Prefeitura encaminha mulheres vítimas de violência aos Creas

Agência Aracaju de Notícias
10/07/2017 10h30

"Casei bem novinha, aos 14 anos de idade. Ele foi meu primeiro namorado. Logo no início do relacionamento, comecei a sofrer agressões físicas, mas permaneci com ele porque não queria voltar para casa dos meus pais e também porque tinha esperança de que ele mudasse. Ele prometeu que ia parar, mas as agressões só aumentaram. Era horrível".  O depoimento é de uma dona de casa que prefere não ser identificada.  Aos 36 anos de idade, ela relata o sofrimento que passou junto ao companheiro.

Foram anos de agressões, até que ela decidiu denunciá-lo na Delegacia da Mulher. "A última vez que ele me agrediu foi há três meses e eu percebi que não precisava aceitar aquela situação horrível. Registrei um Boletim de Ocorrência, pedi a medida protetiva e fui morar com minha mãe. Ele não aceita até hoje, mas eu não vou voltar atrás. Eu não fiz nada de errado e mesmo que tivesse feito, ele não teria o direito de fazer o que fez", contou.

Esse é apenas um dos casos encaminhados pela Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Assistência Social e Cidadania, aos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas). Através do órgão, a administração municipal busca combater a violência contra a mulher e dar todo o suporte às vítimas.

Segundo o assistente social Edson dos Santos, esse encaminhamento é feito assim que o Boletim de Ocorrência é registrado na Delegacia da Mulher. "A gente foi cedido à delegacia pela secretaria para viabilizar o acesso dessas mulheres em situação de violência aos Creas. Lá, elas recebem acompanhamento psicossocial e jurídico. Antes, chegavam à delegacia, mas se perdiam no caminho. Elas ficavam pensando o que iam fazer depois da denúncia", explicou.

Parceria

A Rede de Atendimento à Mulher reúne ações e serviços das áreas da assistência social, justiça, segurança pública e saúde. Para a delegada Mariana Santos, quanto maior for a articulação entre os órgãos que compõem esta rede, mais eficaz será o atendimento prestado à mulher. "Conforme a Lei Maria da Penha, a vítima de violência doméstica deve ter proteção integral do Estado, envolvendo, assim, medidas protetivas, assistenciais e de saúde", afirmou.

Com a Lei Maria da Penha e a conscientização das medidas indicadas na Lei, as mulheres estão procurando com mais frequência a delegacia para denunciar as agressões sofridas. "Elas estão se sentindo mais seguras e confiantes, sabem que hoje existem mecanismos de proteção legais mais céleres e eficazes para protegê-las", complementou a delegada.

Medo

Mesmo sabendo dos mecanismos de proteção legais, algumas mulheres preferem não fazer a denúncia. "O meu marido bebia e me maltratava. Ele tentava me bater, mas eu não deixava. Ele me xingava muito. Meus filhos presenciaram várias cenas. Eu nunca denunciei porque não tinha para onde ir. Além disso, não trabalhava, pensava muito nos meus  5 filhos. Foram mais de 40 anos nessa vida. Ele morreu  faz quase dois meses. Eu estou em paz e já o perdooei", contou a senhora de 59 anos de idade e que atualmente frequenta o Creas que prefere não ser identificada.

Vários são os fatores que podem levar a mulher em situação de violência a não querer denunciar ou a não dar continuidade ao processo.  "Os mais comuns são a dependência econômica e afetiva; os sentimentos de angústia e culpa; medo do rompimento da relação familiar; esperança que o parceiro mude de comportamento; e por sentir-se sozinha e não contar com pessoas que a apoiem", afirmou a coordenadora de Políticas Públicas das Mulheres da Semasc, Maria Teles.

Em 2016, foram registrados 2.669 boletins de ocorrência. Desse total, 60 mulheres foram encaminhadas aos Creas. Já nos primeiros cinco meses deste ano, foram denunciados 1.072 casos, sendo 52 direcionados aos Creas.  "Algumas mulheres saem daqui com a equipe de polícia para retirar os bens e vão para casa de parentes, até que a medida protetiva seja concedida. Outras ficam dentro de casa mesmo, sem a presença do companheiro. No caso das mulheres que não têm onde ficar, a Prefeitura as encaminha a um abrigo, até que o agressor saia da casa", disse o assistente social Edson dos Santos.