Com o objetivo de esclarecer à população sobre a queda na cobertura vacinal, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) esclarece que os índices relacionados vêm caindo em todo o país, assim como em Aracaju. Em 2017, a taxa de vacinação de todos os imunobiológicos no Brasil foi de 38,32%, e de 33,87% na Capital sergipana.
De acordo com a secretária municipal de Saúde, Waneska Barboza, existem vários fatores que contribuem para isso, como a mudança no perfil da sociedade e a introdução de um novo sistema de informação do Programa Nacional de Imunização (PNI), em 2015.
“O perfil da sociedade vem mudando. Pessoas adultas jovens vacinadas, que hoje são pais e não conviveram com determinadas doenças, estão deixando de vacinar seus filhos, pois não conseguem entender a importância da imunização, e isso é um movimento nacional. Quando nós comparamos os dados de Aracaju, observamos que há exatamente o mesmo comportamento em todas regiões do país”, explicou a secretária.
Porém, quando é verificada a aplicação de vários imunobiológicos entre 2016 e 2017, é observada uma ampliação da cobertura vacinal. Um exemplo é a vacinação da BCG. Em 2016 houve 85% de cobertura, e no ano passado o índice ultrapassou os 90%. Outros dois exemplos são a da pneumocócica de 71% para 73%; e a da poliomielite, de 61% para 64%.
“Conseguimos visualizar que apesar de acompanharmos a média nacional, quando levamos em consideração imunobiológicos de vacinas que são importantes, principalmente contra doenças que causam epidemias ou invalidez, conseguimos atingir, em 2017, um percentual superior ao de 2016. Isso demonstra que as nossas ações realizadas do ano passado para cá vêm tentando reverter esse quadro de vacinação”, enfatizou Waneska.
Mudança do sistema
Em 2015 houve uma mudança no mecanismo de informação do Ministério da Saúde (MS) que passou a usar o SIS-PNI, um sistema completamente online com mais exigências cadastrais. “Antigamente os dados eram manuais e só se colocava as quantidades de doses. Hoje é necessário ter os dados completos dos usuários. A partir daí, começamos a perceber que muitas vezes não são as pessoas que começaram a deixar de ser vacinadas, mas os registros que estão sendo feitos em menor quantidade. Podemos fazer até uma comparação do Programa Bolsa Família. Temos um índice do Bolsa Família elevado, e se nós não tivéssemos a vacinação correspondente [que é pré-requisito para participar do Programa], teríamos perda desse benefício para a população, o que não ocorre aqui. Isso realmente demonstra que a subnotificação é uma realidade. Estamos vacinando sim, mas talvez não estejamos registrando até pela dificuldade que o novo sistema trouxe”, informou.
Outro motivo importante que pode ter diminuído o índice da cobertura vacinal foi a total mudança no número de imunobiológicos. “Antigamente, o cálculo era feito em cima de oito tipos de vacinas, hoje mudou e é feito por faixa etária e sexo, o que acaba ‘diluindo’ a taxa de cobertura. Enfim, entendemos que são vários fatores que estão ligados a essa baixa cobertura vacinal, mas essa é uma realidade nacional, que é causada sobretudo pelo atual perfil da população’, observou Waneska.
Estratégias adotadas
Apesar dessa queda, a SMS não está parada e constantemente vem montando estratégias para tentar ampliar a cobertura vacinal. “Um último exemplo aconteceu durante a campanha da influenza, onde conseguimos ampliar a nossa vacinação. No ano passado, fizemos 69%, e agora estamos com o índice parcial de 86%, isso porque o resultado ainda não foi fechado. Dois grupos prioritários, as crianças e as gestantes são nossos maiores desafios. Tentamos sensibilizar estes dois grupos de várias maneiras, mas temos dificuldade na aceitação. Neste momento estamos montando uma estratégia de ir às escolas e creches, mas o ideal seria que as próprias famílias tivessem consciência e decidissem se imunizar”, argumentou a secretária da SMS.
Outra estratégia adotada pela gestão municipal foi a mudança da coordenação de Imunização para a Diretoria de Atenção à Saúde (DAS), uma vez que é ela quem administra as salas de vacina e facilita a interface, a fiscalização e a organização. Com isso, o fluxo de vacinação foi melhorado e os primeiros resultados já começaram a aparecer.
Primeiros anos de vida
A diretora de Vigilância em Saúde, Taise Cavalcante, esclarece que é muito importante completar o calendário vacinal do primeiro ano de vida da criança, pois é nessa fase que são aplicadas as principais vacinas contra das doenças imunopreviníveis.
“A cada ano o Ministério da Saúde (MS) vem introduzindo novas vacinas em novas faixas etárias. Vacinas como a do sarampo eram aplicadas sozinhas, a chamada monovalente. Hoje ela é tetraviral, e vem junto com imunobiológicos de outras vacinas para quatro tipos de doenças. A queda da cobertura vacinal é um problema que o MS vem se preocupando e estudando bastante, porém existem aquelas mais importantes que devem ser aplicadas ainda no primeiro ano dos bebês”, contextualizou.
Antivacinação
Outra questão importante que influencia no índice vacinal é o aumento de grupos contra as vacinas. “Como o movimento antivacinas, iniciado na Europa e na América do Norte, e que vem crescendo em todo planeta. Isso vem mostrando a reemergência de doenças que eram tidas como erradicadas, a exemplo do sarampo”, observou.
De acordo com Taise, a facilidade das pessoas viajarem para vários países do mundo pode fazer com que uma doença que seja endêmica em algum país, seja trazida para o Brasil. “Isso aconteceu com o vírus da febre chinkungunya e do zika, que entrou no Brasil na Copa do Mundo de 2014. Agora, na Copa da Rússia, já existem registros de casos de sarampo. Existe um alerta para que os profissionais de saúde conheçam a história epidemiológica destas pessoas para evitar a disseminação da patologia no país”, alertou.