Estudante com dupla excepcionalidade realiza mostra de trabalhos em escola

Educação
26/10/2018 14h29
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A habilidade com as mãos impressiona, a simpatia conquista. Luiz Felipe Costa é um aluno especial em todos os sentidos. Da natureza vem a principal inspiração para o seu trabalho; e da união entre família e escola, seu grande incentivo. Estudante do 9° ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Santa Rita de Cássia, no bairro América, o aluno com dupla excepcionalidade, autismo e altas habilidades, encanta a todos com sua arte. Personagens de desenhos animados, animais, pessoas. Tudo é representado por Luiz Felipe através de desenhos, feitos à mão ou por um programa de computador; e por esculturas com massa de modelar ou biscuit. Para comemorar seu aniversário de 16 anos, celebrado nesta sexta-feira, 26, a família e a direção da escola promoveram, no pátio da Emef, uma mostra com os principais criações do estudante.

“Chegamos ao disgnóstico de autismo do Felipe quando ele tinha 3 anos e 6 meses de idade. A partir daí, começou nosso trabalho com ele, através de inclusão social, terapia ocupacional, fonoaudiologia, e fomos incluindo outras tarefas, como natação, que hoje ele vem se destacando”, explica, orgulhoso, o enfermeiro Renilson Costa, pai do aluno. “Tudo começou a partir do aniversário do irmão dele, que a decoração foi feita com o tema de um desenho animado. Depois, com as nossas visitas ao zoológico, percebemos que ele se identificava com os bichos e passou a desenhá-los. Através disso, ele aprendeu a falar, a escrever e nós conseguimos entender melhor sua forma de se expressar através da arte”, completa.

Rede municipal

Luiz Felipe chegou à rede municipal de ensino no 6° ano do Ensino Fundamental Maior. Com o apoio da Secretaria Municipal da Educação (Semed), os pais pesquisaram e avaliaram qual a melhor Emef para matriculá-lo. Mesmo posteriormente mudando de cidade (atualmente, a família mora na Barra dos Coqueiros),. o estudante permaneceu na Emef Santa Rita de Cássia, onde se despede este ano, para ingressar no Ensino Médio em uma escola estadual.

Quando chegou à unidade, foi realizada uma exposição com o trabalho do aluno para apresentá-lo à comunidade escolar, o que fez toda a diferença. “Nossa formação universitária aconteceu há algum tempo, época em que não se discutia a inclusão social. Mas a Semed nos deu todo o apoio e orientação, inclusive, fazendo encontros com os outros estudantes para explicar o que é o autismo e, a partir daí, os alunos foram mostrando generosidade, compreensão, solidariedade e respeito ao colega. Aprendemos muito com ele, passamos a ter um novo olhar, inclusive com os outros alunos especiais. Ele tem uma família fantástica, que chega junto, isso faz toda a diferença”, pontua a diretora adjunta da Emef, Fátima Marques.

Luciene Alves de Oliveira foi professora de Felipe em seu primeiro ano na Emef e, agora, em seu último ano. Ela, que acompanhou de perto seu desenvolvimento, afirma que o aluno evoluiu bastante. “Ele chegou muito silencioso, ensimesmado. Para nós, era um desafio, mas toda a escola o abraçou porque queríamos incluí-lo de verdade à escola. Falei para os pais que meu desafio era fazer ele ler um texto e compreender, e eles mesmos acharam que seria muito difícil, mas o Felipe conseguiu, surpreendendo desde o primeiro ano aqui. Ele é um aluno que vai deixar muita saudade”, afirma.

Altas Habilidades

Leões, elefantes, pássaros. As esculturas em massa de modelar impressionam pelos detalhes. Assistindo a um desenho animado na televisão ou vendo pessoalmente os animais, Felipe já consegue se inspirar para representá-los através da sua arte. “Antes mesmo de começar a ler e a escrever, ele passou a desenhar e vimos que os desenhos eram muito bons e passamos a estimulá-lo”, conta a advogada Neurilândia Freitas Santos, mãe do estudante. “A gente sabe que existe uma barreira em relação ao novo, mas, quando as pessoas tendem a conhecê-lo, são conquistadas porque ele é bem carinhoso e cativante. Fomos fazendo esse trabalho e a escola nos abraçou. Fizemos uma pesquisa e encontramos aqui um ambiente gostoso para ele”, completa. 

A técnica da Coordenadoria de Educação Especial (Coesp) da Semed, Leila Santos Barreto Cardoso, acompanhou toda a permanência de Felipe na rede municipal. “Sempre trabalhamos com essa perspectiva de dupla excepcionalidade, o autismo e as altas habilidades em designer gráfico. Ele tem uma ótima coordenação motora, faz todo um trabalho de grafismo, mas chegou aqui com um comportamento estereotipado, falava repetitivamente, não suportava barulho. Foi feito um trabalho antes de sua chegada, pois ele vinha de uma escola com 280 alunos para outra de mais de 1.200”, explica.

Leila ainda conta que a evolução foi contínua. De acordo com a técnica, inicialmente, o estudante era um aluno ecolaico (forma de afasia em que o paciente repete mecanicamente palavras ou frases que ouve). “Da chegada dele até agora, posso dizer que ele é outro, ele evoluiu. Agora, ele tem a fala contextualizada, faz interferência, pergunta. Toda a rotina dele foi trabalhada, o currículo adaptado, tudo isso com a colaboração dos professores da Emef Santa Rita e da Sala de Recursos. Ele só desenhava animais, agora também desenha pessoas”, completa.

Em seu último ano na rede municipal, Felipe se prepara para uma nova fase, o Ensino Médio. A Semed continuará acompanhando e apoiando este processo de transição. Junto à Coesp, os pais de Felipe estão visitando escolas. Quando escolherem uma, realizarão mais uma mostra do trabalho do aluno, com o objetivo de apresentá-lo aos novos professores e colegas. “O papel dos professores da Sala de Recursos é este, acreditar no potencial dos alunos e fazer com que os outros acreditem também”, finaliza Leila.