Serviço de Atendimento Domiciliar completa um ano de acompanhamento humanizado

Agência Aracaju de Notícias
28/12/2021 08h00

Desospitalizar os pacientes e ofertar um cuidado humanizado dentro da residência dos mesmos são o norte que conduz o trabalho desenvolvido pelas equipes do Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD).
 
Efetivamente implantado em dezembro de 2020, pela Prefeitura de Aracaju, por intermédio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o serviço, que completa um ano, realiza visitas no trato individualizado de pacientes, olhar que se estende aos familiares e cuidadores dos atendidos. 

Desde sua implantação, foram feitas, até o momento, 229 solicitações para acessar o serviço, das quais 86 pacientes já receberam alta, 20 foram a óbito, 54 ainda seguem sendo assistidos e outros 67 tiveram solicitação recusada, seja por não terem o perfil do programa ou mesmo por instabilidade clínica para serem retirados do ambiente hospitalar. 

Por meio do SAD, a realidade do paciente é avaliada em sua integralidade, ou seja, vai além da questão pontual que o levou a necessitar do serviço. As equipes estabelecem vínculo com o assistido, com seus familiares e cuidadores para, assim, traçar estratégias que possam assegurar a recuperação, mas também que o tratamento possa se encaixar dentro das condições sociais. 

Dentro dessa dinâmica de assistência, são designadas equipes multidisciplinares, compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais, que realizam visitas aos pacientes assistidos e acompanham, na casa deles, a evolução do quadro.

Essa equipe se divide em quatro Equipes Multidisciplinares de Atenção Domiciliar (EMAD), compostas por médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e fisioterapeuta; e uma equipe multiprofissional de apoio (EMAP) composta por nutricionista, fonoaudióloga, assistente social, fisioterapeuta e psicóloga.

A quantidade de visitas é definida a partir da admissão e do quadro que o paciente apresenta, podendo ocorrer diariamente, incluindo aos fins de semana, ou em dias alternados. À medida que há uma melhora no quadro e há autonomia dessa família no cuidado desse paciente, ele recebe alta médica e é religado à Atenção Básica para que o acompanhamento ao longo da vida dele seja feito pela unidade básica de saúde.

“É preconizado pelo Ministério da Saúde que haja um período de até três meses para o atendimento do paciente, mas não é uma regra, de fato. Para nós, depende muito do quadro clínico do paciente. Há situações que requerem um cuidado mais prolongado, de seis meses a um ano. Só deixamos de realizar as visitas quando realmente o paciente está recuperado”, pontua um dos enfermeiros do SAD, Igor Silva, quem também, por vezes, fica responsável pela organização do cronograma de atendimento. 

Inicialmente, o serviço absorvia somente pacientes de unidades hospitalares, como o Fernando Franco e o Nestor Piva, e que ainda não tinham condições de alta hospitalar. Com a ampliação gradativa do serviço, desde o mês de agosto deste ano, todas as 45 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) também passaram a encaminhar solicitações para esse tipo de atendimento, respeitando os critérios básicos que enquadram o usuário no serviço. Nestes casos, os médicos fazem a solicitação através do Núcleo Interno de Regulação e a equipe do SAD realiza uma avaliação clínica ainda na unidade hospitalar.

“Além de ser uma vantagem para desafogar o sistema de saúde, o maior benefício é para o paciente e para a família. Também temos o papel de orientar os cuidadores para melhoria da assistência a esse paciente. Nos tornamos família, também, porque nos integramos ao dia a dia e estabelecemos um vínculo de confiança, o que possibilita uma visão mais detalhada e, de fato, humanizada da pessoa que precisa de assistência”, ressalta Igor. 

Cuidado 
Dona Maria Aparecida dos Santos sofreu uma queda em casa. O corpo idoso sentiu o impacto do tempo, mais do que a própria queda, e dona Maria precisou ser submetida a uma cirurgia no pé. A lucidez que o tempo não roubou dos seus dias, tornou o tempo de hospitalização ainda mais penoso. O calendário marcou um mês e 15 dias de internação, tendo passado por quatro unidades hospitalares, neste período. 

Em casa, Sebastiana dos Santos, filha de dona Maria, se revezava para manter os cuidados com a mãe, enquanto ela estava internada, no entanto, o bolso também já estava sentindo. 

“Eu tinha que pagar uma pessoa para me ajudar nas idas ao hospital, mas já estava ficando pesado e não temos condições para isso. Foi quando nos informaram que minha mãe se enquadrava no perfil para ter o serviço, o que vem ajudando muito. Existe, sim, a questão financeira, mas o principal fato é que ela já não aguentava ficar de um hospital para o outro. Minha mãe passou pelo Huse, pelo Cirurgia, pelo Nestor Piva e, por fim, quando chegou ao Fernando Franco, conseguimos esse suporte que tem sido maravilhoso”, conta Sebastiana. 

A visita à dona Maria acontece duas vezes por semana. Os cuidados com curativo, alimentação, postura, assim como psicológicos são ofertados a cada passagem da equipe. Para a assistida, receber o cuidado em casa é reconfortante. 

“Sou tratada com muito carinho, atenção, e estar em casa é outra coisa. Me sinto mais tranquila, mais calma por não precisar ficar num hospital. Da minha casa, recebo tudo o que preciso e espero que logo eu possa sair da cama e voltar a caminhar normalmente. Minha confiança está na equipe do serviço e no cuidado que recebo da minha família”, relata dona Maria. 

Gratidão 
Para o paciente, há o cuidado, o tratamento para que possa se recuperar, mas o serviço acolhe, ainda, os familiares e cuidadores para que tenham condições de lidar da melhor maneira possível com a situação. Quem cuida também acaba recebendo cuidados e orientações, até mesmo para se fortalecer diante do momento desafiador. 

E é dentro deste contexto que dona Ana Lúcia Gomes dos Santos se insere. No ano em que completou 48 anos de casada com Luiz Joaquim dos Santos, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o que paralisou um dos lados do seu corpo, dificultou a fala e o colocou em uma cama, quase imóvel. É ela que, hoje, dedica-se a cuidar dele, ao mesmo tempo em que ainda lida com a dor de ter perdido um filho para a covid-19, em agosto do ano passado. 

“Logo depois que meu filho morreu, meu marido foi internado. Um dia, estávamos sentados na mesa da cozinha e, de repente, o Luiz caiu no chão. Ele chegou a fazer cirurgia, foi intubado e passou quatro meses dentro de um hospital. Quando ele estava em condições, a equipe ofereceu os cuidados em casa, o que tem sido uma bênção em nossas vidas. São verdadeiros anjos e tenho uma imensa gratidão por tudo o que eles fazem”, destaca Ana Lúcia. 

Na memória dela, ecoa uma preocupação que Luiz tinha, antes de adoecer. “Quando nosso filho morreu, ele ficou com muito medo de me perder. Agora, ele está numa cama e sou eu quem cuida dele. E se posso cuidar é porque essas pessoas do SAD me orientaram, me ensinaram como fazer com ele. Mas elas não prestam cuidado só a ele. Eu também recebo atenção, sou ouvida por uma psicóloga e, muitas vezes, é isso que me ajuda a seguir”, completa. 

Acesso ao serviço
Os pacientes admitidos pelo SAD são encaminhados pela rede de saúde, não se trata de um serviço porta aberta. Pacientes hospitalizados na Rede de Urgência de Aracaju são encaminhados pela própria unidade hospitalar. A equipe multidisciplinar realiza uma avaliação do paciente ainda hospitalizado antes de admiti-lo, e a família desse paciente também é contatada e recebe a visita da equipe antes da desospitalização do paciente.

Já os pacientes encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde, antes da admissão no SAD, recebem a visita da equipe multidisciplinar para avaliação e formulação do plano terapêutico.