Assistência leva discussão sobre discriminação e preconceito racial para escolas de Aracaju

Assistência Social e Cidadania
04/06/2018 17h50

O enfrentamento ao preconceito e discriminação racial vem sendo intensificado cada vez mais através de ações realizadas pela Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju, por meio da Diretoria de Direitos Humanos. O 'Lápis de Cor - Ciclo de Diálogos sobre Racismo na Infância', projeto em parceria com a Coordenadoria de Políticas Educacionais para Diversidade da Secretaria Municipal da Educação (Semed), é um exemplo dessas ações realizadas em escolas da capital sergipana, que levam para adolescentes do 5º ano da rede municipal, o diálogo sobre as temáticas com a pretensão de minimizar os danos ocasionados pelos comportamentos racistas e discriminatórios.

Os efeitos do preconceito e discriminação racial são traduzidos em dados que refletem a desigualdade em diversos aspectos da sociedade. Segundo o Atlas da Violência 2017, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Ainda de acordo com o Atlas, os negros possuem chances 23% maiores de sofrerem homicídios. O projeto Lápis de Cor atende uma média de 40 adolescentes por ação, com a proposta de gerar a discussão e fazer com que os envolvidos reflitam sobre esses dados, consequências psicológicas que podem ser geradas pelo racismo e preconceito e sobre a importância do respeito e dos direitos de cada pessoa independente da cor ou gênero.

Para a gerente de Igualdade Racial da Diretoria de Direitos Humanos, Laila Oliveira, o projeto funciona como um agente transformador que ajuda no processo de crescimento dos alunos, fazendo com que eles entendam os assuntos e aprendam a enfrentá-los no dia a dia. "Através do projeto, a gente traz para conversa e entende onde o racismo está inserido e as formas de manifestações. E é muito interessante porque os meninos e meninas colocam pra gente como eles percebem o racismo entre eles, na família, na própria relação interpessoal na escola. Com isso, nós conseguimos estimular a criança a falar sobre o problema e trabalhar os conceitos de solidariedade, de combate ao preconceito, de amizade e de enfrentamento, com intuito de fazer com que eles desconstruam o racismo nessa fase, que é um momento de formação, para que eles sejam adultos saudáveis, mais preparados para enfrentar o racismo no dia a dia. Essa é também uma forma de trabalhar os assuntos relacionados à negritude na escola e não esperar chegar o dia 20 de novembro, que é conhecido como o Dia da Consciência Negra para abordar os temas em questão", disse.

Uma das instituições de ensino beneficiadas com a ação foi a Escola de Ensino Fundamental (Emef) João Teles de Oliveira, situada no bairro Cidade Nova, onde duas turmas foram direcionadas para ação. O diretor da escola, Luiz Gustavo, acredita que o projeto planta uma semente que vai render bons frutos no espaço escolar e fora dele. "Estamos tratando de crianças e pré-adolescentes, então, trazer essa ação é importante demais. É nessa fase que começam a surgir os primeiros princípios de discriminação. Nós sabemos que as crianças não nascem preconceituosas, elas acabam aprendendo. Se elas aprendem a discriminar, elas também podem aprender a respeitar e a escola se torna um espaço privilegiado para garantir esse trabalho de orientação ao não preconceito e a valorização do respeito pelas pessoas", destaca.

Indagados sobre o que o racismo e a discriminação causam em uma pessoa, as palavras mais presentes nas respostas foram: dor, tristeza, sofrimento, raiva, violência e depressão. Kauan Vinícius Santos, 12 anos, confessa que já praticou bullying por causa da cor de um colega, mas se arrependeu do que fez após perceber o quanto isso o fez mal. "Eu não vou mentir, já coloquei apelidos em meus amigos, mas por brincadeira. Uma vez colocamos um apelido em um colega da escola, por causa de sua cor, e ele ficou muito mal. A mãe dele pedia para ir à padaria e ele não ia com vergonha, não estava vindo para escola, não queria sair de casa. Isso me deixou muito triste e me fez enxergar que o que tínhamos feito não era nada legal. Hoje não faço mais por entender que devemos respeitar os nossos colegas e as suas diferenças".

Ana Maria Clara, de 12 anos, é bem consciente sobre o assunto e também já presenciou casos de racismo. "A primeira coisa que fiz foi mostrar que a prática do racismo é algo errado e pedi para não fazer mais. Eu acho que o nosso mundo deveria ser sem preconceito, sem racismo, todo mundo é igual. Todos nós deveríamos ser unidos, amando o próximo do jeito que é. Não podemos ser racistas ao ponto de querer ignorar o outro por causa da cor da pele, físico ou qualquer coisa", disse a estudante do 5º ano.

A professora de uma das turmas que receberam o projeto, Izabela Prado, afirma projetos como esse são importantes instrumentos de conscientização. "Esse ano, até o momento, não tivemos nenhum caso. Mas já presenciei diversas vezes em outros espaços, ambientes, em outras turmas e é sempre importante reforçarmos esses assuntos, mostrando que todos aqui são iguais, que todos têm os mesmos direitos. Então, o projeto vem justamente para conscientizar os nossos pequenos sobre o quanto a discriminação e o racismo causam transtornos e o mal nas pessoas", observa.