Tema Mulheres Negras é destaque no Ocupe a Praça

Cultura
25/07/2018 23h35

Mais do que uma data comemorativa, o 25 de julho representa um marco internacional da luta e resistência da mulher negra latino-americana e caribenha. Com o intuito de integrar a programação alusiva à data, o ‘Ocupe a Praça’ estreou a sua segunda edição homenageando-as. Foi um debate em um espaço aberto dedicado a discutir questões de gênero, negritude, racismo, representatividade, estética, políticas públicas e outros temas transversais à existência das mulheres negras.

O ‘Ocupe a Praça Julho das Pretas’, assim especialmente denominado por agregar uma atividade realizada em outros estados nordestinos, contou com a parceria da Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria. O projeto é uma realização do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), unidade vinculada à Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), que acontece na primeira e última quarta-feira do mês, no Centro Cultural da capital, localizado na praça General Valadão.

Segundo o presidente da Funcaju, Cassio Murilo, o ‘Ocupe a Praça’ retorna firmando o seu objetivo e provocando a reflexão de um tema especial. “É através deste projeto que estimulamos o público a pensar sobre questões culturais, cidadãs. Hoje, o debate foi rico, pois trouxemos mulheres negras para falar de assuntos que merecem destaque. Estar com elas é refletir tentando compreender essa lógica que estabelece esse mecanismo grupal sobre elas. Tivemos uma produção audiovisual que fala das condições delas também servindo de esteio para reflexão”.

Para a pesquisadora e cineasta, Luciana Oliveira, os documentários exibidos ‘Marielle Presente’ e ‘Kbela’ foram importantíssimos para o enriquecimento do debate. “É um filme com a direção de Yasmim Thainá, que marca a nova geração do cinema negro. Em sua narrativa, ele tem revelado e auto afirmado a questão do ser mulher e ser negra. Num primeiro momento, mostra todas as violências e é muito barulhento, porque o racismo é assim. Passa depois para um segundo ato que vai falar do empoderamento. No final é uma celebração, que é um coroamento com a ancestralidade, buscando todas as referências africanas”, detalhou.

A exibição dos documentários foi realizada na sala de cinema Walmir Almeida e fez parte da programação do quadro ‘Liquidifica Diálogos’, sob o tema ‘Mulheres Negras Movem o Mundo’. Logo após, foi realizado o lançamento do jornal ‘Vozes Diáspóricas’ de Abibiman Kandence. Além disso, houve a apresentação do coletivo de dança ‘Afro Contemporânea’, com o espetáculo de ‘Afro ANAUÊ’. E, para encerrar a noite, o show ficou por conta do grupo AFROntamentos, comandado pelas cantoras Lari Lima e Jaque Barroso.

“Eu acredito que os espaços públicos estão colocados para serem ocupados pela sociedade. O racismo, assim com outras faces de opressão, acontece o tempo inteiro. Então, cabe a nós estar propondo atividades, como o Julho das Pretas, para dialogar com a sociedade, fortalecendo os nossos. É importante essa união, essa contribuição, e eu espero que seja duradoura. Essa é uma parceria que dá certo. O audiovisual é um produto fundamental e importante nessa luta, porque é pedagógico e dá visibilidade. Temos que nos apropriar desses instrumentos que são de luta”, comentou a jornalista e membro da Auto-organização, Laila Oliveira.

A secretária municipal de Igualdade Racial de Laranjeiras, Sandra Sena, participou pela primeira vez do ‘Ocupe a Praça’ e disse estar cativada. “Percebi que aqui é um espaço de pensar, de ouvir, de refletir, muito importante para construção da nossa identidade. Hoje, o debate realmente me representou. Tudo que foi dito foram experiências vividas por todas nós, mulheres negras. Temos o sentimento de que passamos e venci. Agora é o processo de empoderamento. É crescimento e enriquecimento para repassar para outras pessoas. Fiquei muito feliz por ter vindo”, comentou.