Dedicação dos servidores municipais está transformando Aracaju

Agência Aracaju de Notícias
26/10/2018 15h30

No dicionário Aurélio, a palavra "servidor" tem como uma das definições "que ou quem está disponível para ajudar". Mais do que cumprir suas obrigações, existem servidores que, por se dedicarem além das suas funções, são tidos como verdadeiros agentes transformadores, seja dentro do seu próprio local de trabalho ou transpondo o ambiente profissional. É através desse tipo de servidor que a Prefeitura de Aracaju trabalha as suas perspectivas de colher bons frutos no futuro, não limitada à atual gestão, mas com o pensamento de que as ações positivas se perpetuem para as próximas administrações, focando sempre num serviço que tenha por trás pessoas que, através do exemplo, ajudam a construir uma cidade melhor para essa e as gerações vindouras.

Pessoas como Antoniélia Ribeiro. Educadora formada em 1997, ela nasceu no extremo Sul do Estado da Bahia, na época, um grande povoado que hoje se transformou na cidade de Eunápolis, no distrito de Porto Seguro. Foi lá que ela teve o seu primeiro contato com a empatia, palavra tão simples, mas de profundo significado. Lá pela década de 1970, Antoniélia cresceu vendo os moradores do povoado ajudando uns aos outros e foi na escola Casinha Feliz que começou a construir seu caminhar para o futuro na Educação. Hoje, ela é diretora da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) José Calumby Filho, a primeira escola pública do Nordeste a empregar a metodologia Waldorf, e está localizada no bairro 17 de Março, uma área carente de Aracaju. De uma criação num povoado até chegar a ser servidora da Secretaria Municipal da Educação (Semed), mais precisamente à frente de uma unidade de ensino, Antoniélia foi guiada pelos seus ideais.

"Ainda sou uma pessoa que acredita nos ideais. Essa questão do respeito à liberdade individual, de acreditar no potencial do ser humano, faz parte de mim. Acho que por isso me formei educadora. Mais ou menos em 2008, chegou para mim uma convicção de que o trabalho na educação infantil era aquele que casava mais comigo porque atua com as bases do ser humano. Vim parar aqui por acreditar numa proposta que enxerga o ser humano de maneira integral", contou.

Antoniélia tem propósitos muito definidos, mas, para construí-los, ela também contou com fortes convicções e uma percepção de mundo que só tem quem consegue enxergar o outro para além do que se mostra. Foi numa sala cercada por artesanatos e pinturas feitas pelos próprios alunos da escola que ela deixou fluir o que a faz acreditar nas pequenas sementes que hoje ajuda a germinar. "Se a gente pensar na escola como um lugar só para a intelectualidade, estaremos vendo o ser humano de um único lado e o ser humano é múltiplo. Se a gente só olhar o ser humano com o lado da intelectualidade, chegaremos ao que já chegamos depois do Iluminismo, em duas grandes guerras mundiais. As armas, as estratégias bélicas foram criadas por pessoas com intelectualidade muito avançada. Essa questão hoje, esses estudos todos que analisam as fake news, que fizeram estragos nos EUA e estão querendo alastrar para o mundo inteiro, é tudo feito por gente muito intelectualizada, mas, com pouca ética e com pouco senso prático da vida. O que acontece em escolas que cuidam apenas do intelecto é que elas acabam por incentivar a competição e, assim, muitas vezes, se perde o espírito altruísta e de empatia", reforçou.

Para a educadora, a gente precisa acreditar no ser humano, mesmo aquele que ele tenha atitudes negativas. "Ele é um ser humano, tem o potencial bom para se desenvolver. Se perder essa esperança como você trabalha numa escola, por exemplo? Às vezes o que ele precisa não passa só pelo intelecto, tem que passar pela vontade de fazer, pelo sentimento, aquele que acolhe cada um. E esse é um grande desafio porque não somos todos iguais e é a diferença que dá o tempero. Precisamos olhar para o outro e é por reconhecer isso na minha formação que eu priorizo no trabalho", considerou.

Visibilidade para quem existe

Foi no Centro de Aracaju, mais precisamente na rua Laranjeiras, que a assistente social Andreia Gomes chegou e decidiu transformar vidas através de toda a sua experiência de uma infância em situação de vulnerabilidade. Nascida na Bahia, aos 12 anos, sua mãe, por não ter condições de criá-la, a colocou em uma escola de freiras, em Alagoas, onde ficou até os 18. Foi neste local que ela foi instigada a aguçar o seu olhar e fomentar a solidariedade. Ao passar no concurso da Prefeitura de Aracaju em 2011, ela escolheu atuar com pessoas em situação de rua e, atualmente, se doa no trabalho do projeto "Olhares", uma iniciativa da equipe de Pedagogia e Educação Social do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop), unidade da Secretaria Municipal da Assistência Social. Esse projeto tem como principal objetivo estimular, de forma dinâmica, a aprendizagem da leitura e da compreensão textual, bem como despertar o interesse pelo ingresso no ensino formal, possibilitando, assim, que pessoas em situação de rua, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, tenham a chance de mostrar que existem.

"Eu acredito que a educação é um meio transformador. Quando pensamos no projeto, idealizamos que essas pessoas tivessem um caminho dignificado pela educação e que pudessem, a partir do ensino, ressignificar suas vidas. Tentamos despertar nessas pessoas que esse trabalho tem um sentido para elas porque não adianta ensinar uma coisa se não fizer sentido na vida do público que é o nosso foco. Foi a educação que me mostrou um outro mundo, que abriu as portas para que eu pudesse ajudar outras pessoas, que pudesse enxergar o mundo através de outra ótica e, com a minha atuação, desejo fazer com que outras pessoas tenham esse sentimento", frisou Andreia.

Foi convivendo com pessoas com realidades bem distantes da sua que a assistente social passou a afirmar que aprende muito mais do que ensina e esse aprendizado ela procura levar para o filho e para as demais pessoas de seu convívio. "Tenho aprendido a cada dia que nem sempre uma pessoa que está na rua escolheu aquilo para ela, por isso, ela não precisa de esmola, precisa de alguém que mostre que ela pode ser mais do que aquilo. Digo sempre ao meu filho que ele tem pai, tem mãe, tem atenção, cuidado, mas, tem gente que nunca soube o que é isso. Tem pessoas que viverão a vida toda sem saber o que é o amor, o que é uma demonstração de carinho. Tem pessoas que viveram um grande sofrimento e, infelizmente, passam a ter atitudes violentas porque nunca foi ensinado para ela o que é o bom, o que é o certo, o que é o correto. Na minha trajetória, eu aprendi que posso fazer alguma coisa para mudar isso e, a cada dia de trabalho, eu vejo pessoas capazes de sair de uma condição de tristeza e sofrimento em direção a um caminho se superação. Eu não veria sentido se não pudesse ajudar pessoas. Não adianta eu ter tudo e a pessoa ao meu lado ter nada", ressaltou a assistente social.

O respeito como ferramenta de trabalho

Foi na arte de fotografar que Edinah Mary reforçou o aprendizado de que é preciso respeitar o espaço do outro. Servidora da Prefeitura de Aracaju há 37 anos, ele veio para Aracaju com o intuito de cursar a faculdade e acabou encontrando o que daria sentido à sua vida. "Se eu não fosse fotógrafa, seria a câmera de tanto amor que tenho pela fotografia e pelo tanto que ela me ensinou", afirmou.

Pessoa de sorriso fácil e de olhar expressivo, Edinah atua na Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) e foi registrando eventos culturais que ela enriqueceu seus experiências e modificou o seu olhar humano para os encontros da vida. "A fotografia sempre vai ser um aprendizado, a gente nunca sabe nada da fotografia. Cada coisa que ela te proporciona, também a questão de aguçar o seu olhar, ter a sensibilidade de ver o quão sensíveis são as pessoas que, inclusive, muitas vezes não gostam de sair em foto. Eu já ouvi de algumas pessoas que não sabiam sorrir. Como uma pessoa não consegue sorrir? Isso é muito triste porque a gente busca o que de tão sofrido aconteceu com aquela vida para a pessoa não ter tido inspiração para sorrir. E, com essa troca, a gente acaba se transformando. A cada nova experiência, tento me tornar um pouco melhor para as pessoas que estão ao meu redor", ressaltou.

No desafio de capturar momentos, Edinah pode compreender o sentido de espaço e respeito, significados que leva para os demais aspectos de sua vida e a faz ser exemplo em seu ambiente de trabalho. "Aprendi nesse tempo que a gente tem que ter muito cuidado quando for fotografar o outro. A alma do outro nem sempre está disponível, e a gente precisa ouvir isso. Antes de fotografar alguém você precisa pedir licença. É um respeito que você tem pelo outro. Eu já fiz fotos que até renderia prêmios, mas para quê expor? Para lidar com o outro você precisa transformar. Eu aprendi muito sobre respeito e só agradeço. Eu vivo a minha vida inteira agradecendo", considerou.

Do clichê "gentileza gera gentileza"

Com uma semana de casado, Júlio Menezes foi convocado para assumir o cargo no qual havia passado num concurso da Prefeitura. Nascido e criado na cidade do Rio de Janeiro, ele começou a construir sua trajetória em Aracaju em 2011, no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Primavera. Antes disso, ele atuou como assistente social durante sete anos em um hospital federal na capital fluminense, experiência que lhe rendeu histórias para guardar na memória e trazer para sua nova rotina em Sergipe.

Para Júlio, o assistente social tem como uma das funções trabalhar para assegurar os direitos fundamentais do cidadão e, nessa jornada, encontrou o dom da gentileza. Hoje, pelo seu bom desempenho, acabou sendo chamado para atuar ao lado da secretária municipal da Educação. "O Serviço Social me trouxe uma visão mais crítica das coisas e os encontros que eu tive ao longo da minha formação, desde lá de 1999, só fortaleceram que a gente tem que lutar por uma sociedade mais igualitária. Lembro muito bem que, antes de fazer vestibular, eu tinha uma visão muito ofuscada do que estava para além do meu mundo, para além da minha vida familiar, e eu tive a sorte de não ter tido privação nenhuma, então, era tudo muito tranquilo. Quando eu entrei no Serviço Social e saí da faculdade, e comecei a experimentar os trabalhos, tive contato com uma realidade diferente, e ver que não é só aquilo. A gente percebe que precisa sair da caixinha e fazer o máximo. Hoje, no meu trabalho dentro do gabinete, recebo todo tipo de gente, mas, aprendi que todas precisam ser olhadas com generosidade. Eu me esforço para atender o outro da forma como eu gostaria de ser atendido, de tratar o outro da forma como eu gostaria de ser tratado, independente da posição que a pessoa ocupa ou da minha", afirmou.

É com exemplos de esperança, generosidade, respeito e gentileza que o significado de servidor público ganha outra interpretação e sentido e é baseada nessas histórias que a gestão visa uma cidade mais inteligente, humana e criativa.


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