Adolescentes assistidos pela Assistência Social são certificados pelo Aprendiz Integrado

Família e Assistência Social
18/12/2020 13h00
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As lousas brancas das salas de aula ganharam cores, formas e trouxeram novas perspectivas de vida para seis adolescentes acolhidos pelo Abrigo Caçula Barreto e Casas Lares, equipamentos socioassistenciais geridos pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Assistência Social, após suas participações na cerimônia de certificação do Aprendiz Integrado, Programa fundado pela Associação dos Jovens Aprendizes com Deficiência Visual. O evento foi realizado na noite desta última quinta-feira, 17, no Teatro Tobias Barreto, zona sul da capital.

De acordo com a coordenadora das Casas Lares da Assistência Social de Aracaju, Thaís Henrique Santos, a entidade do terceiro setor que atua em Aracaju em parceria com Ministérios Federais e Ministério Público do Trabalho em Sergipe, procurou o Município para a inscrição dos jovens no Programa. Para ela, houve mudanças significativas durante o processo de aprendizagem, uma conquista não apenas dos meninos e meninas, mas de toda sociedade.

“Em um mês, eles passaram por uma capacitação inicial, depois foram inseridos no mercado de trabalho, no qual atuaram em diversas empresas dos setores administrativos, recursos humanos e construtoras, e continuaram realizando outros cursos profissionalizantes durante o ano. Todo jovem sonha adentrar na área, mas sabemos das dificuldades, principalmente para adolescentes que estão em unidades de acolhimento institucional, porém, todos abraçaram o Projeto e trabalharam com muito empenho. Houve evoluções no que diz respeito ao comprometimento, interesse, formas de pensar, criação de expectativas e no desenvolvimento escolar. É uma oportunidade única deles se empoderarem e obter recursos para gerir a própria vida”, explicou.

De acordo com a coordenadora geral do Programa Aprendiz Integrado, Mafra Meris, a Prefeitura de Aracaju é o primeiro órgão público a institucionalizar a Lei da Aprendizagem de nº 10.097, de 19 de dezembro do ano de 2000, em suas unidades de acolhimento. O Município também sai na frente por regulamentar, por meio do Projeto da Lei Municipal nº 78/2017, a contratação de menor aprendiz com idade entre 14 e 18 anos em todas as suas secretarias e órgãos públicos municipais.

Segundo Meris, o Programa nasceu para o público em situação de vulnerabilidade social, acolhidos em abrigos, casas lares, repúblicas e para pessoas com deficiência. “O Aprendiz Integrado foi pensado para jovens e adolescentes que vivem em situação de abrigo ou tenham algum tipo de deficiência. Ao completarem 18 anos de idade, eles podem solicitar suas tutelas para o estado, mas não se preparam para esse momento. Quando os beneficiamos com o Programa, eles conseguem se capacitar, passar por diversas empresas e juntar um bom dinheiro para, a partir daí, decidir o que eles se tornarão profissionalmente”, destacou.

A coordenadora ainda fala que o Programa será desenvolvido em toda a administração municipal. “A lei assegura que jovens de 14 aos 18 anos tenham direito ao primeiro emprego. Viemos para assistir esse direito. Vamos executar o Aprendiz Integrado, dentro da Prefeitura, com o apoio do Ministério Público do Trabalho em Sergipe, do Ministério Público do Estado e do Tribunal de Justiça de Sergipe. Iniciamos o Projeto com 17 jovens e hoje já temos 400 aprendizes com pretensão de alcançar mais pessoas em todos os cantos do Estado”, completou.

Segundo o coordenador pedagógico nacional do Aprendiz Integrado, Eraldo Andrade, as aulas foram ministradas à distância, sendo monitoradas pela equipe de professores e coordenadores. O Programa se mantém com recursos de emenda parlamentar.

“Os deputados federais são parceiros nossos e destinam uma emenda para o Programa para que seja financiada a qualificação de adolescentes e jovens de 14 a 24 anos de idade. Levamos esse público em situação de vulnerabilidade social ao conhecimento técnico e da vida. Oferecemos 32 cursos ao total, desde auxiliar administrativo a recepção, agentes de higiene e segurança, manutenção de edificações, entre outros. No estado de Sergipe, temos 11 cursos ativos. Já atuamos em nível Nacional, estando presentes nos estados de Rondônia, Rio de Janeiro, Sergipe, Brasília e brevemente estaremos em todas as capitais do País”, salientou.

Recomeços
Uma noite inesquecível para a usuária I. R., 16, acolhida pela Casa Lar I. Ela nunca se imaginou vestida em uma beca de formatura. A noite representou o início da construção de degraus. “Fiquei ansiosa para que esse momento chegasse. Fiz um curso de auxiliar administrativo, trabalhei na área, foi muito bom. Não pensava que fosse chegar até aqui. Peço a Deus que venham outras oportunidades porque é renovador. Ainda não tenho um sonho, mas agarro todas as oportunidades que aparecem”, contou.

O usuário K. da S., 16, acolhido pelo Abrigo Caçula Barreto, também concluiu o curso de auxiliar administrativo e atuou em uma empresa no ramo da construção. Diferente de sua colega, I., ele tem o sonho de ingressar no Exército Brasileiro, vontade impulsionada por meio de sua participação no Aprendiz Integrado.

“Foi uma experiência maravilhosa, nunca tinha trabalhado, mas com tempo me dediquei, consegui superar as dificuldades e me tornei até responsável pelo almoxarifado da empresa. Estava ansioso para chegar esse momento. Sentimento de renovação, uma experiência nova. No Programa, aprendi coisas novas que nem pensava que provocariam mudanças. Aprendi a conviver como família entre jovens que eu nem conhecia”, disse emocionado.

Menção
O ex-usuário Felipe Santos, que já passou pela Casa Lar III, foi reavivado pelos profissionais e alunos formandos do Programa durante a cerimônia. O jovem faleceu prestes a completar 18 anos de idade, vítima de uma parada cardiorrespiratória e insuficiência respiratória aguda, em fevereiro deste ano, quando integrava o Aprendiz Integrado. Felipe participou todos os cursos ofertados e atuou em diversas áreas dentro da construtora na qual trabalhava. Ele vivia em situação de acolhimento porque teve seus direitos violados por negligência familiar.