Prefeitura beneficia com cestas básicas comunidades de religiões de matrizes africanas

Assistência Social e Cidadania
14/08/2020 15h55

A Prefeitura de Aracaju realizou nesta sexta-feira, 14, a entrega de doações de cestas básicas em cerca de 30 comunidades de religiões de matrizes africanas, situadas em diversos pontos da capital. A ação, desenvolvida por intermédio da Diretoria de Direitos Humanos (DDH), da Secretaria da Assistência Social, faz parte do Plano de Contingenciamento Social da atual gestão, cujo objetivo é reduzir os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus à população mais vulnerável do município.

Os recursos para a aquisição dos alimentos são provenientes do Comitê de Combate à Pobreza, para o qual os servidores municipais podem destinar 1% de seu salário para ações socioassistenciais desenvolvidas pela administração. De acordo com a secretária adjunta da Assistência Social de Aracaju, Selma França, cerca de 250 famílias foram beneficiadas.

“Muitas pessoas foram afetadas pela crise econômica gerada pela doença, por isso, intensificamos diversas atividades durante a pandemia para suprir as necessidades daqueles que mais precisam da nossa atenção. Já realizamos várias entregas, como para famílias da comunidade quilombola Maloca, no bairro Getúlio Vargas, na Ocupação das Mangabeiras, no 17 de Março, pessoas com deficiência assistidas pelo nosso equipamento, instituições sociais,  enfim, hoje, as comunidades de religiões de matrizes africanas foram contemplados, cumprindo o nosso papel de garantir assistência, principalmente aos mais vulneráveis”, destacou a adjunta.

Para atender a esses grupos, a Secretaria foi procurada pelo projeto “Quem Tem Fome, Tem Pressa”, promovido pelo Fórum Estadual das Religiões de Matriz Africanas, por outras entidades, além dos próprios terreiros, para a concessão do benefício eventual. Segundo o diretor da DDH da Assistência Social do município, Ilzver Matos, foi feita uma análise para identificar e beneficiar povos de terreiros em situação de pobreza e extrema pobreza.

“Solicitamos que fossem indicados os nomes dos terreiros que estavam dentro do perfil do Cadastro Único. A partir dessa lista, fizemos uma análise para a comprovação dos dados e fizemos a distribuição em casas por toda a Aracaju. É uma ação voltada aos povos tradicionais de terreiros que possui especificidades, na qual o governo e município têm a obrigação de verificar a segurança alimentar e nutricional em que se encontram. É o que estamos fazendo aqui hoje, pensando na necessidade dessas casas que para terem o chamado “Axé”, ou seja, a força vital, precisam ter o alimento”, disse.

O diretor ainda salienta a importância dos espaços enquanto função social. “Os terreiros, nas regiões que habitam, normalmente estão localizados nos bairros pobres. Em sua maioria, são os grandes mantenedores das pessoas carentes que vivem nesses locais. Muitas vezes, eles suprem a ausência de equipamentos sociais, tendo o compromisso de oferecer alimento na falta dele, acolhimento espiritual, tratamento de saúde, etc. Nesse momento de pandemia, se tornou difícil financeiramente para todo mundo e auxiliar o terreiro, os seus filhos e suas famílias a terem alimento, é também ajudar a comunidade de seu entorno”, completou.

Reconhecimento
Para a técnica de enfermagem, Edivânia Santos, 50, batizada de “Dandalejy” no terreiro “Ilê Axé Omim Dandá Onirê”, situado no bairro Bugio, as doações chegaram na hora certa.

“Muitos filhos da casa perderam o emprego, tiveram a sua renda reduzida e outros fazem bicos de trabalho. Estávamos ajudando alguns deles, mas a situação ficou difícil. Nós, que somos de terreiro, sabemos das dificuldades que passamos. Foi aí quando entraram em contato conosco e foi ótima essa sensibilidade que o município teve de nos ajudar nesse momento, um trabalho essencial”, reconhece Edivânia.

O pintor Renílson Soares, 45, do “Ilê Asé Odé Bará Faromim” da casa de candomblé “Ketu”, no bairro Suíssa, fez a distribuição dos alimentos para os filhos da casa.

“Quando fomos informados que seríamos contemplados, foi gratificante, principalmente nesse momento difícil que estamos passando. Com as cestas, podemos ajudar a todos os irmãos de Axé que estão precisando. Parabenizo o auxílio que a Prefeitura vem nos dando, com o compromisso de ajudar a nossa comunidade e as pessoas que estão passando por dificuldades”, falou.

A gerente comercial Ludmila Lima, 23, “Ekédi de Odé” na casa de candomblé “Ketu”, foi umas das pessoas que receberam a cesta básica durante a ação. “Perdi o emprego e receber a cesta foi muito válido porque acabamos ajudando a casa e outras pessoas que dependem disso. Por conta da pandemia, o movimento no terreiro, entre consultas e outros afazeres, caiu, então foi de muita ajuda para nós”, disse.

Há 30 anos como membro de religiões de matrizes africanas, o “Babá Tolanaegi”, Joselino Oliveira, 53, do terreiro “Abassá Ogum Megê”, localizado no bairro Suíssa, recebeu a equipe em seu espaço.

“Cadastrei meus 11 filhos para receber o benefício. Alguns deles foram demitidos de seus trabalhos devido à pandemia. A ação é louvável, é um reconhecimento público social e cultural do Axé, das casas de terreiro, que possui uma comunidade que precisa de atenção. No meu terreiro, a comunidade carente é predominante”, salientou.

A dona de casa Jocasta Oliveira, 30, a “Yakekerê”, do terreiro “Abassá Ogum Megê”, frequenta o local desde que nasceu. Sem trabalho, ela encontrou dificuldades para criar os seus dois filhos sozinha. “Sou mãe solteira, fiquei desempregada e as coisas começaram a apertar em casa. Muita gente precisa de uma cesta básica como eu e aqui na casa outras pessoas também perderam o emprego. Uma ação muito boa”, avaliou.

Próximas entregas
Nesta segunda-feira, dia 17, a partir das 14h, as doações serão entregues em alguns terreiros localizados nos bairros Santa Maria, Aruana, Castelo Branco, Inácio Barbosa, Jabotiana, Mosqueiro, Ponto Novo, Bugio e Suíssa.