Os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são alguns dos dispositivos da administração municipal que têm como foco a população que está em situação de vulnerabilidade social e também precisa de acompanhamento da saúde mental. Foi buscando integrar estas duas experiências que usuários do Cras Porto D’Antas receberam na tarde desta segunda-feira, 4, a apresentação do grupo teatral do Caps Jael Patrício de Lima, com a peça “Vida em Cena”. O tema escolhido para a encenação foi o problema causado pelo alcoolismo.
Vilma Teixeira, coordenadora do Cras, explicou como surgiu a ideia de levar o espetáculo à unidade da Assistência. “Isso já faz parte das ações socioeducativas do serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Dentro do planejamento nós incluímos esta proposta de intersetorialidade, que é trabalhar com a rede. Este é um teatro criado pelas pessoas que são atendidas pelo Caps e falam sobre o cotidiano deles na comunidade, com a proposta de discutir os recomeços que eles tiveram a partir do tratamento e acompanhamento da gestão pública. A intenção é que possamos refletir o assunto junto ao grupo”.
Todo o contexto da ficção trabalhada pelos dez atores tem a ver com situações reais. “São dias, geralmente difíceis, que eles trazem em forma de arte para transformar, com uma mensagem de vida interessante. Por isso é sempre uma emoção muito grande trabalhar com todos, pois isso ajuda bastante na autoestima e na saúde mental de cada um”, disse a psicóloga do Caps, Karine Tavares.
Maria Célia Andrade, aposentada, já frequenta o Cras há dois anos e aprovou o que viu. “Considero isso aqui como uma família, onde discuto de tudo. Hoje eles estão contando histórias sobre como foi conviver com o alcoolismo e é bom saber que são pessoas que puderam recomeçar de algum jeito. Trabalhar com a mente nos leva a esquecer um pouco as preocupações e cuidar da saúde. Eu já estou idosa e depois de me aposentar, tive que cuidar do meu pai, que já tem mais de 80 anos. Também tive que me reinventar e o Cras me dá a oportunidade de vir aqui, fazer novos amigos e me distrair com outros assuntos”.
Sobre recomeçar, Edileuza de Melo, que está há tantos anos no Caps que nem consegue se lembrar, fala com propriedade sobre o assunto. “Eu vivi com um marido alcoólatra e tinha que lidar com isso todos os dias. Depois que ele morreu, eu comecei a ter medo de tudo e não queria nem me olhar no espelho, sair na rua ou me ver refletida nos vidros de um carro, por exemplo. Só que agora no Caps, eu sou mais forte. Quem era meu inimigo, hoje é meu amigo: o espelho. O Caps pra mim é tudo agora. Minha casa, meu lazer, onde estão meus amigos. Eles me entendem. Nessa peça falamos sobre esperança e superação”, destacou a aposentada.