Servidoras da Prefeitura: lugar de mulher é onde ela quiser

Agência Aracaju de Notícias
08/03/2018 16h10
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Uma das qualidades do passado é, através dos seus registros, percebemos os acertos para que possamos aprimorá-los cada vez mais e, olhando os erros, possamos nos modificar. Se voltarmos o nosso olhar para a história da mulher na sociedade, por exemplo, podemos perceber quantas mudanças ocorreram, apesar de ainda ter uma longa e árdua jornada a percorrer. O dia 8 de março marca uma dessas mudanças. De 1917, ano em que o Dia Internacional da Mulher foi instituído, até hoje, muitas lutas foram travadas para que a mulher conseguisse conquistar o seu espaço na construção da sociedade e ainda hoje, mesmo com um bom caminho já trilhado, elas ainda travam batalhas para fazer valer a sua voz.

Na estrutura administrativa da Prefeitura de Aracaju são muitas as histórias de mulheres que desmistificaram o estereótipo de que "lugar de mulher é na cozinha". Com suas trajetórias de vida, dia após dia, elas demonstram e reafirmam que "lugar de mulher é onde ela quiser" e, ainda que tenham suas batalhas nos âmbitos familiar, profissional e pessoal, a força de cada uma delas é motriz e fundamental em cada um desses aspectos.  Seja na Saúde, na Educação, na Segurança, nas finanças e demais áreas da administração municipal, é também através da atuação diária de mulheres que Aracaju caminha para ser uma cidade inteligente, humana e criativa.

Na Educação

Entre ruas estreitas e algumas vielas apertadas, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Conrado de Araújo tem uma fachada que mais parece uma residência comum como tantas milhares existentes no bairro São Conrado. Talvez seja com esse olhar de "lar" que a coordenadora pedagógica, Maria Ivanilde Meneses, enxerga o local em que, atualmente, mais de mil alunos estudam e contam com o seu trabalho para direcionar, não somente as atividades escolares, mas também e muitas vezes, para ajudar a clarear a visão de suas vidas fora dos portões da instituição de ensino.

Ela é aquele tipo de pessoa que acredita que a educação é o principal instrumento de mudança. Por ter trabalhado muitos anos com educação não formal, ela afirma que a experiência transformou o seu olhar. "Só teremos um mundo mais justo, mais igualitário a partir do momento que a gente proporcionar a educação e a escolarização, principalmente, para as classes mais carentes da nossa sociedade", assegurou.

O que hoje Ivanilde, aos 53 anos, tem de fortaleza, já teve também de fragilidade. Aos 15 anos, com a perda precoce do pai, que na época tinha 42 anos, ela, seus três irmãos e sua mãe, passaram por momentos difíceis até conseguirem se reerguer. Nascida em São Paulo, com pais nordestinos, ela veio para Aracaju aos 12, época em que, apesar de levar uma vida simples, nada lhe faltava. Com a morte do pai, foi em seu primeiro lar na capital sergipana que ela viu suas estruturas se desestabilizando. "Quando meu pai faleceu, estávamos nos preparando para voltar para São Paulo, foi um baque muito grande e o coração dele não resistiu. Depois que ele se foi, tivemos muita dificuldade para quitar dívidas e minha mãe teve que vender os móveis da casa que morávamos para não termos mais dívidas. Minha mãe, naquele momento, mostrou o quanto ela era forte e soube nos criar para sermos pessoas de bem", contou Ivanilda ao dizer, emocionada, que, nove anos após a partida do pai, foi a vez da mãe.

Dos quatro filhos que o casal teve, Maria Ivanilde é uma das três filhas mulheres e herdou da mãe o gosto pelo estudo e não parou mais. Graduada em Pedagogia, especializada em Educação Ambiental e Coordenação Pedagógica, mestre em Educação e se preparando para o doutorado, ela construiu sua trajetória em paralelo à tarefa de mãe e hoje, com tantas experiências na lida diária, contribuído para a formação de tantas pessoas, essa Maria também tem a sua força motriz. "O que me move é a esperança. Precisamos acreditar no trabalho que desempenhamos e, mesmo diante das dificuldades, cada um pode fazer a sua parte para que a mudança aconteça, para que, unindo esses esforços, possamos construir um futuro melhor para quem vai cuidar do nosso futuro, que são as crianças. Se eu puder plantar uma sementinha que seja em cada criança que passa pela escola, aí terei certeza que meu trabalho valeu a pena", frisou.

Na Saúde

Há 30 anos na área da Saúde, Isabel Cristina afirma que a escolha por Enfermagem foi por querer cuidar de pessoas. De licença e perto de se aposentar, ao longo dos anos de serviços prestados à saúde de Aracaju, ela compartilhou com as outras vidas que cruzaram com a dela, o espírito de coletividade e hoje é referência para a estruturação de clínicas particulares e, inclusive, ajudou a compor o projeto para a maternidade que será construída no bairro 17 de Março.

Das lições que aprendeu em casa, a honestidade e a aprendizagem foram os guias que a ajudaram a construir a sua história que, para além dos rótulos impostos às mulheres, formou um ser humano esclarecido e que acredita na importância de enxergar no outro alguém igual a nós em capacidades e dificuldades.

"Acredito que ninguém veio ao mundo a passeio. Todos estamos em uma escola e temos nossa parcela de contribuição em tudo o que acontece ao nosso redor. Entre tantas coisas que sou, também deixo o meu legado como mãe e procuro passar para os meus filhos aquilo que de mais precioso aprendi com as minhas experiências. Acho que nessa jornada da vida, primeiro temos que buscar o autoconhecimento e ficar atentos ao que vamos deixar para as pessoas que passam por nós, não o que temos de material, mas, nossos exemplos. Estamos vivendo em um mundo complexo, numa fase de transição muito difícil, e é nesse momento que devemos parar para olhar para dentro e também enxergar o outro", destacou.

Ao longo dos anos, Isabel Cristina também procurou conhecer a mulher além dos estereótipos e reconhece que o que ela se tornou é resultado de muita luta e não somente dela. "A nossa história nos mostra quantas mulheres lutaram para que hoje pudéssemos ter os nossos direitos, apesar de sabermos que ainda falta muito. É por essas mulheres do passado que temos que continuar atuando para fazer valer a nossa voz, para que a sociedade entenda o nosso papel, de fato", reforçou.

Na Comunicação

No corpo administrativo da Prefeitura, em meio às repartições, a força da mulher também de revela através da gentileza. O fato de ser técnica em Recursos Humanos talvez até diga bastante sobre Maria da Glória Barros. Há mais de 30 anos atuando na Secretaria Municipal da Comunicação Social, muitas vezes ela é mediadora e entende muito bem sobre força de trabalho e as conquistas das mulheres no âmbito profissional.

Criada em uma família em que, segundo ela, não havia espaço para machismo e o respeito sempre foi o regente, Maria da Glória aprendeu a fazer com que os valores adquiridos no seio familiar fossem disseminados por onde ela passasse. "Eu sempre tive um pai/mãe e uma mãe/pai, vivíamos em um estado de colaboração mútua em casa e isso também me fez entender o meu papel enquanto mulher. Como lido diariamente com questões trabalhistas, vi também as conquistas femininas no âmbito profissional e isso me faz ter mais orgulho de ser mulher a cada dia", ressaltou.

No dia em que muitos parabenizam as mulheres pelo dia dedicado a elas, Maria da Glória destaca que o que as mulheres querem, de fato, é respeito. "Precisamos fortalecer a importância da equidade na nossa sociedade e, enquanto mulheres, temos que fazer valer a luta de outras mulheres que vêm caminhando. Para que a gente tivesse muito do que temos hoje, outras mulheres batalharam por nós e precisamos valorizar isso. Diante disso, nós não pedimos muito, apenas queremos ser respeitadas nos mais diversos espaços, queremos poder andar pelas ruas sem medo, fazer as nossas escolhas sem que sejamos recriminadas, queremos tomar conta do nosso próprio corpo. Isso, sim, seria um grande presente", completou.

No Esporte

Outra história de mulher com muitas conquistas e superação é da ex-ginasta Larissa Barata, que realizou o feito histórico de ser a primeira mulher sergipana a ir a uma final olímpica, quando em 2004 obteve o 8º lugar na classificação geral na Olimpíada de Atenas, na Grécia. Vindo de uma família de esportistas, Larissa contou com exemplos dentro de casa.

"Eu praticava ginastica artística, mas um dia vi uma apresentação de ginastica rítmica e me apaixonei. Sempre contei com minha família, sempre recebi muito apoio. Comecei cedo e eu amava treinar, trocava tudo mesmo para estar lá no ginásio me dedicando. Para ser atleta precisa ter dedicação, não existe atleta de alto rendimento sem dedicação, abdicação, foco e determinação. Não é fácil, os treinos são cansativos, exaustivos, só aguenta quem ama e tem propósitos dentro da prática esportiva", relembrou a ginasta.

Os resultados desse esforço e dedicação ao esporte logo vieram em forma de premiações, vitórias, participações no Sul-Americano, Mundial, Pan-Americano e a Olimpíada, que marcou a sua vida. Larissa acredita e aposta no esporte sergipano. O sonho é de poder um dia celebrar a vitória de uma campeã olímpica de Sergipe.

"A Olimpíada é um marco na vida de qualquer atleta, um sonho realizado com muito sacrifício. E, só depois, eu descobri que era a primeira mulher sergipana a ir para uma final olímpica. Uma responsabilidade muito grande, e uma honra saber que eu dei esse pontapé inicial para o esporte sergipano. Hoje, eu espero que muitas outras mulheres esportistas consigam também estar lá, chegar ao ápice das conquistas da vida de um atleta. Moramos no menor estado do Brasil, mas ele é grande em muitos talentos, é persistir e acreditar no seu potencial. A estrada é longa, mas vale a pena".

Integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), e membro do Departamento de Esporte e Lazer da Secretaria Municipal da Juventude e do Esporte (Sejesp), Larissa não compete mais e hoje vive outra experiência como mulher: a maternidade.

"Esporte na minha casa é lei, mas não são apenas medalhas, é aprendizado para a vida, vou sempre incentivar meus filhos e apoiá-los em qualquer escolha. Gosto de estar presente na vida dos meus filhos, principalmente na fase da infância, a mais importante. Eu me realizo sendo mãe".