Assistência realiza sensibilização contra o trabalho infantil com fiscais de feira

Assistência Social e Cidadania
12/09/2017 17h54

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015 e o Censo Demográfico de 2010, em Aracaju, as feiras livres abarcam a maior incidência de trabalho infantil. Dando continuidade às ações de combate à prática, a Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju convidou inúmeros fiscais de feira da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) para uma roda de conversa, nesta terça-feira, 12, no auditório da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), com o objetivo de sensibilizar a categoria às questões alusivas à exploração do trabalho de crianças e adolescentes.

A prefeita em exercício e secretária municipal da Assistência, Eliane Aquino, julga extremamente importante esse contato intersetorial, porque através dos pontos tratados durante o encontro, um olhar mais humano e sensível a respeito do tema é criado. “Nós temos um desafio muito grande, que é o de cuidar da nossa cidade e isso passa, sensivelmente, pelo cuidado com as nossas crianças. Temos uma cultura muito grande de que o trabalho dignifica as pessoas. Mas o entendimento errado desse ditado popular acaba atingindo, especialmente, muitas crianças e adolescentes que não deveriam ser submetidas a uma exploração precoce de sua mão de obra. Nós precisamos desconstruir essa prática que está tão enraizada na nossa cidade e principalmente nas feiras livres, mas esse é um trabalho que nem de longe pode ser realizado por apenas um órgão. Precisamos de todos os setores, de cada secretaria, do trabalho de cada fiscal. Todos são imprescindíveis nessa luta".

A exploração de mão de obra precoce ocasiona malefícios que vão além da parte física. De acordo com o pediatra e integrante da Secretaria de Saúde de Aracaju, Byron Ramos, o trabalho infantil é secular e envolve situações de grande vulnerabilidade. “É algo, infelizmente, muito comum. Os problemas musculares, ortopédicos e de crescimento são bem recorrentes, mas também as questões sociais e emocionais entram em jogo. Enquanto essas pessoas trabalham, são excluídas de atividades lúdicas, tão importantes para a faixa etária. Outra questão a se falar é a qualidade da escola. Não adianta tirar as crianças e os adolescentes das ruas e não oferecer uma escola atrativa, que dê gosto de participar. A educação é o principal agente transformador das vidas, então, essa galerinha precisa realmente acreditar nisso, para mudar de rota”.

A mudança de rota foi possível na vida de Robson Pereira, que foi dos 12 aos 14 anos ‘carrego de feira’ e, através do incentivo da família e do investimento na educação, conseguiu modificar não só a realidade em que vivia, mas também a da família que construiu, já na fase adulta. “Eu desde criança sempre quis ter as minhas coisinhas. Eu sabia que a minha mãe, por falta de condições, não podia dar tudo que eu queria, então eu comecei a trabalhar nas feiras. Nessa época eu só via o trabalho de carrego e não estudava. Mesmo que pouco, a possibilidade de ter dinheiro cega a gente e eu comecei a comprar algumas coisas que eu gostava. Passado um tempo, quando fiz 14 anos, a minha família me chamou para conversar e aconselhar para que eu parasse de trabalhar e me dedicasse totalmente aos estudos. Foi aí que eu pude terminar o colégio e hoje trabalho como fiscal de feira. Quando vejo uma criança nas condições que eu estava, há alguns anos, me coloco no lugar dela e imediatamente as sensações são revividas. Eu tento conversar e explicar, mas não tinha muito jeito nem argumentos para falar. Agora, após esse momento que tivemos, vai ficar muito mais fácil", avalia. 

As tratativas a respeito do combate ao trabalho infantil iniciaram com a criação do Plano Municipal de Combate ao Trabalho Infantil, que envolve a mobilização, identificação, proteção social e responsabilização. Dentro desse plano constam ações de mobilização social, que acontecem regularmente nas vias de grande circulação da cidade, além de outras atividades com a sociedade, dentro dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e audiências públicas. As ações de proteção social fortalecem a rede de atendimento à criança e ao adolescente, principalmente as que vivenciam o trabalho infantil.
Para Lucimeire Amorim, coordenadora de programas socioassistenciais da Assistência, o encontro foi bastante proveitoso. “A proposta da conversa foi qualificar e sensibilizar o olhar dos fiscais. Não tem como irmos para as feiras livres, fazer a sensibilização de não dialogarmos com outros atores que trabalham com a gente. Esse é um momento de formação e eu creio que foi extremamente proveitoso, não só para os fiscais, mas também para nossa equipe, que pode trocar experiências específicas do território das feiras”.

O evento, que ainda contou com a palestra da diretora de Direitos Humanos da Assistência, Lídia Anjos, terá continuidade através de uma formação para os educadores sociais e posteriormente chegará até as feiras livres da capital sergipana.