Nesta sexta, 14, os 19 agentes de Redução de Danos (RDs) da Prefeitura de Aracaju irão conhecer o território de atuação, identificando as redes sociais promotoras de inclusão e mapear locais e indivíduos em situação de vulnerabilidade. As primeiras visitas ao território estão sendo acompanhadas por consultores da Escola Municipal de Redução de Danos e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Antes de identificar o território de atuação, os agentes de RD participaram do curso intensivo ‘Acolhimento Pedagógico', realizado pela Escola Municipal de Redução de Danos do Sistema Único de Saúde (SUS-Aracaju). As aulas aconteceram nas salas e na quadra do Centro de Educação Permanente em Saúde (CEPS) da SMS e contou com a participação de diversos facilitadores, a exemplo do artista plástico e especialista em Dependência Química e não Química da Escola Paulistana de Medicina, David Abdo Benetti.
No treinamento, David Abdo falou sobre a abordagem dos RDs no campo. Na ocasião, os RDs conheceram as atribuições operacionais do trabalho de Redução de Danos; o fluxo de trabalho, a base de vínculo com as pessoas em vulnerabilidade social; conceitos de ética, sigilo e de estratégias de abordagem, mapeamento de áreas; e a construção da rede social de cuidado, de promoção e de inclusão.
"Independente da posição do usuário de interromper o uso abusivo de drogas, os agentes de RD deverão agir para evitar doenças associadas. Inicialmente, os RDs deverão levar informações de prevenção capazes de minimizar a exposição dessas pessoas à doenças como hepatites virais e leptospirose. Muito desses agravos à saúde são transmitidos por meio do uso compartilhado de crack, por meio da lata de refrigerante e ou cerveja, e ainda do sexo sem proteção da camisinha. No caso do crack, é comum a utilização de latinhas de metal, encontradas no lixo", explicou David Abdo.
Atribuições do RD
Da oferta aos cuidados em saúde, os RDs vão divulgar possibilidades de tratamento e avaliação clínica, testagem de HIV, aids e hepatites virais. "Os agentes da saúde vão conhecer a vida de cada pessoa abordada por eles e identificar suas necessidades. E nessa abordagem, eles deverão sempre permitir que as pessoas tenham liberdade de expressar suas opiniões. Esse diálogo deverá estar registrado no relatório de campo", disse David Abdo.
Além de identificar as áreas e abrir as portas do serviço público para divulgar os cuidados em saúde, os RDs irão organizar uma rede de apoio. "Essa rede pode ser capaz de ampliar os círculos de relação social das pessoas em situação de vulnerabilidade, de inseri-los em outras possibilidades sociais, de identificar potencialidades e devolver a essas pessoas uma possibilidade de autonomia", afirmou coordenador da Política Municipal de Redução de Danos, Wagner Mendonça.
Segundo David Abdo, os RDs também estarão identificando na comunidade as pessoas capazes de participar dessa uma rede de promoção de inclusão social, como comerciantes, lideranças comunitárias.
Célula da PMA
Segundo David Abdo, os agentes de RD devem compreender o próprio grupo de Redução de Danos como uma célula institucional, uma célula do governo municipal. "Tudo o que for acordado entre um redutor de danos e indivíduos em situação de riscos deve ser trazido e debatido nesse grupo institucional. As estratégias de ação devem sair dessa célula. Também estaremos desmistificando o papel do RD, que não é o de agente fiscalizador no campo. Ele será o agente da Prefeitura de Aracaju que ofertará o cuidado em saúde", reafirmou.
Agentes
O estudante de Serviço Social da UFS e bolsista do PETSaude Mental, Josivaldo Reis, afirmou que a capacitação está proporcionando um espaço de interação entre os redutores de danos com os consultores do Ministério da Saúde, facilitadores da SMS e trabalhadores de várias formações. "Pessoalmente, estou mudando os meus conceitos e compreendendo melhor sobre a forma como historicamente foram construídos os estigmas aos grupos vulneráveis".
Ele diz ainda que, como estudante, a capacitação traz ganho profissional. "Além disso, estarei mais capacitado para chegar ao serviço e dar respostas mais precisas às necessidades dos usuários. Como futuro profissional, poderei contribuir na garantia do acesso dos usuários de drogas aos seus direitos".
Já a enfermeira do CAPs AD Primavera, Tatyane dos Reis Lima Souza, 27 anos, ressaltou da importância da intersetorialidade pública. "Em especial, nessa ação de RD, cada setor da saúde e de outros setores públicos devem conhecer o trabalho do outro e estar atuando juntos. É essa intersetorialidade que pode ajudar os RDs a vincular as pessoas aos serviços públicos. A intersetorialização é um mecanismo que pode ajudar as pessoas que perderam sua autonomia ao longo das vidas", defendeu a enfermeira.