Eu escolhi Aracaju: um carioca com a personalidade forjada em Aracaju

Agência Aracaju de Notícias
23/03/2017 17h00

Uma infinidade de razões pode levar uma família a mudar de um lugar para o outro. No caso da família Cunha, a ditadura militar provocou a fuga do Sudeste para o Nordeste. O patriarca sofreu perseguição política no final dos anos 1960 e em 1970 se refugiou na capital sergipana, trazendo toda a família no ano seguinte. O empresário Thiago Bastos Cunha tinha então apenas quatro anos de idade. Ele nasceu no Rio de Janeiro, mas desde aquela época passou a ser de Aracaju. E por aqui permaneceu até os 21 anos.

"Essa idade é quando você forma a personalidade, de costumes, de alimentação, de disciplina, de horários de dormir porque aqui o pessoal realmente dorme cedo, a cidade te cansa menos, você acorda bem cedo, são coisas que eu reparei quando eu voltei", conta. Depois da maioridade civil, ele voltou a viver no Rio de Janeiro por 27 anos, muito em função do seu eixo profissional, mas desde o final de 2013 suas convicções pessoais e profissionais o trouxeram de volta. E com ele, o filho mais novo, sua nora e seu netinho, este repetindo agora um pouco da história do avô. A esposa ainda está no Rio, como servidora pública cumpre o período final para a aposentadoria.

Mas Thiago, mesmo no tempo que morou por lá, nunca se afastou de Aracaju. O período máximo que ficou distante foram três anos, e mesmo assim por dificuldades financeiras. "Meus pais moram aqui até hoje. Tive quatro filhos e as férias eram sempre na casa do vovô, isso é normal numa família com muitos filhos", lembra o ex-surfista da praia do Meio. Morando atualmente no Mosqueiro, ele é dono de uma fábrica de pranchas no Distrito Industrial de Nossa Senhora do Socorro.

"Na verdade eu pegava onda já com aquela ideia de trabalhar com o que gosto. Eu ia direto na Atalaia mesmo, na época que tinha a praia do Meio ali, tinha um circo inclusive, uma tenda cultural na praia. Foi uma época que eu imaginava que iria trabalhar com o surfe para poder pegar mais onda, mas na verdade se você quiser ter compromisso com o seu trabalho a diversão fica um pouco para segundo plano", pondera.

Ele relembra que no tempo das ondas "era o maior barato". "Eu trabalhava no Banco do Estado, era um horário flexível até 13h, então continuei praticando e naquela ideia de trabalhar com surfe. Fazia consertos, tinha uma oficina e fui para o Rio já imaginando que lá eu realizaria isso que estou fazendo aqui. Pensei: o eixo de trabalho é Rio/SP, se eu for para lá e conseguir algum espaço, a minha ideia já era criar uma fábrica", lembra.

Vantagens

No Rio ele atuou no ramo que sonhou, adquiriu muita experiência, mas foi em Sergipe que ele conseguiu concretizar o seu objetivo, muito em função das vantagens da sua capital.  "A gente trabalha num mercado realmente bastante irregular, na relação de trabalho, no recolhimento de impostos, não se adequa ao que na minha visão é o normal, porque se é uma indústria inevitavelmente causa um impacto ambiental, gera lixo, então é preciso responsabilidade com esse tipo de coisa. E lá eu era meio que visto como maluco quando falava nessas coisas", explica.  

Ao comparar ‘A Pequena' com a ‘Cidade Maravilhosa' ele enumera as diferenças. "Na verdade eu vejo muitas vantagens nesse comparativo. A qualidade de vida é o primeiro fator na minha opinião. A cidade maravilhosa é boa para você passear. Eu lá tinha um ritmo de trabalho de 12 a 14 horas praticamente não aproveitava nada no Rio de Janeiro, foi um período bastante sacrificante. Já cheguei a trabalhar cinco anos sem parar nenhum dia. Aqui, do ponto de vista profissional, estou regulamentado e fazendo um investimento em longo prazo, estabelecendo um novo procedimento. Acredito que no Brasil inteiro não temos mais de quatro fábricas no mesmo caminho que nós estamos", informa.

A fábrica emprega atualmente quatro pessoas e a maior parte da produção vai para fora do Estado, atendendo Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Fortaleza. Mas já vendeu inclusive para fora do Brasil. "Tivemos títulos mundiais, com atletas vencendo na França e Austrália", conta, acrescentando que já está em processo de internacionalização da marca e também trabalha para conseguir a certificação ambiental.

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