Rede de assistência da Prefeitura garante inclusão a pessoas com TEA

Agência Aracaju de Notícias
02/04/2022 08h00

Ao longo dos anos, a difusão de informações foi fundamental para a mudança de percepção a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo, um momento para chamar a atenção e contribuir para a redução do preconceito e estigmas relacionados às pessoas afetadas pelo transtorno. Em 2022, o tema definido para a campanha de conscientização é “Lugar de autista é em todo lugar!“.

Para além da data alusiva, em Aracaju, a Prefeitura não apenas trata sobre o tema, como possui unidades e serviços que atuam de forma intersetorial com o intuito de fortalecer as ações, amplificar a inserção das pessoas com TEA na sociedade e garantir a autonomia indispensável dentro de suas diferentes necessidades.

Pais do pequeno Denis, de 4 anos, Andreia Oliveira e Osvaldo Júnior têm hoje em um dos serviços da Prefeitura um norte para agregar desenvolvimento à trajetória do filho. Há cerca de dois anos, Denis é um dos usuários do Centro Especializado de Reabilitação (CER II), unidade gerida pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

“Aos quatro meses, ele começou a ter convulsões e, depois de uma série de exames e avaliações, foi diagnosticado com Síndrome de West. Na época, nos disseram que, como não tem cura, havia a grande possibilidade dele ficar sem caminhar, sem falar, entre outras questões. Me apeguei ainda mais à minha fé e, graças ao tratamento e às minhas tantas orações, meu filho melhorou. Porém, tempos depois, descobrimos o autismo. Foi na escola que descobrimos o CER e foi no Centro que o Denis passou a se desenvolver e a se relacionar melhor com as outras pessoas e com o mundo”, conta a mãe.

Preocupados em garantir a inclusão do filho, Andreia e Osvaldo matricularam o pequeno numa escola particular de Aracaju, mas, não demorou muito e eles sentiram a necessidade de munir o filho de outras ferramentas.

“Soubemos que a rede municipal de Aracaju tem escolas com todo o suporte para crianças com deficiência, o que não existe na escola em que o matriculamos, antes. Então, no próximo ano, ele vai poder ter acesso a, inclusive, professores que poderão trabalhar com mais foco nas necessidades dele, sem que, para isso, ele precise ir para uma escola especializada, que o separe. Para nós, dar autonomia e ajudar para que ele seja aceito e incluído na sociedade é fundamental porque sabemos que o TEA o diferencia, mas não o torna incapaz, pelo contrário. Sabemos das capacidades do nosso filho e o quanto ele pode se desenvolver ainda mais”, destaca Andreia.

Ex-funcionária do CER, Aldaci Santos, mãe de Davi Lucas, de 3 anos, soube exatamente onde procurar suporte quando o filho foi diagnosticado com TEA. Na ocasião, o receio de Aldaci não estava relacionado à oferta dos serviços, mas ao preconceito, inclusive dentro de sua própria família.

“Percebi os primeiros sinais quando ele demorou a começar a falar. Marquei uma consulta na unidade de saúde e fui encaminhada para uma série de especialistas que diagnosticaram com autismo. No início, fiquei assustada porque não sabia como lidar com a situação, mas, no CER, encontramos o suporte que precisávamos. Meu filho estuda em escola normal, interage com outras crianças e percebo a evolução que ele vem tendo com o tratamento. Logo que começou o tratamento, era muito trabalhoso, mas, hoje, eu só agradeço por ver meu filho cada dia mais desenvolvido. Davi é a minha benção, a minha alegria”, relata Aldaci.

A mãe não deixa de pensar nas dificuldades, mas enxerga as capacidades do pequeno, o que a faz fortalecer sua relação com o serviço. “Ainda sofro por ver algumas pessoas tratarem meu filho com certa indiferença, mas, quando me volto para as outras que acolhem, me sinto mais tranquila e confiante. Davi é um menino incrível. Assim como tantos que também convivem com o autismo, o que ele precisa é ser visto como uma pessoa com muitas possibilidades”, frisa.

Intersetorialidade
O CER é um dos serviços ofertados pela Prefeitura de maneira intersetorial, e envolve as secretarias da Saúde (SMS), que coordena o Centro; da Assistência Social, que desenvolve as ações no Centro de Referência Especializado para Pessoas com Deficiência (Centro Dia); e da Educação (Semed), por meio das Salas de Recurso em unidades de ensino da rede municipal.

Conforme a coordenadora do CER II, Sony Petris, a porta de entrada para o Centro são as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), de onde as pessoas são encaminhadas por meio de triagem. No entanto, ela ressalta que cada pessoa com TEA recebe um tratamento específico.
 
“Depende da demanda de cada um. O CER oferece acompanhamento com fonoaudiólogo, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionista, equipe de enfermagem, médicos neurologista e ortopedista, e psiquiatra. Se, dentro da rede, algum usuário apresentar um comportamento mais desorganizado, de maior agitação, ele passa a ser acompanhado, também, pelo Caps [Centro de Atenção Psicossocial]”, detalha Sony.

Ao sublinhar que as famílias também recebem apoio junto a assistentes sociais, a coordenadora do CER II salienta que o foco é trabalhar para fazer com que as pessoas com TEA sejam o mais funcional possível, integradas à sociedade.
 
“Para isso, é preciso que a sociedade também perceba e aceite as diferenças e as pessoas com TEA estejam nela, como nas escolas. Algumas vão se adaptar facilmente, outras terão mais dificuldade, mas, neste sentido, estamos à disposição para dar apoio e suporte. É importante que haja esse olhar coletivo, o suporte de uma rede”, enfatiza Sony.
 
Inclusão
No eixo educacional, a Prefeitura atua em todas as regiões da cidade e, por meio da Semed, uma série de recursos, apoio e tecnologia assistiva têm sido investidos. Essa inclusão pelo acolhimento segue as orientações da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), que foi instituída pelo Ministério da Educação (MEC) em 2008 e age a favor do direito de todos os alunos participarem da educação juntos, sem discriminação e segregação.

“Hoje, temos 24 salas de recursos na rede e estamos trabalhando para ampliar este número, ainda neste ano letivo, para 27. Contamos com 45 professores habilitados para o atendimento educacional especializado; 120 cuidadores, que são profissionais de apoio à inclusão; 14 profissionais da Língua Brasileira de Sinais; 12 intérpretes e dois instrutores de Libras”, explica a coordenadora da Educação Especial (Coesp), Thaisa Aragão, ao ressalta que, atualmente, a rede possui, aproximadamente, 370 alunos com TEA.

As aulas da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) acontecem sempre no turno contrário à turma regular do aluno e dura, em média, de 40 minutos a uma hora. Junto a profissionais especializados, também são disponibilizados kits pedagógicos específicos para o Atendimento Educacional Especializado.

“O autismo é uma das temáticas que trabalhamos e, na atual gestão municipal avançamos na oferta de salas de recursos e materiais pedagógicos. Apesar de termos salas de recurso em 24 unidades, todas as 74 escolas do município recebem estudantes com qualquer deficiência ou transtorno”, pontua Thaísa.

Para a coordenadora da Educação Especial, a intersetorialidade é fundamental para prestar o suporte necessário a esse público.

“A inclusão social e a inclusão na escola colocam o indivíduo em situação que ele precisa responder e, para isso, precisa do suporte para que possa responder a essas questões. Eles têm uma maneira diferente de estar no mundo e não podemos fugir disso, portanto, precisamos saber como lidar. E a escola tem papel fundamental na construção de uma cultura inclusiva, assim como os demais serviços públicos, mesmo sabendo que ainda temos que avançar muito”, aponta Thaísa.

No âmbito da Assistência Social, o Centro Dia é a unidade voltada para o acolhimento. A coordenadora da unidade, Lívia Caroline Almeida, salienta que o serviço tem como foco trabalhar a autonomia dos usuários.

“No Centro Dia, temos assistente social, educador social, cuidador social, pedagoga e oficineira. Nosso trabalho é desenvolver habilidades, das mais básicas, porque, na unidade, recebemos pessoas de 18 a 59 anos, e muitas delas não tiveram assistência ou condições de realizarem tratamento, seja por dificuldade em algum ponto do acesso ou por ter tido um diagnóstico tardio. No entanto, seja nos casos mais leves ou nos mais severos, atuamos para integrar esse cidadão no mundo, proporcionando autonomia, dentro daquilo que sua demanda permita. Neste sentido, o trabalho conjunto com outras secretarias é imprescindível para garantir a continuidade do tratamento na integralidade do indivíduo”, completa Lívia.