O secretário municipal de Assistência Social e Cidadania, Bosco Rolemberg, participou durante quatro dias da filmagem de um documentário sobre a ditadura, no período de 1969 a 1979, mais particularmente sobre as experiências dos ex-presos políticos detidos ilegalmente na antiga Casa de Detenção de Pernambuco e no presídio da Ilha de Itamaracá pelo regime militar.
Iniciativa do Ministério da Justiça e do Movimento Tortura Nunca Mais, o documentário reuniu 20 ex-presos políticos em um teatro de Recife, entre eles Bosco Rolemberg, para reconstruir essa parte da história do regime militar, com o objetivo de preparar um documento em vídeo para apresentar à sociedade brasileira, em especial à nova geração.
O documentário vai mostrar o envolvimento do movimento estudantil contra a ditadura, a luta armada, a tortura e a reação da sociedade em defesa da democracia, segundo informou Bosco Rolemberg. "Foram quatro dias de gravação, que se iniciaram com uma mesa redonda onde debatemos as diversas temáticas que envolvem esse período da história brasileira. Depois cada um de nós fez o seu relato pessoal da experiência vivida antes e durante a prisão", informou.
"Foi uma experiência importante participar deste documentário. Não foi individual nem de sofrimento. Foi o momento de mostrar o exemplo desta geração que reuniu forças para responder às exigências daquela época, que era de enfrentamento à total falta de liberdade, à prática do terrorismo e da tortura. Lutamos pela reconquista da liberdade e pela democracia. Essa foi a contribuição que deixamos para o país. Não fosse os sacrifícios que tivemos que fazer, quem sabe por quanto tempo ainda estaríamos vivendo o horror do regime militar" , disse Bosco Rolemberg.
No aspecto emocional, participar do documentário foi para Boco Rolemberg a oportunidade de reencontrar antigos companheiros de luta e de prisão. "Alguns eu não via desde que ganhamos a liberdade", lembrou o secretário, informando que o reencontro trouxe a todos muitas memórias.
Comissão da Verdade
O grupo de ex-presos políticos foi recebido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que lançou no último dia 1º a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, criada para investigar crimes de sequestro, tortura, morte e desaparecimento ocorridos em Pernambuco durante os regimes de exceção de 1937-1945 (Estado Novo) e 1964-1985 (Regime Militar). "É fundamental contar às novas gerações o que ocorreu para fortalecer democracia", disse o governador Eduardo Campos.
"A Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Helder Câmara cumprirá - tenho certeza - importante papel para a indicação dos rumos da democracia no Brasil. O seu compromisso essencial é com a verdade, base sobre a qual se fundaram todas as sociedades, nas mais diferentes culturas, que venceram o totalitarismo e o arbítrio. E a verdade é o contrário do esquecimento, é a capacidade de contar o que aconteceu", disse o governador.
A solenidade foi realizada nos jardins do Palácio do Campo das Princesas, com a presença marcante de ex-presos políticos, da deputada e presidente da Comissão Parlamentar da Memória e da Verdade, Luiza Erundina e de Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido político. Ela, aos 97 anos, em sua fala perguntou: "Onde está o meu filho?" Todos ficaram muito emocionados e a aplaudiram de pé. Elzita aguarda uma resposta há 38 anos, desde o sequestro do filho, no dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro.