Reflexão e desconstrução são pauta da Assistência durante Dia Internacional da Mulher

Assistência Social e Cidadania
08/03/2018 21h47

Para o Dia das Mulheres, não a comemoração; mas a reflexão para a desconstrução de velhos hábitos e do preconceito institucionalizado.  Com este objetivo a Secretaria Municipal da Assistência Social realizou na tarde desta quinta-feira, 8, um encontro com cerca de 50 mulheres beneficiárias do Bolsa Família para falar sobre autonomia feminina, com foco na mulher negra e da periferia. O evento aconteceu no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) Maria Diná, localizado no bairro 17 de Março, considerado como um dos locais de maior índice de violência e vulnerabilidade social da capital.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em média 12 mulheres são assassinadas por dia no país. Os dados de 2017 apontam para o aumento de 6,5% em relação ao ano anterior, contabilizando 4.473 homicídios dolosos, sendo 946 feminicídios. Os dados expõem o fator violência, mas também um outro tão chamativo e sintomático quanto: a cultura machista que define papéis de gênero, colocando a mulher no lugar da posse e o homem no lugar de possuidor, endossando o discurso de uma fantasiosa supremacia masculina. O tom da pele mais escura também desenha os desafios. Soma entre machismo e racismo.

Em meio a tantas mulheres e seus respectivos filhos e filhas, a vice-prefeita e secretária da Assistência Social de Aracaju foi categórica. “Não podemos continuar reproduzindo velhos conceitos que nos prejudicam tanto. É importante entender que as coisas não ficaram desse jeito de uma hora para a outra, são valores errados que nos ensinaram, quando falaram sobre o ‘lugar da mulher’. Fora o recorte da classe social da qual ela pertence. Por exemplo: desde o nascimento o menino é estimulado para a liberdade e o enfrentamento. Já as meninas, para as atividades do lar. Temos que começar a mudar as coisas dentro da nossa casa”, salientou.

Didaticamente, Eliane Aquino também reforçou os fatores pelos quais um relacionamento abusivo começa, incentivando as denúncias de casos à Delegacia da Mulher, ao 181 e ao Disque 100. A vice-prefeita e secretária ainda destacou a campanha digital #NãoEraAmorEraCilada publicada nas redes sociais da secretaria, que de forma lúdica alerta para algumas dessas situações. “Quando a mulher troca de roupa para não criar confusão, não é amor, é cilada. Quando o homem pega o celular da companheira para ver com quem ela está falando e não a deixa se relacionar com familiares e amigos, não é amor, é cilada. Se uma mulher passa por isso, é preciso procurar ajuda e denunciar antes que algo mais grave aconteça".

Dia de luta, resistência, união e consciência dos direitos. “Nós convocamos as mulheres para discutir juntos as nossas fragilidades enquanto parte da sociedade, mas também para falar sobre empoderamento e superação. O nosso foco é criar um senso de independência em todas elas. Dentro desse tema, também falamos sobre questões relacionadas ao Bolsa Família, já que cerca de 90% do público feminino referenciado no equipamento tem no benefício a única fonte de renda”, disse a coordenadora do Cras Maria Diná, Tatiana de Souza.

De acordo com  a coordenadora de Benefícios Assistenciais e Transferência de Renda, Yolanda de Oliveira, orientação também é uma forma de empoderar. “Hoje nosso trabalho é tirar algumas dúvidas, pois algumas delas têm dificuldades de entender quais os critérios devem ser preenchidos para conseguir os proventos. Constatamos, no último levantamento, cerca de 1.400 famílias beneficiárias em situação de advertência nesta região".

O evento contou com a apresentação do grupo feminino de capoeira Aná Ananã, do grupo de hip hop Nação Mulher, oficina de tranças nagô e a parceria do Sesc para atividades de recreação na praça com as crianças presentes. 

Eliete: sempre fui inconformada

Quarenta e três anos. Trinta deles morando na Prainha, região pertencente aos arredores do Santa Maria. Eliete Santos é daquelas mulheres negras imponentes, de sorriso fácil, mas de diálogo forte e assertivo, “como toda mulher negra e de periferia precisa ser para sobreviver”, em suas palavras. Agente de saúde, estudante de História e militante de movimentos sociais, ela afirma que sempre soube que não deveria aceitar o que lhe era imposto, por mais que dissessem o contrário.

“Quando a gente tem determinação, consegue quebrar algumas condicionantes. Eu acho que não teve um momento que eu soube que essa estrutura estava errada, eu sempre soube. Eu sou inconformada, não no sentido de revoltada, mas no sentido de inquieta. Nunca aceitei ser mandada por um homem. Acredito que a mulher está sempre no mesmo patamar e perceber o quanto somos oprimidas e reproduzimos o machismo de forma inconsciente é importante sim, porque fomos condicionadas a isso. Quando a gente começa a ter consciência, não consegue mais admitir esse tipo de coisa. Meu cabelo é crespo, minha pele é escura e eu tenho orgulho disso”, refletiu brilhantemente.