Visitando as emoções: escola municipal investe em projeto que identifica os afetos

Educação
25/10/2018 21h20

Ao chegar à escola o visitante era guiado à galeria principal por passinhos pintados e enfileirados no chão. Impossível não sorrir diante do convite feito a partir dos pequenos pés dos alunos da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Dr. Fernando José Guedes Fontes, no bairro América. A trilha levava ao refeitório da unidade arrumado com primor para receber os pais e a comunidade para a palestra com a psicóloga Taisa de Aragão, técnica da Diretoria de Educação Básica (DEB) da Secretaria Municipal da Educação (Semed). O público, nesse meio tempo, ficava imerso na arte produzida pelas crianças e expostas – a partir dessa quinta-feira, dia 25 - na mostra intitulada ‘Visitando as Emoções’. A iniciativa faz parte de um projeto iniciado no primeiro semestre desse ano e que tem mostrado resultados surpreendentes. 

“Recebemos em nossa creche crianças com idade de zero a três anos. Muitas ainda não sabem falar, se expressar de forma clara. E vimos a necessidade de pensar uma maneira de descobrir o que essas crianças têm a nos dizer; bem como fazê-las entender o que nós, os adultos, queremos comunicar”, explicou a professora Michele Costa de Jesus, uma das idealizadoras do projeto e que implantou na própria turma, desde o primeiro semestre desse ano, várias atividades conectadas com a proposta. “Eu sempre acreditei, e estudos têm comprovado isso, que as nossas emoções são o foco de tudo. E tanto as crianças como os adultos, para desenvolverem-se melhor, precisam aprender a lidar com as quatro emoções básicas do ser humano: medo, raiva, tristeza e alegria”, destacou.

A partir dessa linha de pensamento, a diretora da unidade, a professora Kátia Siene Santos Dias, e a coordenadora pedagógica, Rita de Cássia Fraga Matos, compraram a ideia que agora será estendida a todas as turmas da unidade. “A cada dia a sociedade se conscientiza que a creche não é só cuidar, dar assistência sem propósito. É uma fase que importante, que precisa ser devidamente estimulada. Atualmente, atendemos 108 crianças. Muitas das famílias têm problemas financeiros, sociais ou emocionais. E a criança está inserida nessa realidade e chega com essa carga na escola. E nós, aqui, precisamos estar devidamente preparados para entender o que elas passam, porque um dia choram tanto, em outro, morde. Porque é mais introvertido ou raivoso. Como fazer a leitura dessas expressões? Então, o projeto sobre as emoções traz instrumentos para que professoras e cuidadoras consigam fazer essa leitura”, revelou Kátia.

Além de lidar com o desafio das emoções das crianças e das famílias, a escola também tem que gerenciar a afetividade dos educadores. “Somos 35 pessoas trabalhando diariamente. E quando surgiu a ideia do projeto, abraçamos porque sabemos que o meio influencia e muito. A realidade dessas crianças – o cotidiano – é desconhecido para a maioria, então, precisamos saber identificar emoções e sentimentos, para que não rotulemos nenhuma delas. E aos poucos fomos conseguindo, sempre lembrando de usar a razão, de tolerar as falhar e acreditar no espírito de equipe”, descreveu a coordenadora Rita de Cássia. Segundo ela, as atividades previstas – como contação de história, pintura, palestras – estão sempre interligadas ao projeto pedagógico da escola. “A Educação Infantil da rede municipal de Aracaju está muito focada na Base Nacional Comum Curricular”, salientou.

Questionário e feedback

E os pais? Para envolvê-los no projeto, além das palestras e mostras na escola, a professora Michele elaborou um questionário que deveria ser respondido pelos responsáveis. “Pedimos que eles relatassem o que viam em casa. Se percebiam alguma mudança no comportamento. Pedimos que eles descrevessem a personalidade dos seus filhos. E muitos relataram que as crianças estavam mais felizes”, relembrou. Após responder ao questionário, os pais foram convidados para uma conversa. “Demos um feedback para eles e mostramos que todos devemos trabalhar para que as crianças tenham autonomia, exercitem o autoconhecimento, e para isso é essencial que promovamos, todos, estímulos positivos”, garantiu a professora. 

A mãe de um dos alunos da escola, Rosilene Feitosa de Brito, comprovou a efetividade da proposta da Emei Fernando Guedes. “São ações muito importante. A gente trabalha o dia inteiro e na correria acaba não dando a devida atenção a pequenas coisas que podem estar acontecendo com os nossos filhos. E vir à escola, ver o trabalho que ele faz, ouvir a professora, a diretora, a psicóloga, faz com que a gente acorde. Muita gente me diz que o Vinícius é esperto, curioso. E eu fico me perguntando: ‘Será?’. Aí, vejo o que ele fez na escola e acredito nisso. O trabalho dessa creche é muito bom, aliás, o trabalho do município é muito bom. Estou muito satisfeita”, elogia.

Para a técnica do DEB, Taísa Aragão, o convite para ver de perto o trabalho da escola foi uma grata surpresa. “Quando a Kátia nos convidou para essa conversa sobre as emoções, ela estava inserida nesse propósito maior do Fernando Guedes, de trabalhar as crianças a partir da singularidade de cada um. E de expressar o que elas têm de mais particular através da arte. Então, eu estou maravilhada com o efeito ambiental disso. De poder entrar em um espaço como esse, que é de vida, e pode enxergar tanta cor, tanta arte, tanto trabalho produzido por crianças tão pequenas. E é isso, as crianças têm muito dentro delas e poder trabalhar essa veia artística, criativa e curiosa das crianças é fundamental para que elas possam trilhar o caminho delas como cidadãos e possam estar em contato com o que elas têm de mais íntimo, de mais potente dentro delas. Que a educação possa contribuir para esse desenvolvimento do ser humano muito conectado com isso que é mais orbital dentro de nós, que é a energia, que é a emoção, que é o nosso sentimento, que é o nos move”, enfatizou.