Ilé-Iwé: Prefeitura inicia formação continuada sobre relações étnico-raciais

Educação
17/05/2019 14h20

Trabalho em rede para fortalecer os debates e ações sobre educação e relações étnico-raciais. A Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Educação (Semed), iniciou nesta sexta-feira, 17, o curso Ilé-Iwé, uma formação continuada voltada para professores e coordenadores pedagógicos com o objetivo de estimular ações que contemplem plenamente a Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino de história afrobrasileira e indígena nas escolas de Ensino Fundamental. O curso foi idealizado pelas coordenadorias de Arte e Educação (Coarte) e de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped). 

Através de parcerias, a formação se estendeu para profissionais de outras redes. No total, 120 professores das redes municipais de Aracaju, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, além da rede estadual de ensino, se inscreveram na formação e compareceram ao primeiro encontro – de cinco que ocorrerão –, denominado ‘Xirê’, nas salas da Escola Superior do Ministério Público. Este primeiro encontro foi dividido em quatro grupos de debates, denominados Estações. São eles: Extermínio da Juventude Negra, Preto e Comunidade, Fruição de Bens Culturais e Mulheres Pretas. Todos os professores participaram das quatro temáticas. 

“Estes temas foram escolhidos a partir das polêmicas mais atuais. Nós precisamos discutir quais são, de fato, os espaços sociais ocupados pelas mulheres negras, que são nossas alunas ou mães de nossas alunas. Precisamos discutir quais as relações entre os negros e a comunidade em que estão inseridos, sobre os jovens negros que estão morrendo e também porque os bens culturais africanos e afrobrasileiros, muitas vezes, não são acessíveis a todos. Neste primeiro encontro, nós levantamos essas discussões para provocar os questionamentos nestes professores participantes e, nos próximos encontros, vamos debater a questão das práticas pedagógicas e como essas temáticas podem ser, ou não, inseridas nas escolas”, explicou a coordenadora da Coped, Maíra Ielena Nascimento. 

Os próximos encontros acontecerão nos meses de julho, setembro e novembro. O professor da rede municipal de ensino de Aracaju, Andson Alves dos Santos, desenvolve o projeto ‘Ubuntu’, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Sérgio Francisco da Silva, no bairro Lamarão, que trabalha com os estudantes que apresentam distorção de idade/série. Ele acredita que esta formação lhe ajudará a fortalecer seu projeto. “Ubuntu é uma palavra africana que significa ‘só sou se todos nós somos’ e realizamos aulas de reforço escolar e trabalhamos também com o teatro. Um curso como esse colabora com novas metodologias e que ajudarão o projeto a alcançar outras dimensões. Ações como esta, desenvolvidas pela Semed, colaboram diretamente com as práticas que já desenvolvemos ou que pretendemos desenvolver em nossas salas de aula e também para que esta lei tão importante seja, de fato, aplicada. Muitas vezes, perdemos muito tempo discutindo teorias quando, na verdade, é preciso que se apliquem efetivamente estas ações”, frisou.

Ilé-Iwé

Idealizado pela Secretaria Municipal da Educação de Aracaju, o projeto ainda conta com o apoio da Secretaria Estadual da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc) e das secretarias municipais da Educação de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, além do Ministério Público de Sergipe (MP/SE) e o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Sergipe (Neabi/UFS). A sociedade civil também se faz presente nas parcerias, com o apoio dos movimentos Unegro, Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, Nação HipHop, Coletivo de Estudantes Beatriz Nascimento e Instituto Braços. 

“Ilé-Iwé significa ‘casa de transmissão de conhecimento’, em yorubá, e pensamos neste nome porque a escola é uma casa aberta aos conhecimentos, que se comunica com outros saberes, os que já estão na comunidade. Estamos trazendo o conhecimento de diversas pessoas que estão se comunicando com as escolas, com a comunidade e fazendo disso um processo de ensino-aprendizagem. Estamos muito felizes por esse encontro de redes, com o apoio do Ministério Público Estadual e a nossa proposta é, realmente, multiplicar, enriquecer e promover a troca de experiências, tendo como alvo os nossos alunos”, destacou o coordenador de Arte e Educação da Semed, Rivaldino dos Santos. 

O promotor Luís Fausto Valois, da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (Copier) do Ministério Público de Sergipe participou da abertura do curso e é um dos apoiadores desta iniciativa. “Esta capacitação mostra o que é um trabalho em rede, para que tudo seja mais efetivo. Estamos promovendo sensibilização, trocas de experiências sobre o que deu e o que não deu certo e teremos uma culminância em novembro com um grande seminário, aberto a toda a sociedade para que possamos democratizar esta discussão”. 

Uma das facilitadoras da formação é Laila Oliveira, que faz parte da Auto-organização de Mulheres Negras Rejane Maria e é gerente de igualdade racial da Prefeitura de Aracaju. Seu grupo de debates tratou sobre a temática do espaço da mulher negra na sociedade. “Vamos discutindo a construção da imagem da mulher negra ao longo do tempo e, através dessas provocações, vão surgindo o questionamento dos participantes. Os professores reconhecem a carência deste debate nas salas de aula e os próprios currículos escolares, durante muito tempo, privilegiaram uma perspectiva muito colonialista, trazendo alguns autores que colocam não só a mulher, mas todo o povo negro ainda em papel subalternizado e isso contribuiu para que o alunado se colocasse nesse local de inferioridade. Então, existe um esforço em trazer novos olhares para que eles possam se ver de forma mais positiva”, afirmou.