos da Revolução Francesa, manter a idéia da liberdade e da fraternidade e acrescentar a elas o conceito da tolerância", diz Domiciano Siqueira.
Multidisciplinar
Além de redutores de danos empossados, estão participando dessa formação trabalhadores dos CAPS (oficineiro, educador físico, médico, psicólogo, assistente social e outras formações acadêmicas), agentes dos Centros de Referência de Assistência Social (CREA POP), que atuam com moradores em situação de rua e estudantes bolsista do PETSaúde Mental da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Os participantes do curso afirmam que estão tendo acesso a uma abordagem mais pragmática quanto à problemática das drogas. O músico e oficineiro do CAPS AD Primavera, Elvis Boamorte, 24, afirma que, do ponto de vista teórico, a capacitação está reforçando as convicções dele sobre o tema. Ele é responsável pelo grupo de percussão do CAPS AD, um projeto terapêutico para usuários do CAPS. "A minha atuação no CAPS AD e essa capacitação, estão amadurecendo o meu olhar enquanto pessoa e enquanto técnico, para atuar com prevenção às doenças junto às pessoas usuárias de drogas e soropositivas", diz.
A pedagoga Antônia Pereira Marinho já atuou como redutora de danos está de volta ao município. "Agora estarei retornando às ações de redução de danos. Eu fiz parte da primeira equipe do CAPS AD Primavera e também atuei com redutora de danos no projeto inicial da PMA para o enfrentamento ao crack. Depois fui para Fundação de Saúde e estava como facilitadora de cursos relativos ao enfrentamento de álcool e outras drogas, com enfoque no crack", conta.
Renato Felisberto, 48, também conta que já atuou como redutor de danos. "Nessa nova fase, estamos obtendo informações que vão nos ajudar entender o funcionamento da rede de oferta de serviço público de saúde, para ajudarmos aos excluídos, em especial aos usuários de drogas a levar uma vida com melhor qualidade", diz.
Há três anos como educadora física do CAPS AD, Regina Soares demonstra comprometimento com a causa. "Essa capacitação reforça para a necessidade da pluraridade e da ação em conjunto dos profissionais das equipes de saúde da família com os redutores de danos", acredita.