Prefeitura investe para assegurar educação inclusiva na rede municipal de ensino

Educação
21/09/2021 19h30

“Ele tem autismo. Minha perspectiva para o futuro do meu filho é vê-lo estudando e acho que a escola tem a importância de fazê-lo se adaptar à convivência com mais gente, se enturmar, fazer amigo, não ficar isolado e ter mais acesso a conhecimentos. Acho que a educação vai ser um caminho para o desenvolvimento dele, porque será um mundo que ele vai descobrir e vai incentivar a fazê-lo o que ele gosta”, relata Maria Mércia, mãe de Pedro Gabriel, de 3 anos, aluno em seu primeiro dia de aula presencial, da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Áurea Melo Zamor, no bairro São Conrado.

É para sonhos de mães como a Mércia que a Prefeitura de Aracaju investe na educação inclusiva e hoje tem em sua rede de ensino 846 alunos com algum tipo de deficiência na rede municipal de ensino da capital. Através da Secretaria Municipal da Educação (Semed), uma série de recursos, apoio e tecnologia assistiva têm sido investidos.

Essa inclusão pelo acolhimento segue as orientações da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), que foi instituída pelo Ministério da Educação (MEC) em 2008 e age a favor do direito de todos os alunos participarem da educação juntos, sem discriminação e segregação.

A coordenadora da Educação Especial (Coesp/Semed) Thaisa Aragão explica que a rede pública de Aracaju não tem escola puramente para o ensino especial, mas, sim, unidades escolares em que os alunos com deficiência são incluídos junto a todos os outros estudantes.
 
São escolas comuns que adotam a Educação Especial na perspectiva inclusiva e alunos que têm deficiência estão incluídos. Para isto é preciso uma série de recursos, apoio, de tecnologia assistiva, como as salas de recursos multifuncionais.

“Hoje temos 24 salas de recursos na rede e estamos trabalhando para ampliar este número, ainda neste ano letivo, para 27. Contamos com 45 professores habilitados para o atendimento educacional especializado; 120 cuidadores, que são profissionais de apoio à inclusão; 14 profissionais da Língua Brasileira de Sinais; 12 intérpretes e dois instrutores de Libras”, explica Thaisa.

Este grupo faz um trabalho de apoio aos alunos da Educação Especial, tornando viável a permanência dos alunos na escola e visando o desenvolvimento de metodologias e recursos de tecnologia assistiva que possibilitem o acesso ao conhecimento, ao conteúdo e, consequentemente, o desenvolvimento da aprendizagem.

“Se tenho um aluno que anda de cadeira de rodas, ele precisa de um suporte de um profissional de apoio para a sua higiene; se for um estudante surdo, um profissional de apoio intérprete de Libras para fazer a mediação na comunicação. Anualmente, realizamos capacitações com os profissionais da Educação Especial e buscamos ofertar uma formação continuada, assim como atualização constante aos professores da sala de recursos”, explica a coordenadora do Coesp/Semed.

Com o retorno das aulas semipresenciais da rede, no último dia 13, as salas de recursos também voltaram a receber os alunos de forma presencial. Professora da Sala de Recursos Multifuncionais da Emei Áurea Melo Zamor, Anatercia Silva diz estar sendo um momento bastante desafiador.

“Temos trabalhado a questão da readaptação e a rotina escolar. Desde a semana passada que recebemos as mães para conversar e saber se as crianças estão fazendo terapia, se estão sendo acompanhadas por médicos, se estão tomando medicamentos e dizer que estamos abertos para fazer essa acolhida e esperar o tempo do aluno. É muito importante este processo, que ele seja leve, prazeroso para a criança”, relata a professora Anatercia.

Sobre como este trabalho tem impactado sua vida, Anatercia ressalta: “nós que trabalhamos com crianças da Educação Especial temos que ter uma visão diferenciada. Como pessoa, tornei-me alguém melhor, que consegue olhar para outra e perceber que cada um tem seu tempo de aprendizado. Isso faz muita diferença. E como profissional, tenho uma busca constante por conhecimento. Temos que estar sempre estudando e nos adaptando a essa demanda que é dinâmica, porque são situações muito particulares”.

Sala de recursos
As aulas da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) acontecem sempre no turno contrário à turma regular do aluno e dura, em média, de 40 minutos a uma hora. Junto a profissionais especializados, também são disponibilizados kits pedagógicos específicos para o Atendimento Educacional Especializado. Nos últimos meses as unidades de ensino receberam cerca de 60 materiais específicos, resultado de um investimento de R$299.521,30.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Marechal Henrique Teixeira Lott, do bairro América, Ruth Menezes é a professora da Sala de Recursos no turno da tarde. Ela conta que são utilizados métodos e materiais didáticos específicos para cada caso e que a Sala de Recursos tem a função de estimular as potencialidades do aluno e desenvolver os aspectos em que ele apresenta alguma defasagem.

“Se o aluno não consegue segurar o lápis, trabalhamos dinâmicas que trabalhem jogos de encaixe, massinha, massa de biscuit para que ele desenvolva essa força. Não é um reforço, então quando há necessidade, abordamos aqui o que a professora passa para o aluno na sala de aula e, embora não sejam o público-alvo, estudantes com dificuldades na aprendizagem também podem receber nosso acompanhamento”, afirma a professora.

Parte do investimento da Prefeitura na área da Educação também se destina à acessibilidade física das escolas, através de rampas de acesso, mapas e pisos táteis e banheiros adaptados, de modo a adequá-las às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre estrutura física acessível a todos.
 
Além disso, as últimas escolas inauguradas pela Prefeitura de Aracaju contam com elevadores e todos os ônibus do transporte escolar da rede municipal são adaptados, garantindo o direito à acessibilidade.

Ruth afirma que a conquista de uma política de educação inclusiva foi um ganho para todos. “Antigamente uma pessoa com deficiência era escondida, sem visão, sem palavra. Hoje, considero um ganho, não somente para a sociedade, mas para as crianças, esse processo de inclusão. Uma evolução para todos em relação a respeitar e aprender a conviver com as diferenças. A não promoção de uma educação inclusiva é como uma regressão”, ressalta.

A opinião é compartilhada pela professora Anatercia. “Sempre existiu pessoas com deficiência, mas estas eram deixadas nas suas casas, guardadas e muitas vezes até escondidas. Agora não. Hoje as famílias conhecem seus direitos, as leis, e sabem que a escola tem um papel inclusivo, com a obrigação de receber essas crianças. Todos nós lucramos com isso e conseguimos observar pontos positivos. Uma criança que tem a possibilidade de estar na escola, interagindo e aprendendo, socializando, em seu próprio ritmo de desenvolvimento e aprendizagem, faz diferença na vida de todos.

Reconhecimento
Na tarde desta terça-feira, 21, Thaisa Aragão foi homenageada durante a XIII Semana da Ascessilidade, recebendo o Troféu Pipiri. O evento foi promovido pelo Conselho Municipal dos Diretos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD), em parceria com a Secretaria Municipal da Assistência Social.

No evento, também houve homenagens a outros atores sociais que atuam diretamente na causa da pessoa com deficiência. O reconhecimento da Semed veio a partir do trabalho desenvolvido pela Coesp, que promove diariamente o ensino inclusivo, nas salas de recursos, salas regulares e em todo o ambiente escolar.

"Não faria nada se não tivesse a equipe da Coesp comigo, com o esforço diário, o compromisso, a dedicação e a vontade de fazer. Todos que passam por essa equipe, são pessoas que querem fazer a diferença e que não recuam diante das dificuldades", comenta Thaisa.

"Não estamos fazendo nada de extraordinário, estamos fazendo o que sabemos que deve ser feito. Além da equipe da Coesp, esse prêmio também é dos nossos colegas do DEB, da diretora Maria Antônia e dos nossos colegas coordenadores, da secretária Maria Cecília que abraça todos os nossos planos. Esse prêmio também vem como um reconhecimento de muitos, das mais diversas esferas da Semed e também das unidades de ensino, de todos os professores, coordenadores, cuidadores, interpretes e instrutores de Libras, que estão diariamente batalhando para que a inclusão aconteça no chão da escola", completa a coordenadora