Com o objetivo de debater as questões que envolvem a violência contra mulher e a cultura do estupro entre as usuárias atendidas pelas Unidades de Saúde da Família (USFs) da capital, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), realizou na tarde desta quinta-feira, 25, o primeiro Seminário sobre Violência e Cultura do Estupro. A ação promovida pela USF Dona Jovem foi realizada na sede Legião da Boa Vontade (LBV) no bairro Industrial e contou com a participação de aproximadamente 120 mulheres.
De acordo com a assistente social da USF Dona Jovem, Geovania Santos, espaços de debates como esse servem para repassar informações essenciais para mulheres de diferentes faixas etárias. “A gente está aqui tanto para falar das diferentes formas de violência contra a mulher como para desconstruir um discurso de naturalização de violência contra as mulheres, além de mostrar que existe uma cultura do estupro que cerca mulheres de diferentes idades e se mantém diariamente por conta do machismo”, explicou.
A advogada Valdilene Martins, membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, ressaltou a importância de combater discursos e esclarecer através de uma linguagem simples e prática os diferentes tipos de violência sofridos pelas mulheres. “Em espaços como esse, a gente pode esclarecer com informações de qualidade trazendo conhecimento em uma linguagem de fácil compreensão para a comunidade e para essas mulheres. Certas de que nosso principal objetivo é por um fim nessa normatização da cultura do estupro e da violência contra a mulher, não dá pra continuarmos achando que isso é normal, porque não é. É crime e temos que estar dispostas e esclarecidas para por meio legal combater tudo isso”, salientou.
Maria Santana Almeida, dona de casa, 32 anos, vítima de estupro ainda na adolescência, contou que na época do ocorrido chegou a ser culpabilizada pela violência praticada por um conhecido do bairro. “Quando aconteceu comigo, muita gente dizia que a culpa era minha, que eu dava em cima dele, que as roupas que eu usava chamavam atenção demais e até mesmo na delegacia os policiais ficaram com piadinhas e duvidando de que realmente tivesse acontecido o estupro. A gente mulher é julgada demais, conheço várias mulheres que apanham dos maridos e mesmo as que não apanham, passam fome, vivem sob ameaças, e ainda assim não se separam por medo de morrer ou por causa da segurança dos filhos”, pontuou.
A assistente social Monike Andrade, responsável pelo acompanhamento das famílias das crianças e adolescente atendidas pela LBV destacou que corriqueiramente atende alunos que relatam quadros de violência familiar. “É comum muitos deles nos momentos de atendimentos relatarem que viu a mãe apanhando, que o pai vive ameaçando, outras que contam sobre situações de assédio e nesse momento o nosso papel social é fazer o acompanhamento da família, tentar fortalecer os vínculos e até intervir civilmente e juridicamente, contra o agressor, quando necessário”, esclareceu.