Prefeitura desenvolve ações de conscientização e combate ao trabalho infantil

Agência Aracaju de Notícias
20/05/2022 15h56

Incutida no senso comum, a máxima “o trabalho dignifica o homem” foi levantada, ao longo dos anos, como uma bandeira, inclusive para fomentar a ideia de responsabilidade e compromisso. No entanto, quando se trata de crianças e adolescentes, essa máxima, sendo efetivada, pode ser tipificada como uma violação de direito. E é dentro desta perspectiva que a Prefeitura de Aracaju, por intermédio da Secretaria Municipal da Assistência Social, atua na conscientização a respeito do tema, bem como, e principalmente, na prevenção e combate ao trabalho infantil.

De maneira objetiva, se caracteriza como trabalho infantil toda atividade econômica ou de sobrevivência realizada por criança ou adolescente com idade inferior a 16 anos, com exceção da condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, desde que não prejudique o desenvolvimento físico, social, psicológico ou moral. 
 
Na capital sergipana, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), disponibilizado pela Prefeitura nos 17 Centros de Referência da Assistência Social (Cras) de Aracaju para crianças e adolescentes com idades entre 0 a 17 anos, possui caráter proativo e preventivo. É um espaço para estimular a troca de experiências e fortalecer a participação familiar e comunitária por meio de atividades socioeducativas em formato lúdico.  

Com o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), também ofertado nos Cras, a gestão municipal busca fortalecer os vínculos de famílias em situação de risco e vulnerabilidade social, tendo como objetivo apoiar as famílias, prevenindo a ruptura de laços, promovendo o acesso a direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

“Na perspectiva de construção, no nosso trabalho social com famílias, precisamos fazer uma leitura muito mais ampliada, e nosso foco não é penalizar as famílias, considerando que, no processo formativo, por vezes, ela não reconhece essas atividades como violação de direitos, então, tentamos traçar estratégias de conscientização e diálogo porque dificilmente uma equipe técnica vai se sentir capaz de denunciar e penalizar”, pontua a gerente da Média Complexidade da Secretaria da Assistência Social de Aracaju, Vanessa Barreto.

Conscientização

Em novembro do ano passado, a Prefeitura, por meio das secretarias municipais da Comunicação (Secom) e da Assistência Social, lançou a campanha “Proteger a infância é transformar o futuro”. Dividida em duas fases, a campanha alerta a população sobre o trabalho infantil e apresenta as ações do Município no combate a essa problemática.

A ideia central da campanha tem como ponto de partida a transformação. Dentre os materiais utilizados para a campanha socioeducativa estão a divulgação de material informativo para TV, spot para rádio, outdoors em mobiliários urbanos, busdoors, mídia digital para sites, portais e redes sociais, ações de impacto em algumas avenidas da cidade, além de cartazes e folders para distribuição em ações.

As peças exploram o artifício da sobreposição de momentos, elencando a dura realidade do trabalho infantil e posteriormente destacando a leveza de ser criança e usufruir dos seus direitos fundamentais.
 
Trabalho infantil
De acordo com Vanessa Barreto, a legislação referente ao trabalho infantil foi uma conquista forjada ao longo dos anos, bem como a quebra de paradigmas relacionados à normalização da violação dos direitos desse grupo. 

“As crianças e adolescentes eram considerados pequenos adultos e, neste processo, a Organização Internacional do Trabalho [OIT], ligada à Organização das Nações Unidas [ONU], junto a frentes de proteção da criança e do adolescente, inclusive no próprio Brasil, foi consolidando, ao longo dos últimos 40 anos, várias legislações pertinentes para fazer discussões relacionadas ao trabalho infantil, ou seja, as leis são uma conquista pela garantia de direitos e, consequentemente, pela proteção do futuro desses indivíduos em formação”, assevera Vanessa. 

A gerente aponta, contudo, que o trabalho infantil tem destinatários específicos, “tem definição de raça e etnia", salienta. "Estatisticamente, atinge com maior incidência crianças e adolescentes negros, de classe baixa, em situações, muitas vezes, de extrema vulnerabilidade social e econômica”, completa Vanessa. 

Formas
Para tanto, são sensíveis e variados os tipos de atividades consideradas trabalho infantil: no trabalho nas ruas como ambulantes, flanelinhas ou limpando vidros de carros; em atividades perigosas ou insalubres, como na operação de máquinas, equipamentos pesados ou no manejo de substâncias químicas perigosas; em atividades ilícitas como no tráfico de drogas e na prostituição infantil; e no trabalho doméstico. 

“Quando falamos sobre trabalho doméstico, por vezes, há questionamentos. A criança e o adolescente podem executar atividades em casa, inclusive, no processo formativo é indispensável a participação destes no desenvolvimento de suas atividades diárias, até para que possam desenvolver potencialidades, habilidades e autonomia. O que combatemos é a substituição de responsabilidade, quando o adulto responsável por criança ou adolescente, seja por guarda ou por poder familiar, define que eles são responsáveis por atividades domésticas totalmente comprometedoras para o seu desenvolvimento. Dentro da casa, algumas crianças assumem responsabilidades típicas de adultos, seja tomando conta dos irmãos em tempo integral, comprometendo o seu acesso à escola, a atividades de cultura e de lazer, seja em atividades domésticas, nas mesmas condições, em tempo integral”, explica Vanessa. 

Impacto
Conforme a gerente, tudo o que está posto na legislação tem a ver com o que compromete o desenvolvimento físico, intelectual e emocional das crianças e adolescentes. Para tanto, os impactos são expressivos e alcançam toda a sociedade.

“Muitas vezes a criança e o adolescente estarão inseridos num contexto de exploração porque, numa construção relacional dentro do processo de trabalho, estão muito mais vulneráveis, é um ser em desenvolvimento que não consegue trazer argumentos eficazes para a defesa dos seus direitos e das suas garantias”, enfatiza Vanessa.

Dentro desse cenário, os impactos podem ser físicos, já que algumas atividades atrapalham o processo de desenvolvimento, causando lesões, deformidades e ferimentos mais graves; psicológicos, pois, a depender da carga de trabalho imposta pode trazer uma série de responsabilidades que interferem no emocional, colocando em risco de estresse e desgaste mental; e educacional, já que a criança que trabalha pode apresentar dificuldades em aprender, o que compromete a formação intelectual e contribui para a evasão escolar. 

“Num sentido mais amplo, gera impactos diretamente na economia, quando vemos, por exemplo, o próprio IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]. Para que a sociedade possa se desenvolver bem, precisa de pessoas capacitadas, consequentemente, capazes de produzir desenvolvimento. Quando a criança e o adolescente ficam expostos ao trabalho, sua formação fica comprometida, o que reverbera no contexto social mais amplo”, frisa Vanessa. 

Denúncias
A população pode e deve contribuir no combate ao trabalho infantil, através do Disque 100 ou 180;  DAGV (Departamento de atendimento a grupos vulneráveis) pelo número (79) 3205-9405; ou buscando o Conselho Tutelar de um dos seis distritos de Aracaju.