Formalização profissional garante benefícios e transforma a vida dos aracajuanos

Formação para o Trabalho
02/09/2015 14h13
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Enquanto os dois filhos estão na escola e o marido trabalha como pedreiro autônomo, Gicelda Santos dos Anjos, de 37 anos, toma conta da I9 Modas. Do lado de fora, ainda na calçada, as peças dos manequins atraem os olhares de quem cruza a Rua São Francisco de Assis, no Bairro Santos Dumont. Na fachada, o banner anuncia uma variedade de cartões de débito e crédito que são aceitos. Mas, para que este cenário tenha se tornado realidade na vida de Gicelda, foi preciso unir coragem, ousadia, persistência e, acima de tudo, disposição para empreender.

Atualmente, no Brasil, mais de 5,3 milhões de cidadãos estão registrados como Microempreendedores Individuais (MEIs). Segundo dados do Portal do Empreendedor, vinculado ao Governo Federal, Aracaju contabilizou, até o último mês de agosto, 14.730 MEIs formalizados. Para se ter uma ideia de como a procura por esta categoria profissional vem crescendo, em agosto de 2012 a capital sergipana tinha 7.915 MEIs cadastrados - um aumento em torno de 86% em três anos. Nesse período, Gicelda engravidou e ficou desempregada.

"Meu marido trabalhava como pedreiro, de carteira assinada, até novembro de 2014. Só que ele estava muito insatisfeito", relata a proprietária da loja. Foi então que o casal, já com dois filhos para criar, apostou no empreendedorismo. "Ele pediu para sair e recebeu R$ 9.000,00 [de direitos trabalhistas]. A gente decidiu investir tudo". Juntos, Gicelda e o esposo Jorge Adrian alugaram um espaço, compraram as primeiras peças e montaram a I9 Modas. Após os seis primeiros meses, eles viram que era a hora de escrever uma nova página naquela história.

Em maio deste ano, Gicelda foi até o Centro de Apoio ao Trabalhador e Empreendedor (Cate), gerenciado pela Fundação Municipal de Formação para o Trabalho (Fundat) e localizado ali mesmo, no Santos Dumont. A visita tinha um objetivo claro: formalizar o negócio da família. "Foi para ter uma segurança em caso de acidente ou invalidez, para ter uma aposentadoria. Tudo isso está coberto", argumenta, ciente dos benefícios previdenciários garantidos a partir do pagamento mensal de R$ 40,40, graças ao regime de tributação simplificado para MEIs.

Ao adquirir um número do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), a I9 Modas mudou de patamar. "Dá para emitir nota fiscal e para ter uma maquininha de cartão", afirma, exibindo o equipamento que satisfaz a clientela. "Com o CNPJ legalizado, eu posso comprar mercadoria de São Paulo e de outros estados, pela internet. Eles emitem um boleto e pronto", informa a negociante. Foi também no Cate que ela resolveu outras obrigações acerca do funcionamento da loja, a exemplo da posse de um extintor de incêndio e da rampa de acesso para cadeirantes. "Deixei agendada a vistoria, levei a documentação e a Fundat resolveu para mim".

Mudança de vida

Antes de decidirem montar o novo negócio, a realidade da família era bem diferente. O salário de R$ 800,00 de Jorge Adrian proporcionava o sustento de todos os membros durante o mês. "Era tudo contadinho. Os meninos estudavam em escola pública, o mercadinho era apertado. Agora, isso não existe mais", relembra Gicelda, orgulhosa do sucesso e da transformação que todos da casa vêm passando. Hoje, ela conta que o estabelecimento rende, em média, R$ 2.000,00 por mês, fora os bicos e serviços que o marido executa como pedreiro autônomo.

"Dia de domingo, a gente não fica mais em casa. Levo meus filhos para a praia, almoçamos fora. E os dois estão em colégio particular". E não parou por aí. Em meio a toda esta ascensão, a principal conquista aconteceu recentemente, em julho, quando o casal pôde, pela primeira vez, financiar um apartamento junto à Caixa Econômica Federal. "Se a gente ainda fosse informal, como é que ia poder comprovar a renda?", questiona-se, revelando que o imóvel foi comprado ainda na planta e que a entrega ocorrerá em 2018.

Embora seja Gicelda quem comanda a I9 Modas, a formalização profissional realizada através da Fundat foi registrada no nome de Jorge Adrian. A estratégia não foi à toa, visto que cada MEI tem direito a contratar até um funcionário. "Ele vai assinar minha Carteira de Trabalho em outubro", adianta a esposa, consciente de que cada etapa percorrida tem valido a pena. "Eu estava desestimulada, desempregada, engordando e sem dinheiro. Hoje, estou ótima. Tenho um cartão de crédito, compro quando quero e sei que vou pagar", diz, com firmeza e pés no chão, mas sem deixar de sonhar. "Quero ter uma loja no shopping". Alguém ousaria duvidar?

Mulheres à frente

Dos 14.730 MEIs cadastrados em Aracaju até agosto deste ano, 7.796 são mulheres e 6.934 homens, de acordo com o Portal do Empreendedor. Em um total de 297 segmentos distintos, o mais procurado aqui na capital (com 2.060 formalizações) foi justamente o de "Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios", em que se enquadram Gicelda e Jorge Adrian. Em seguida, vieram "Cabeleireiros" (1.530) e "Serviços ambulantes de alimentação", com 393. Neste grupo, Rosângela Batista da Silva está inserida há cerca de um ano e oito meses.

Mãe de três filhos, ela já trabalha com venda de bebidas há mais de 15 anos. Justamente por isso, resolveu assegurar aquilo que tanto batalhou. "Deus me livre, mas e se eu fico em cima de uma cama? A gente não sabe o dia de amanhã. Estou fazendo meu futuro", explica Rosângela, que também paga R$ 40,40 mensais. Depois de se tornar MEI, ela ainda obteve R$ 1.500,00 em microcrédito por meio da Fundat. "Eu vivia quietinha no meu canto. Hoje, meu marido me diz: "você mudou". A Fundat me deu muita sorte. E eu não quero parar, não".