Escola no Santa Maria promove debate sobre violência doméstica

Educação
22/11/2018 16h04

Estreitar as relações entre família e escola é um passo importante para o desenvolvimento dos alunos. A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) João Batista Douglas de Souza, no bairro Santa Maria, promove, periodicamente, mais do que simples reuniões de pais para o acompanhamento pedagógico das crianças. Com convidados de entidades da sociedade civil, os debates com os pais e responsáveis vai além de notas e comportamento. Na manhã desta quinta-feira, 22, a palestra com o tema “Violência na família, todos perdem', suscitou a reflexão sobre assuntos como respeito e empoderamento feminino.

Ministrada pela advogada criminalista Valdilene Martins, da Comissão de Defesa do Direito da Mulher, da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe (OAB/SE), a palestra buscou desconstruir ideias de submissão feminina, conscientizando os pais a respeito da igualdade de gênero. “Precisamos começar a observar a forma como educamos as nossas crianças. No seio familiar, desenvolvemos, sem perceber, vários tipos de preconceito e discriminação, tanto é que criamos as crianças de uma forma diferenciada, em que o menino sempre tem uma liberdade maior e a menina sempre com o direito cerceado. As meninas têm que saber que têm o mesmo valor que os meninos e eles têm que aprender que precisam respeitá-las e não são superiores. A gente pensa em deixar um mundo melhor para os nossos filhos, mas não nos preocupamos em nos tornar pessoas melhores”, ressaltou a advogada.

Temas como violência doméstica, abuso e exploração sexual e assédio foram tratados. A dona de casa Veraci Pereira da Silva conta que a palestra contribuirá muito para a forma como educa seus filhos. “Eu achei uma palestra muito informativa, aprendi sobre coisas que não conhecia antes como, por exemplo, a nova lei que foi aprovada em 2018 que diz que cantadas ou homens nos tocando sem nossa permissão dá cadeia, e que os abusos não são somente físicos, mas verbais também”, contou. 

Segundo a diretora da Emei, Rosilva Conceição Rodrigues, o tema foi escolhido a partir da realidade da própria comunidade. “Nós procuramos sempre abordar algum tema que faz parte da vivência deles. Sabemos que a comunidade sofre muito com todos os tipos de violência e essa é a mais presente. Então, buscamos os caminhos para chamar a atenção para o mal que pode causar para todos da família e, em especial, a criança; e como pode afetar ao desenvolvimento dessa até dentro da escola. Por muitas vezes, presenciarmos nossos alunos com algum deficit por viver diariamente a violência dentro de casa, como por exemplo, pais que espancam as mães, alcoolismo e uso de drogas”, afirmou. 

Durante a conversa com os pais, a palestrante alertou para a importância da educação através do diálogo. “Para se estabelecer o respeito dos filhos não precisa ter violência. Essa forma violenta de educar, infelizmente, ainda existe no Brasil e precisa ser erradicada. A gente, hoje, vive na correria do dia a dia e não temos muito tempo para ficar com os nossos filhos, mas, precisamos entender que o que importa é a qualidade do tempo que passamos com eles e não a quantidade”, destacou. 

Abordar temas ainda considerados tabus foi um dos pontos da palestra que contou com a presença de grande parte dos pais e responsáveis. “Questões como sexualidade ainda não são tratadas nas famílias, que é onde mais acontecem os casos de abuso. As crianças não têm o acompanhamento igualitário, a vida sexual dos meninos é liberada muito cedo, não respeitando as etapas de infância e adolescência, enquanto com as meninas, o tema sequer é conversado e, muitas vezes, elas engravidam muito cedo porque são reprimidas. A finalidade da nossa conversa de hoje foi justamente conscientizar sobre o fim dessa educação repressora”, finalizou Valdilene.