“O Acolher me deu uma segunda chance, um incentivo para lutar pelos meus objetivos e ter uma vida digna. É uma porta aberta para a pessoa que quer se restabelecer, mudar de vida. Sou muito grata a essa oportunidade que a Prefeitura me deu”. Esse é o sentimento do usuário Cleoderte dos Passos Santos, 41, acolhido na Casa de Passagem Acolher, um dos equipamentos socioassistenciais geridos pelo Município, por meio da Secretaria da Assistência Social.
Em alusão ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, diversas atividades estão sendo realizadas para os usuários abrigados no Acolher. Para celebrar o marco da data, foi criada a Semana da Luta da População em Situação de Rua, realizada entre os dias 17 e 20 deste mês.
Segundo a coordenadora do Acolher, Fernanda Fraga, a Semana foi promovida para que a data não passe despercebida. “As pessoas em situação de rua são majoritárias em nosso equipamento. Montamos uma programação alusiva de tamanha importância e representativa na luta pela garantia dos direitos dessa população e para que tenham participação ativa em cada uma das atividades”, ressaltou.
Hoje, foram realizadas atividades como apresentação do “Grupo Artigo 163”, oficina de rimas e roda de conversa com o tema “Arte de Rua e Movimento Hip Hop”, além de apresentações artísticas dos acolhidos.
Além de estimular a participação dos usuários em apresentações e oficinas interativas, a programação da Semana já abordou temas sociais em dias anteriores, como na roda de conversa “Representatividade e Empoderamento”, feita na última terça-feira, 17. Para a assistente social do Acolher, Ana Rosa Bezerra Lima, a iniciativa é necessária para incentivar a autonomia dos usuários.
“A ideia é que eles se sintam representados, possam utilizar esse equipamento como suporte para transcederem, trazerem novas perspectivas, sendo utilizado de maneira positiva, para que possam mudar de vida e se tornem independentes. Em uma das atividades, abordamos sobre o cabelo como forma de identidade no qual trouxemos uma trancista que mora na Maloca, no primeiro e único quilombo de Aracaju, para fazer um trabalho de incentivo a autoestima e ao empoderamento”, destacou.
O grupo de rap “Artigo 163”, de viés social e luta antirracista, também contribuiu para o incentivo da autonomia, estimulando a ressocialização e mudança de vida, retratando histórias de vida das integrantes e espelhando o passado do grupo à realidade de muitos usuários em situação de rua.
De acordo com a rapper do “Artigo 163”, Manuele Caiane, a oportunidade de transformação de vida através da arte e da cultura é um incentivo diário para levar as letras ao público em situação de vulnerabilidade social e mostrar que é possível dar a volta por cima.
“Levar a transformação social através da arte e da cultura é algo muito importante para nós enquanto militantes do hip-hop, pois essa é a essência do hip-hop. Vir até esses espaços é muito importante para nós e para as pessoas que nos ouvem, para incentivar o respeito, a superação e o autoconhecimento dos usuários. Acreditamos que isso é uma forma de transformação da sociedade”, disse.
No Acolher, atua uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, assistentes sociais e educadores sociais, que realizam um acompanhamento especializado. O espaço disponibiliza local para armazenamento dos pertences, camas, alimentação e todo material necessário para cuidados de higiene pessoal.
Bate-papo no Freitas Brandão
Também em alusão à data, o abrigo provisório Freitas Brandão, localizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) General Freitas Brandão, realizará nesta quinta-feira, 19, em parceria com a equipe do Consultório de Rua, coordenada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), um bate-papo com os acolhidos.
“Pensamos numa ação conjunta com bate-papo, cultura, voz, vivências e histórias de vida. É um momento de todos falarem, de experiências serem trocadas para que vejam o quanto já conquistaram e o quanto ainda precisam crescer durante o processo de autonomia”, salientou a coordenadora do equipamento, Kelly Telles.
Marco para criação da data
O dia 19 de agosto ficou definido como Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua em decorrência do “Massacre da Sé”, que aconteceu em 2004. Na ocasião, sete pessoas em situação de rua foram assassinadas e outras oito ficaram gravemente feridas enquanto dormiam na região da Praça da Sé, em São Paulo.
A tragédia desencadeou o início da mobilização de grupos da população em situação de rua, resultando na criação do Movimento Nacional da População de Rua, uma luta uniforme pela garantia de direitos dessas pessoas.