Na tarde desta sexta-feira, 27, o prefeito Edvaldo Nogueira deu o último adeus ao prático José Martins Ribeiro Nunes, conhecido carinhosamente como Zé Peixe. Ele faleceu na quinta-feira, 26, aos 85 anos, após passar mal em sua casa. Zé Peixe se tornou conhecido mundialmente pela forma inusitada de exercer sua profissão: ele guiava os navios que precisavam entrar em Aracaju pelo Rio Sergipe, ajudando-os a vencer com segurança a perigosa Boca da Barra.
Terminado o serviço, Zé saltava dos navios numa queda livre de 17 metros até a água (o equivalente a um prédio de 5 andares) e nadava cerca de 10 km para chegar à praia. Em seguida, percorria a pé, e descalço, outros 10 km até a sede da Capitania dos Portos.
"Zé Peixe era os olhos dos navios e a alma do nosso mar. Posso dizer, sem medo de errar, que ele é um homem insubstituível. Além da figura legendária, do fenômeno que se tornou conhecido mundialmente, era uma pessoa humilde, um homem íntegro, que fazia questão de ajudar as pessoas", disse emocionado o prefeito Edvaldo Nogueira, destacando que Zé Peixe entra para a história pelo trabalho que desenvolveu e pelo exemplo que deixou.
Edvaldo lembrou aos presentes a importância do prático para desenvolvimento econômico da capital sergipana. "A capital de Sergipe foi transferida de São Cristóvão para Aracaju, justamente para que pudéssemos utilizar o Rio Sergipe como entrada e saída de pessoas e de mercadorias. A barra daqui era muito difícil de atravessar e foi Zé Peixe que, desde o início do século passado, auxiliou a entrada e saída dos navios da nossa cidade, sendo um dos grandes responsáveis pelo progresso do nosso Estado", explicou o prefeito.
Falando em nome do governador de Sergipe, Marcelo Déda, que não pôde comparecer ao funeral por estar participando de uma reunião em Recife, o chefe do executivo municipal disse ainda que o prático mais famoso do mundo era um homem solidário, sempre preocupado em praticar o bem e em ajudar ao próximo. "Perdemos Zé Peixe mas ganhamos um espírito de luz que continuará iluminando a cidade de Aracaju", concluiu Edvaldo.
O capitão do Portos de Sergipe, Eron Gantois, falou sobre a tristeza da Marinha em perder um membro tão especial. "Nos 157 anos em que a Marinha esteve presente em Aracaju, Zé peixe esteve aqui pelo menos a metade desse tempo, desde criança, nadando nas nossas águas, depois trabalhando na Capitania. Nada mais justo do que a gente abrir as portas da casa dele para que as pessoas pudessem prestar suas ultimas homenagens", destacou o capitão, observando ainda que a Zé Peixe, é creditado o salvamento de mais de cem vidas. "Ele era um detentor da filosofia da segurança de navegação, a mesma filosofia pregada pela Marinha. Ele é um exemplo para todos nós", pontuou.
O presidente do Conselho Nacional de Praticagem, Ricardo Falcão, veio a Sergipe para prestar, em nome dos práticos de todo o Brasil, as últimas homenagens a Zé Peixe. "Hoje o nosso sentimento é de perda. Com a passagem de Zé Peixe, chega ao fim uma era de práticos que fizeram escola, história e que fizeram o Brasil inteiro se orgulhar de tudo o que eles já realizaram até hoje", disse.
Agradecimento
Uma das sobrinhas de Zé Peixe, Cristiane Veturia, agradeceu, em nome dos familiares, todas as homenagens prestadas ao seu tio. "Quero agradecer às autoridades, à imprensa, e ao povo que ama Zé Peixe. Essa é uma homeagem muito merecida pelo valor do caráter humano do amigo e do profissional que ele sempre foi, da pessoa admirada no mundo inteiro", frisou.
Ela lembrou ainda que dezenas de documentários foram produzidos sobre a vida e o trabalho do seu tio. "Os documentários foram feitos, inclusive, em países como Alemanha, Chile, México. Ele foi reconhecido mundialmente por desenvolver sua função de forma inusitada", falou emocionada, lembrando ainda que seu tio foi um exemplo para todos os que o conheciam. "Era um homem muito dedicado e que fazia tudo com muita alegria. Um ser humano simples, extremamente carinhoso, cuja maior felicidade era nadar".